Capítulo 3
Dante Voyaller
Observo as pessoas que passeiam no jardim da minha casa enquanto saboreio o gosto amargo do whisky que desliza pela minha boca. Adoro o gosto forte e amadeirado que queima minha garganta.
Entre um gole e outro observo a variedade de pessoas falsas que existe no mundo, ou melhor dizendo, no meu jardim. Vários empresários, vereadores e mafiosos conversando entre si.
Suspiro semicerrando os olhos e imagino como seria prazeroso acertar a cabeça de cada um com minhas Taurus gêmeas. Passo a mão pelas minhas armas que estão presas em minha cintura.
Odeio cada pessoa presente nesta festa, mas negócios são negócios, amizade a parte. Se eles querem fazer parte do meu jogo então deixem que dancem nas minhas mãos.
Balanço levemente o copo de whisky vendo o líquido âmbar girar.
Aprendi da pior maneira que nada mudaria o fato de ser o que sou hoje... Chefe da máfia Italiana.
Tornei-me uma pessoa fria e sem sentimentos, ver corpos ensanguentados estirados no chão preenche o mais profundo do meu ser, mas nada apaga o que fiz anos atrás. Não importa quantas pessoas eu mate ou quantos torture, nada muda aquela noite.
Eu matei a única mulher que amei em toda a minha vida. Por mais que tenha tentado protegê-la, falhei, e com minhas próprias mãos a matei. Confesso que junto com ela se foi o único pedaço ainda humano que restou dentro de mim.
Para todos sou um monstro, a casca de homem vazio, sem coração, sem sentimentos, sem alma e com honra faço jus a todos esses adjetivos. Nenhuma dessas pessoas entenderia o que passei no tratamento de fogo de Donatel Voyaller — o homem que chamo de pai —, para que pudesse fazer parte da máfia aos 17 anos.
Não foi algo agradável, mas escolhas era uma opção inexistente. Nesta casa fomos criados de uma maneira diferente, ou faz e segue o que lhe é mandado ou simplesmente pague com seu corpo as suas desobediências.
E sendo sincero, nunca fui um homem que aceitou receber ordens, por isso levo marcas encobertas por tatuagens até hoje. Essas marcas provam que em um passado existiu alguém pior do que eu, mas hoje não há ninguém que possa me vencer dentro deste país, e esse fato eu tenho que agradecer ao infeliz que chamo de pai. Foi ele que me enfiou nesse mundo de podridão, mas pelo menos fez seu trabalho bem feito.
Nada muda o ódio que sinto por ele e a única vontade que tenho é matá-lo com minhas próprias mãos. Ele deu um significado para minha vida depois o arrancou da pior maneira.
Coloco o copo vazio sobre a mesa e pego um charuto cubano de dentro da pequena caixa, o acendendo. Trago fortemente e deixo a fumaça invadir meus pulmões enquanto o fogo consome lentamente o papel.
Solto a fumaça em um longo e pesado suspiro quando uma cabeleira vermelha desconhecida chama minha atenção do lado de fora.
Aqueles cabelos ruivos esvoaçantes andam elegantemente sobre o jardim da minha mansão. Fixo o meu olhar em seus movimentos observando-a caminhar entre os convidados como se fizesse parte daquele mundo.
Ela com toda certeza não foi convidada e a cor dos seus cabelos me irrita profundamente.
Trago meu charuto lentamente observando cada passo da pequena intrusa. Donzel a observa de longe com um sorriso malicioso nos lábios, semicerro os olhos o analisando, aquele velho mal caráter.
Donzel é o chefe da máfia ucraniana e está de passagem pela Itália justamente para marcar presença na minha festa, que tem como objetivo reunir todos os contratantes e aliados dos Voyaller.
Não gosto de Donzel, ele se acha o melhor de todos e faz questão de marcar presença por todos os lugares que passa, simplesmente poderia mandar algum de seus filhos, mas gosta de se mostrar o poderoso e incansável chefão.
Não tenho medo dele, nós dois somos fortes o suficiente para saber que se iniciarmos uma guerra um dos dois morre. Então, preferimos manter a paz já que prezamos por nossas vidas, entretanto, ele sempre está procurando uma maneira de me tirar do sério.
Nunca vi Donzel tão animado com uma mulher e isso me irrita. Qual envolvimento dos dois? Me pergunto, e a curiosidade cresce dentro de mim.
Vejo que ela foi bem treinada, pois observa todos os pontos principais do local e faz questão de localizar todos os meus soldados, mas seu corpo tenso indica que teme ser descoberta.
— Hora de descer e iniciar o meu show — digo para mim mesmo dando mais um forte trago no meu charuto, o apagando no cinzeiro que fica sobre a mesa do meu escritório.
Passo pelos corredores da mansão e entro pelos fundos descendo as escadas que levam a cozinha.
Assim que coloco meus pés para fora sou recebido por várias mulheres e homens que se aglomeram ao meu redor. Por um momento a perco de vista, mas assim que caminho nossos olhos se encontram e o choque que recebo é absurdo.
Meus olhos ficam fixos nos dela e meu corpo por um momento não reage. Aqueles olhos e aqueles cabelos. Por que tão parecida com ela? Isso me irrita mais do que deveria.
É como se Eva estivesse bem a minha frente e isso me deixa completamente desestabilizado.
Meus pensamentos são quebrados quando a filha mais velha de Yule chama a minha atenção, ela está linda em um vestido azul turquesa que combina com sua pele clara. Bridget, tenta de todas as maneiras chamar minha atenção, mas nunca quis nada com ela.
Acredito que ninguém em sã consciência queira, já que é praticamente uma puta de aluguel, mas ela insiste em se jogar nos meus braços e aparecer quase nua na porta da minha casa, não se importando que eu a rejeite constantemente.
Agradeço por seu pai raramente vir a Itália, mas quando vem é uma fatídica semana de perseguição e rejeição. Bridget, faz questão de me atormentar e isso me irrita.
Quando vou procurar minha presa novamente não consigo achá-la, caminho até alguns empresários que estão logo à frente e começo a conversar amenidades com eles. Até que um deles entram no assunto das empresas Voyaller, o que me deixa entretido por alguns minutos e finalmente a vejo caminhar em lados opostos ao meu. O que me faz rir.
Quanta falta de educação, invade a minha festa e nem mesmo cumprimenta o anfitrião, pequena rebelde.
Ela tenta se afastar de todas as maneiras, não importa o quão perto eu tente chegar, ela simplesmente corre. Vejo três dos meus seguranças a cercando e os três são tão indiscretos que tenho vontade de baleá-los aqui e agora. Bufo irritado, até mesmo ela percebeu a presença indiscreta dos meus homens o que não é para menos.
Apesar de atenta ela se mantém calma e alheia a tudo que se passa a sua volta distraindo os imbecis que chamo de segurança.
Já que tenho um bando de imprestáveis trabalhando para mim tenho que eu mesmo agir e neste momento arrependo-me de ter mandado Max, Jack e Royal em uma missão na Costa Amalfitana.
Eles cuidariam de tudo isso de olhos fechados, agora tenho que iniciar a festa assustando uma pequena intrusa, pois se quer algo bem feito, faça você mesmo.
Max, Jack e Royal são meus irmãos mais novos, digamos que nos damos bem quando não tentamos nos matar. Max e Royal são meus irmãos por parte de pai, já que ele resolveu trair minha mãe com uma de suas empregadas que engravidou de gêmeos. Jack é o mais novo e temos a mesma mãe, mas ele não chegou a conhecê-la, pois ela morreu ao dar à luz.
Volto minha atenção para ela que se distraí por um momento. Saco minhas armas do coldre, pronto para oficializar o início da festa com três tiros para cima que representa os números da máfia Voyaller, mas antes faço questão de apontar as duas armas em sua direção.
Quando seus olhos se voltam para mim, a expressão de horror e repulsa explícita me surpreende. Seu corpo fica tenso, enquanto semicerro os olhos a observando.
Sem demora ergo uma das armas para o céu a disparando três vezes. O som alto reverbera por todo o espaço fazendo com que ela feche os olhos assustada. As reações de seu corpo me colocam em alerta. Ela pode ser uma espiã ou uma repórter a fim de desvendar meus negócios.
Seus olhos assustados se desviam dos meus observando a saída pronta para se retirar.
A não, você não irá embora tão rápido, não antes de conversarmos pessoalmente. Ignoro as pessoas a minha volta e apertando a escuta que fica presa em meu pulso.
— Encurralem a moça ruiva e levem para o meu quarto. Usem a força se necessário, mas não a machuquem — ordeno rapidamente.
Seus passos rápidos em direção a porta indicam que ela percebeu os dez homens que a cercam e com rapidez ela segue para onde eu quero.
Com dificuldade e certa rapidez me esquivo das pessoas a minha volta a fim de me encontrar a minha mais nova convidada. Subo as escadas laterais e sinto meu coração pulsar em ansiedade para colocar as mãos naquela mulher.
Ela realmente não deveria ter invadido minha casa.
Passo no andar de cima e a observo lutar. Ela não nota minha presença, mas seus movimentos são incríveis e digno de uma profissional. Essa mulher seria colocada na elite se viesse para o meu mundo, mas não quero envolvê-la em tais negócios.
Pego-me à observando mais do que deveria e me surpreendo quando ela derruba a maioria dos meus homens sem muita dificuldade. Movimentos leves e graciosos. Parece dançar enquanto acerta cada golpe com precisão, rapidez e agilidade.
Eu com certeza a quero e esse sentimento me assusta.
Ela não é Eva Becker. Minha mente traiçoeira me traz de volta a realidade e antes que ela me veja aqui em cima sigo para o último quarto do corredor, mas antes faço questão de trancar os demais quartos para que não corra o risco de vê-la fugir debaixo do meu nariz.
O que seria impossível, pois se fosse necessário mandaria atirar para matar, mas antes disso preciso conversar com essa mulher que consegue me desequilibrar e me desestabilizar com seus cabelos vermelhos e olhos castanhos esverdeados.
Fico ao lado da cama esperando a pequena presa. Isso será incrivelmente interessante, estou irritado com essa invasão, mas vê-la lutar daquela maneira me instiga em conhecê-la melhor.
Um estranho sentimento cresce em meu peito. Um forte desejo de tortura. Sei que isso pode ser estranho, mas o fato dessa jovem se parecer com minha Ivi, me intriga, irrita e me tira completamente do sério. Por esses motivos quero vê-la sofrer.
Ivi é a minha perdição, minha destruição, jamais vou esquecer aqueles cabelos cor de fogo correndo pelo jardim enquanto me desafiava. O que me motivava a continuar vivendo dia após dia era protegê-la e mantê-la em meus braços.
Sinto um tremor percorrer meu corpo ao lembrar dos seus olhos castanhos esverdeados cheios de amor e ternura. Um vazio cresce dentro do meu peito e se instala em meu coração quando lembro a decepção que aqueles olhos me encaravam no dia da sua morte. Jamais me esquecerei da dor de vê-la gritando meu nome ao me ver puxando o gatilho.
Eu tentei salvá-la, juro que tentei, mas tudo o que fiz não foi o suficiente.
Fecho os punhos ao ver a porta do quarto se abrir e rapidamente fechar. Ela tranca a porta suspirando aliviada, está tudo escuro, mas posso ouvir sua respiração acelerada e ofegante.
Procuro ficar em silêncio esperando que ela caminhe pelo quarto e como imaginei seu corpo pequeno se choca contra o meu, sua cabeça bate em meu peito fazendo que com que ela dê um passo para trás.
— Aí — balbucia irritada.
Sinto suas mãos sobre meu corpo, seus dedos se enroscam delicadamente na lapela do meu terno e antes que ela possa se afastar acendo as luzes e agarro seus punhos a impedindo de se mover.
— O que quer na minha mansão? — pergunto irritado.
Depois de alguns segundos finalmente consigo focar meus olhos nos dela e o choque que tenho me deixa paralisado. Aqueles olhos, aqueles olhos não podem ser reais. Por que tão igual a minha Ivi?
— Dan. — Ao escutar aquele apelido todo o meu corpo se tensiona, meu coração acelera e mesmo que eu a queira encher de perguntas simplesmente não consigo, pois, meu corpo não obedece aos meus comandos.
Seus cabelos, seus olhos, seu cheiro, tudo nessa jovem me lembra quem eu mais quero esquecer. Aquele delicioso e suave cheiro cítrico invade meus sentidos me deixando em choque.
Não costumo ser gentil com mulheres que tentam invadir meus negócios em busca de informações desnecessárias, mas com essa jovem não consigo reagir, eu apenas quero protegê-la e mantê-la perto de mim. Não posso perder Ivi novamente, não posso deixar que ela desapareça mais uma vez.
O impacto que recebo é tão grande que acabo por aproximar meu rosto dos seus cabelos inspirando seu cheiro profundamente. Aquele cheiro me faz reviver momentos dos quais custo a esquecer todos os dias da minha vida.
A minha doce e meiga menina está morta.
— Ivi — sussurro soltando seus braços puxando seu corpo pequeno corpo contra meu peito a abraçando fortemente.
Envolvo minhas mãos em seus cabelos deixando seu corpo contra o meu. Sua presença me traz lembranças dolorosas.
O aperto em meu peito triplica e a vontade de abraçá-la me consome. Eu daria tudo para tê-la em meus braços novamente.
Imóvel e tensa a mesma não esboça nenhuma reação, pois assim como eu está paralisada e em choque.
Estava tão atordoado que nem mesmo percebo o seu ataque repentino e quando vejo seu punho vem em direção ao meu rosto e por puro reflexo consigo desviar, ainda assim, posso sentir a ardência do golpe mal concluído, porém certeiro que atinge minha bochecha de raspão.
Mesmo estando atordoado pelos pensamentos que me assolam, sou levado ao meu passado conturbado, meus reflexos e a experiência que ganhei em anos de treinamento se colocam em prova e quando percebo já segurei seu punho com uma força exagerada fazendo com que ela solte o punhal.
A ardência em minha bochecha me traz de volta a realidade aos poucos me tirando do meu estado de choque, delírio e desespero. Quando penso em travar seus braços para finalmente imobilizá-la, ela chuta meu peito fazendo com que eu caia sobre a cômoda atrás de mim. Meus perfumes e tudo que há em cima cai no chão com o impacto. Em um movimento gracioso ela consegue manter o equilíbrio de seu corpo correndo em direção a janela.
Não querida, você não escapará tão facilmente. Passo a mão pela cômoda e encontro um vidro de perfume que se manteve em pé e sem pensar duas vezes jogo em sua direção acertando sua cabeça.
Seus olhos refletem todo o ódio que ela sente e mesmo tendo a oportunidade de continuar ela devolve o ataque lançando em minha direção um cinzeiro que desvio sem muita dificuldade, entretanto não esperava o relógio que vem logo em seguida acertando minha testa em cheio.
— Vadia. — Coloco a mão na testa e a vejo correr mais uma vez.
Não mesmo querida. Antes que ela consiga pular a janela, salto em sua direção segurando seu pé fazendo com que ela caia junto comigo. Sem perder tempo puxo seu corpo em direção ao meu a fim de imobilizá-la, mas a sua rebeldia e ousadia se colocam a prova e quando vejo sou atingido por várias cotoveladas das quais ela desfere sem piedade me deixando atordoado.
Ignorando a dor e as marcas roxeadas que aquilo me deixará, finalmente consigo prender seus braços e suas pernas com meu corpo. Não quero machucá-la, mas é impossível quando ela não para quieta.
— Fica quieta. — Aperto seus pulsos, prendendo-os no chão.
— Me obrigue! — Fecho os olhos ao ser atingido por uma cabeçada no mesmo local que o relógio havia atingido. Minha vontade é levar as duas mãos a testa, pois a dor nesse local é maior do que em qualquer outro golpe que recebi vindo dela, porém se ameaçasse soltá-la por um momento ela irá fugir e eu não permitirei isso.
Antes que ela consiga pensar em qualquer outro golpe devolvo a cabeçada com um nível de força maior por estar em cima e ela geme de dor desconcertada.
Aproveito seu estado de delírio momentâneo para virá-la de costas imobilizando qualquer movimento de seu corpo. Coloco brutalmente seus braços atrás de suas costas chegando ao limite de sua articulação. Qualquer movimento em falso levará a um deslocamento nada confortável.
— Acreditei que fosse algum tipo de repórter em busca de informações para suas revistas de fofocas, mas vejo que foi muito bem treinada. — Respiro profundamente querendo respostas, mas ganho apenas o seu silêncio.
Ela é teimosa e não tem medo de lutar pelo que quer. Será uma grande perda ter que matá-la quando descobrir quem está por trás de tudo isso.
— Para quem você trabalha e porque está nas minhas terras? — torno a perguntar.
A irritação em minha voz é perceptível, odeio que me questionem, desafiem e não respondam minhas perguntas e é exatamente isso que ela faz, parece adivinhar o que me tira do sério.
— Quem? — Forço ainda mais seu braço.
— Eu não trabalho para ninguém. Queria apenas conhecê-lo pessoalmente já que pretendo entrar para máfia italiana. — Fico surpreso ao ouvi-la citar a máfia 371 e a possível ideia de tê-la entre meus homens da elite realmente me agrada, mas não quero alguém tão parecida com Ivi envolvida em assuntos tão complexos.
— Qual é o seu envolvimento com Golodiev? — Tento manter a calma e o tom da minha voz se ameniza.
— Por que tantas perguntas? Eu sei que você pesquisará tudo sobre mim e terá todas as respostas, então vamos lá, sou Dana Trion e quero entrar para máfia 371. Você sabe que coloquei vários dos homens seus para dormir, eles são tão fracos — diz desdenhosa.
Sua língua afiada me irrita, essa mulher só me trará dor de cabeça. Ela é esperta e sabe muito mais do que eu gostaria que soubesse.
O que me intriga é porque uma Trion me procuraria? Robert Trion não esconde o ódio que sente por mim e sempre evitou qualquer contato com a minha família. Sinceramente não entendo todo o ódio que emana dessa família contra nós, nunca fizemos nada para ele, mas isso pouco me importa.
Na verdade, nunca me interessei em pesquisar sobre a vida de um Trion. Nem mesmo sabia que Robert tinha uma irmã. A única coisa que sei é que ele comprou as empresas Becker quando tudo aconteceu e agora serei obrigado a aprofundar minhas pesquisas sobre algo que não me chama nem um pouco a atenção... A vida e passado dos Trion agora.
— Qual é o seu envolvimento com Golodiev? — torno a perguntar ignorando as suas palavras, pois não estou a fim de falar sobre sua família no momento.
— Nem mesmo sei quem é este. — Noto a sinceridade em suas palavras.
— O senhor que conversou com você na festa. Tem certeza que não o conhece? Ele parecia realmente animado e interessado em você.
— Aquele senhor estranho — suspira. — Não tenho envolvimentos com ele, sou apenas uma mulher que deseja vingança.
Aquelas palavras me chamam a atenção. Vingança? Por qual motivo alguém como ela procuraria vingança?
— Por que um Trion, trocaria a vida de luxo por mera vingança? Sabe que se entrar onde pretende não terá volta. — Afrouxo o aperto em seu braço.
— Quero vingar a morte dos meus pais, todos dizem que foi um acidente de carro, mas eu sei que é mentira. Eles foram assassinados e somente aqui conseguirei as informações que preciso. — A dor é explícita através de suas palavras e noto que aquele assunto realmente mexe com seus sentimentos.
Permaneço em silêncio por longos segundos deixando minha mente vagar no que seria certo ou errado fazer com aquela jovem, mas a verdade é que estou em um dilema entre sua aparência intrigante e o fato dela saber sobre o que não deveria.
— Será que poderia sair de cima de mim, eu não vou te atacar novamente. — Sua voz quebra meus pensamentos.
Respiro profundamente ponderando se deveria ou não a soltar, mas sei que depois da nossa conversa ela não será imprudente, então solto seus pulsos me levantando.
— A verdade é que a partir do momento em que você colocou os pés nesta mansão sem ser chamada não sairá mais daqui. Todos os que sabem sobre a máfia moram nestas localidades. E para alguém do seu tamanho você sabe mais do que deveria, então pare de colocar o seu nariz onde não foi chamada, pois te renderá um confinamento particular nesta casa. — Suspiro desgostoso. — Eu não te aceito como membro da máfia 371 e muito menos confio em você, mas não posso negar que é forte e muito bem treinada, inexperiente, mas forte. — Vejo o choque e a indignação em seu semblante.
Ela é interessante e faz com que eu queira descobrir mais sobre sua vida, afinal não posso deixá-la escapar tão facilmente. Tenho que mantê-la presa em um lugar que possa vigiá-la. Ela sabe demais sobre a máfia e não vou permitir alguém com tantas informações solta por aí. Não posso correr o risco de denegrir a imagem e reputação do empresário honesto e dedicado que custei a construir.
— Quer dizer que ficarei trancada aqui? — pergunta perplexa.
— Exatamente. — Cruzo os braços sobre o peito. — Ficarei de olho em você. A partir de agora você trabalha para mim. Eu mando e você obedece. Você ficará na mesma casa que eu e não sairá sem a minha permissão, posso pensar em treiná-la já que você é boa o suficiente para isso, mas por enquanto observarei as suas atitudes. — Respiro profundamente deixando claro todas as minhas regras e possíveis planos para o futuro.
Ela luta muito bem e mesmo derrubando alguns dos meus homens ela jamais derrubaria Jack, Max ou Royal. Com um pouco mais de treino para aperfeiçoar sua inexperiência em um campo de batalha sei que se tornará uma excelente assassina.
— Não vou ficar trancafiada na sua mansão somente porque você quer. — Bate o pé como se tivesse o direito de exigir algo.
— Não estou te dando opções, estou dizendo que será assim. Como você disse, eu pesquisarei tudo sobre a sua vida e depois te encherei de perguntas. Se por ventura você mentir eu te mato. É assim que será. Pensasse antes de invadir a minha festa, a minha casa e o meu mundo. — Perco a pouca paciência que ainda me restava.
Seus olhos se estreitam e me analisam flamejantes.
— Se por ventura eu enfiar a minha mão na sua cara aqui e agora o que você fará? — pergunta calmamente.
Sinto todo o meu sangue correr mais rápido por minhas veias ao ouvir aquelas palavras audaciosas.
Como ela pode ter a coragem de me desafiar dessa maneira?
Neste exato momento só penso em torturá-la lentamente por toda a sua falta de respeito e ousadia, mas procuro limitar meus castigos por ser uma mulher inocente sem envolvimento com qualquer meio que a levaria para uma morte direta.
— Você ficaria três dias trancada em um quarto sem comida, eu mando e você obedece, Srta. Trion. Eu sou o chefe e não ache que serei gentil por ser uma mulher. Não ouse me desrespeitar, pois os castigos que receberá não será agradav... — Antes mesmo que eu possa terminar a frase sinto sua mão pesada em contato com meu rosto fazendo o impacto gerar um som alto que reverbera pelo quarto.
Meu coração se acelera e travo fortemente o maxilar respirando profundamente para não machucá-la, mas a minha verdadeira vontade é amarrá-la em uma cadeira e deixar que jatos frios de água a torturem a cada minuto. Com uma força incompreensível procuro reprimir os meus desejos mantendo a calma que nem mesmo sabia existir dentro de mim.
