CAPÍTULO 5
MAICOM NARRANDO
- Gatinho, vai pegar uma bebida pra mim? - Ingrid pediu com a voz melosa dela.
Ela tá pensando que eu sou empregado?
- Tá, perai que eu tô indo, - me afastei deixando-a sorridente, dançando animada a música eletrônica.
Eu não sei o que está acontecendo comigo, sempre me senti suficiente e completo com a minha vida: tenho um melhor amigo, sou de família influente, sou o herdeiro das corporações Montagnus, tenho boa aparência e namoro com uma moça que é apaixonada por mim. Eu tenho tudo o que um homem poderia desejar e isso sempre foi o suficiente pra mim... Mas depois que a Dandara me esculaxou daquela forma eu comecei a me sentir estranho, como se algo estivesse faltando pra eu poder me sentir satisfeito, isso me afetou muito porque eu nunca havia sido tratado assim antes... É fácil eu me sentir bem quando todos me tratam como se eu fosse o mais interessante e especial, né? Agora estando do outro lado eu só quero saber de descobrir o que eu fiz pra aquela garota que ela pensa isso tudo de mim, eu não fui rude com ela em nenhum momento, não falei errado com ela pelas mensagens, fui o mais educado possível. Enfim, dane-se, preciso focar em me lembrar que eu já tenho tudo o que um homem precisa.
Tudo menos ela.
Arg.
Pego um copo de vodca com alguma coisa e viro garganta abaixo, a última vez que bebi tão rápido assim eu havia brigado com a minha mãe, ainda me lembro como se fosse hoje ela me chingando e me ofendendo de todas as formas possíveis porque eu não apareci em um jantar de negócios entre famílias porque eu estava perdido por aí com o David, certamente perseguindo garotas. Eu, particularmente, sempre preferi conquistar à ser conquistado, infelizmente não foi assim quando eu conheci Ingrid, mas tudo bem, eu estava satisfeito com ela, até agora.
- Quero mais um, - falei ao barman.
Eu sei que eu deveria levar a bebida pra Ingrid, mas a verdade é que eu estou precisando de um tempo sozinho e sei que nada melhor do que o álcool para nos obrigar a sorrir.
Em poucos minutos eu enchi a cara e agora já me sinto bem melhor, na verdade eu nem me lembro do motivo que eu não estava bem, enfim, vou lá dar um agrado para a minha namorada.
Caminhei dançado entre as pessoas que sorriam para mim como se eu fosse o prefeito da cidade.
- Ingrid, - falei em seu ouvido, pelas costas enquanto ela ainda está dançando.
Ela se virou para mim agitada.
- Gatinho!? Onde está a minha bebida?
- Eu estava trazendo, mas aí eu tomei tudo, e isso aconteceu várias vezes.
- Maicom!? Ah, agora vai ter que ralar muito pra se redimir.
- Posso começar por aqui? - dei-lhe um selinho na bochecha.
- Isso não é nada, vai ter que fazer melhor.
- Que tal isso? - puxei-a pela cintura com ferocidade, trazendo o seu corpo até o meu e comecei a beijar o seu pescoço.
- Isso, desse jeito que eu gosto - murmurou no meu ouvido.
Tudo estava se encaixando perfeitamente até que a minha frustração começou, foi quando à alguns metros eu avistei a diaba louca que tirou a minha paz desde aquela ligação. Interrompi os amassos na Ingrid e fiquei só dançando, à todo momento os meus olhos não conseguiam se desviar da figura esbelta e deslumbrante que eu levaria para deixar como decoração no meu quarto, nunca vi algo tão lindo quanto essa maldita garota.
Ela está com um vestido justo que revela perfeitamente todas as curvas do seu corpo, eu dirijo muito bem, mas ali eu iria me perder e bater de cara nos faróis.
Repreendo-me por estar pensando essas coisas com outra pessoa quando estou dançando com a minha namorada. Que tipo de homem eu sou? Meu pai sempre me instruiu a ser um exemplo de honestidade e caráter...
Claro que eu penso em outras mulheres, mas dessa vez é diferente. Dessa vez não é só um desejo... É a merda de um sentimento...
- O que aconteceu, Maicom?
- Vamos tomar alguma coisa? - sugeri, a minha intenção é passar bem na frente da Dandara para ela ver que é só ela que me acha esquisito e que não quer me beijar.
- Boa ideia, eu quero ficar louca hoje, tenho uns planos que envolve nós dois bem animadinhos - sorriu sedutora e mordeu os lábios.
Arrastei a Ingrid na direção da Dandara à todo momento observando-a de soslaio para ver se está olhando para nós. E, não. Ela parece não estar olhando pra ninguém. Me pergunto o que ela está fazendo aqui, já que não parece estar se divertindo.
Estamos prestes a passar lado à lado da Dandara, aproveito para tentar chamar a sua atenção:
- Eu estou ansioso para estar à sós com você também, minha linda - falei em tom alto e claro, com o canto dos olhos eu vi que consegui o que eu queria, a Dandara nos viu, não, melhor, ela me ouviu.
Fingi não prestar a atenção, mas encostado no balcão com a Ingrid encostada no meu peito eu analisei perfeitamente o comportamento da Dandara desde que nos viu e me sinto vivo e feliz quando me dei conta de que ela ficou transtornada.
Eu estava certo, afinal. Ela não me odeia, ela só odeia o fato de não poder me ter, porque eu estou indisponível...
Merda. Esse é o problema, ela só está agindo dessa forma porque sabe que não teria chance comigo.
É isso. Só pode ser isso.
- Está tudo bem, amor? - Ingrid perguntou olhando para a minha cara.
Mas no momento a minha atenção não sai da garota me encarando com uma expressão de raiva.
Como eu gostaria de por um sorriso lindo ali direcionado à mim, deve ser uma onda muito boa.
- Na verdade, eu preciso de um tempo, Ingrid, - falei afastando-a de mim pelos ombros.
- Quer descansar? Você bebeu muito mesmo, gatinho, mas não pense que vai fugir das suas obrigações comigo, viu? Eu estou com muitas expectativas pra hoje.
- Você não entendeu, eu preciso terminar tudo, não está dando certo - falei olhando para a Dandara que também olhava pra mim.
- O que? Ah, é uma piada? Se for, parabéns, é muito engraçada.
- Tchau, Ingrid - virei o copo e o coloquei com força no balcão, mas foi sem intenção nenhuma.
Eu estou me sentindo bastante corajoso e com uma necessidade de fazer o que me faz bem. Danem-se as consequências, dane-se o que as pessoas pensam. Só importa o que eu quero.
- Nossa, você bebeu muito mesmo, eu não deveria deixá-lo sozinho.
- Está tudo acabado entre nós, pode ir viver a sua vida que eu vivo a minha, - falei e comecei a caminhar na direção da Dandara.
DANDARA NARRANDO
Perfeito. A minha amiga me trouxe aqui pra nós nos divertirmos, mas na primeira oportunidade ela me largou sozinha. Estou decepcionada. Desde quando é tão demorado assim ir no banheiro?