Buscando por ele
Maria Íris - Sou sua guardiã Melissa, eu não pude intervir sobre o que te aconteceu e infelizmente temos que ir agora.
Melissa - Se você era meu anjo da guarda, fique com ele agora. Cuide do meu pai, só assim eu poderei ir em paz.
Maria Íris - Eu não posso ficar muito tempo entre os vivos. Eu só pude te observar de longe e algumas poucas vezes tentar te tirar dos perigos, mas desse infelizmente eu não consegui.
Melissa - Por favor eu imploro, fique aqui com ele!
Maria Íris leva Melissa até o outro lado, era cheio de belas flores e ali não existia dor ou medo, mas o coração dela ainda não tinha paz pelo que seu pai poderia sentir e ainda viria a enfrentar.
Maria Íris sabia que se Melissa não estivesse em plena paz, ela não teria cumprido sua missão. Resolveu falar com os seus superiores sobre a possibilidade de atravessar mais uma vez para o mundo dos vivos.
Maria Íris - Eu quero pedir permissão para atravessar, mais uma vez.
Diz Maria Íris aos espíritos superiores.
Principado - Sabe que existe um preço sempre que tenta intervir na vida deles.
Maria Íris - Sim, mas eu quero ajudar o pai dela.
Principado - Poderá ficar entre eles, porém quanto mais tempo permanecer lá mais se tornará igual e irá se afastando dos dons divinos. Está disposta a isso?
Maria Íris - Estou sim!
Principado - Dor, fome, ódio...perderia aos poucos suas capacidades extracorpóreas.
Maria Íris pensou se com tudo aquilo ainda valeria a pena ser humana, mas ela ficaria pouco tempo apenas até passar a ele o conforto e paz que precisava e logo poderia estar de volta ao seu lugar.
Principado - Certo!
Maria abriu os olhos exatamente onde o acidente havia acontecido, ela sentia chuva tocar de leve sua pele e isso era incrível, pois os anjos não tem essa capacidade de sentir.
Ou seja, bem aos poucos ela passava a se tornar humana.
Dionísio e Jussara já tinham sido levados dali, Maria Íris precisava chegar até eles de algum jeito.
Hugo - Moça volte para seu carro garota, vai ficar doente nessa chuva.
Diz um dos policiais se aproximando.
Maria Íris - Pode me levar para casa?
Hugo - E onde você mora?
Perguntou ele.
Maria Íris - Eu não sei...
O policial não podia deixar ela ali desnorteada no meio da estrada, ela usava um vestido branco longo e era muito bonita e quem sabe até poderiam fazer mal a ela.
Hugo - Vem comigo, vamos a delegacia e lá você me explica direitinho.
Ele a levou até a viatura e eles partiram para a delegacia, dentro do carro ela não dizia absolutamente nada. Parecia distante em seus pensamentos e olhava para fora como se a rua fosse algo novo para ela.
Chegando lá, ele deu uma coberta para Maria e um café quente. Maria Íris colocou aquela xícara bem rápido próximo aos lábios e sentiu pela primeira vez dor.
Maria Íris - Ai...
Hugo - Calma, você precisa assoprar primeiro para que esfrie e só depois levar a boca.
Diz o policial a ela, estranhando e muito aquela atitude.
Hugo - Qual é seu nome?
Maria Íris - Maria Íris.
Hugo - É um nome diferente, mas muito bonito. Você disse que queria ir para casa, mas não sabe mesmo onde fica?
Maria Íris - Eu vim cuidar do Dionísio, Melissa me pediu.
Hugo - Dionísio de que? E quem é Melissa?
Maria Íris - Eu não sei dizer, só sei que preciso encontrar ele e bem depressa.
Diz ela colocando a xícara sobre a mesa.
Hugo - Você disse Melissa, agora a noite em um acidente havia uma moça com esse nome. Eu me lembro bem por que pelas fotos era muito bonita, até se parecia um pouco com você.
Maria Íris - Sim é ela. Preciso ver ele, pode me levar até lá?
O policial ficou intrigado com tudo aquilo, quem seria essa garota? Mas tudo o que ele sabia que devia ajudá-la.
Hugo - Agora são 00:28, deve descansar e amanhã bem cedo eu te levo até a casa dele.
Maria Íris - Está bem.
Maria Íris ainda não tinha a necessidade de dormir e nem sequer podia saber o que um homem poderia querer com ela, mas ainda tinha a capacidade de sentir a energia de uma pessoa e sabia que podia confiar naquele homem.
Hugo - Minha casa fica aqui ao lado, vamos até lá?
Ela concordou com a cabeça, eles chegam e ele dá a ela roupas femininas.
Sua esposa estava viajando e nem sequer saberia disso, Maria ia agindo por instinto tomou um banho e se deitou...não dormiu pois não sabia ainda o que era cansaço e o homem dormiu no sofá.
Ela pensava em como seria aquele encontro com Dionísio, como ele iria reagir e como ela deveria agir e quais coisas deveria dizer. Eram muitas coisas para pensar ao mesmo tempo.
"Ele é minha missão neste lugar, dessa vez eu não posso falhar."
Amanhece e o policial Hugo consegue o endereço de Dionísio para levar a moça até lá, ainda que achasse ela muito confusa para isso. Ele passou a manhã procurando na internet até encontrar aquele endereço.
Hugo - Encontrei o endereço dele, mas você tem certeza de que é esse cara mesmo?
Maria Íris - Tenho sim moço, preciso chegar até ele.
Hugo - Então vamos.
Enquanto seguem de carro ele procura saber mais sobre ela, quem sabe entender o por que daquela busca tão ansiosa.
Hugo - Você é parente desse tal de Dionísio?
Maria Íris - Na verdade não.
Hugo - Então, por que insiste tanto em ir até a casa dele? Se é que eu posso saber.
Maria Íris - Eu te disse ontem, a Melissa me pediu!
Hugo - Mas se não me engano essa moça morreu ontem, no acidente foram quatro vítimas fatais. Seja o que for esse recado está chegando um pouco tarde demais.
Maria Íris - Eu só quero ficar com ele nesse momento triste!
Respondeu Maria olhando tudo pela janela estava encantada em ver assim tão de perto e durante o dia, as poucas vezes me que tentou intervir para ajudar Melissa pouco pode ver daquele novo mundo.
Hugo - Está bem, não vou insistir mais nesse assunto. Porém, acredito que ele deva estar envolvido com velório e essas coisas.
Alguns minutos depois eles chegam até aquela bela casa em região de classe média, o policial bate na porta e nada de alguém aparecer. Maria Íris olhava aquele lugar se lembrando de vagas memórias.
Hugo - Como eu disse, acho que perdeu sua viagem garota.
Maria Íris - Sei que precisa voltar para o seu trabalho, muito obrigada por me trazer até aqui.
Diz ela sorrindo para ele.
Hugo - Mas vai ficar aqui fora? Está muito frio, falaram no noticiário em até dois graus.
Maria Íris - Não se preocupe, eu vou ficar bem.
Responde ela, Hugo entrega a ela um cartão com seu telefone.
Hugo - Caso precise da polícia me procure.
Maria Íris - Obrigada!
Maria Íris ficou na porta da casa de Dionísio esperando por muitas horas sem se importar com os sacrifícios físicos que fazia, chovia e fazia muito frio e ela passava a sentir isso cada vez mais forte como qualquer pessoa normal.
Ficou encolhida em um banco de madeira daquela casa, vendo o vento agitar as plantas ao redor e sentindo pela primeira vez as sensações mais comuns. Alguém a olhava insistentemente através da persiana de casa, uma senhora se aproximou dela...
Antônia - Por que não espera por ele lá em casa, aqui está muito frio e pode ficar doente.
Maria Íris - Se eu sair daqui e Dionísio aparecer?
Antônia - Podemos ficar de olho aqui na porta e quando ele chegar você vem.
Maria Íris - Agradeço senhora, mas não posso arriscar.
Dona Antônia foi até a casa e pegou um cobertor, pelo menos assim seria menos doloroso esperar por ele. Voltou para sua casa de coração partido....
Antônia - Alô, senhor Dionísio?
Dionísio - Sim sou eu.
Antônia - Me desculpe ligar nesse momento, mas sou eu Antônia sua vizinha. É que tem uma mocinha deitada aqui no banco em frente a sua casa e está muito frio, estou preocupada com ela. Disse que quer falar com você e insiste em ficar esperando.
Dionísio - Dona Antônia estamos sepultando o corpo da minha filha nesse instante. Diga a essa garota que a última coisa que preciso é de um problema agora.
A voz dele estava chorosa e bem trêmula, estava velando um caixão fechado. As circunstâncias daquela morte jamais sairiam da mente e do coração dele.
Antônia - Sim eu sinto muito, mas é que pedi a ela para vir aqui para casa esperar por você, porém ela se recusa a sair de lá por que diz que tem medo de sair e vocês se desencontrarem.
Dionísio - Deus, já estamos no fim do enterro e em algumas horas estarei em casa. Tente convencer ela se puder e obrigada por avisar.
Dionísio sentiu um frio na barriga, quem será essa garota? Alguma amiga de sua filha que queria dizer algo importante sobre aquela noite?
Ele desligou com o coração ainda mais apertado e cheio de dúvidas sobre essa tal garota misteriosa.
Jussara - Amor eu nem sei como dizer isso, não poderei ficar contigo por que essa noite será minha viagem a Cuba e não consegui desmarcar o voo. Chegando em casa ainda terei que arrumar tudo para ir.
Diz Jussara abraçando ele e o olhando nos olhos, era terrível deixar o namorado naquela situação de luto.
Dionísio - Eu entendo, planejou essa viagem a muito tempo e é do seu trabalho, não pode perder. Vá e ficarei bem!
"Claro que eu não ficaria nada bem sem minha filha e ainda tendo que passar por tudo isso sozinho, mas seria muito egoísmo pedir que Jussara mudasse de planos por mim."
Jussara - De verdade?
Dionísio - Sim.
Diz ele, no fim do enterro de Melissa ele leva Jussara até a casa dela e antes de ir ela o abraça forte e choram juntos mais uma vez, antes dele entrar no carro e seguir rumo a sua casa. Nada que alguém pudesse dizer mudaria a dor que o acompanharia de agora em diante, nunca mais seria chamado de pai ou ouviria a voz da sua eterna garotinha.
Absolutamente nada poderia se igualar a tamanha dor, agora estava sem a esposa e sem a filha.