Resumo
A HISTÓRIA TRATA DE QUESTÕES DELICADAS, COMO DEPRESSÃO, TRANSTORNOS DE HUMOR, VIOLÊNCIA SEXUAL E SUICÍDIO. SOLICITE AJUDA SE VOCÊ PRECISA - Deixe-o ir, Javier", ela sussurrou atrás de mim. Eu me virei para encará-la e olhei sua figura de cima a baixo enquanto ela se aproximava de nós com uma lentidão desarmante. Eu poderia jurar que o tempo havia desacelerado naquele momento, porque ela se movia tão mecanicamente que parecia um autômato, tão sem emoção que parecia um fantasma, uma estátua sem vida, fria, mas ainda bonita. Soltei Richie e a observei olhar para ele, enquanto o garoto de olhos lacrimejantes não fazia nada além de pedir desculpas, implorar por perdão e repetir o quanto estava arrependido. Ele levantou a mão para tocar o rosto dela e, antes que eu pudesse socá-lo, Victoria se afastou e olhou para ele com um olhar de repulsa, a primeira emoção que pude ver em seu rosto naquele momento. - Não era para ser assim", ela sussurrou. - Não era para ser assim", ela repetiu mais uma vez. Ele se virou para me olhar com seus olhos azuis que eram tão bonitos quanto aterrorizantes naquele momento. - Sinto muito, Javier, sinto muito - Ele olhou para baixo e suspirou pesadamente enquanto andava para trás e encostava as costas na parede, depois deslizava para o chão e colocava a cabeça nas mãos.
Capítulo 1
- Javier – Ele sussurrou com a voz trêmula. Ela havia falado tão baixo que ele nem tinha certeza se a ouviu. - Pode me ouvir? – Ele perguntou ao ouvi-la soluçar.
Ajoelhei-me ali mesmo, exatamente no mesmo momento em que me senti tão alarmado. Comecei a sentir meu coração batendo nas veias, pude sentir meu coração batendo até os ouvidos e a respiração difícil me permitiu observar as nuvens que saíam dos meus lábios devido ao contraste entre o frio e o calor. - O que acontece? –
Eu a ouvi chorando do outro lado da linha. Eu nem tinha começado a falar de novo quando já tinha voado para o meu quarto me vestir para sair de casa, mesmo sendo duas da manhã. – Bem, não sei onde estou – disse ela em meio às lágrimas. – Está tudo tão confuso, meu pé dói, não consigo respirar, estou com frio e não sei onde estou, não entendo nada. –
- Me conte o que você vê - perguntei a ela, saindo do quarto e pegando as chaves do carro pronto para ir procurá-la.
- Nada - ele gemeu. - Não vejo nada. Está muito escuro – eu estava desesperado: imaginei ela apertando os cabelos com os punhos, se encolhendo e se abraçando sozinha naquele pesadelo.
- Você pode pelo menos saber se está dentro ou fora de um prédio? – Eu já estava no carro, pronto para sair e ligar para Carter para encontrá-la, só na esperança de conseguir mais pistas.
"Estou pensando lá fora", ele sussurrou, gemendo de dor. – Estou lá fora, claro, está muito frio – disse então. – Sinto a terra sob minhas pernas, e estou com frio, muito frio – Seus dentes batiam e ele chorava ao mesmo tempo. – E Javier – Ele chamou minha atenção novamente enquanto eu tentava descobrir onde ele poderia ter ido. Havia muitos parques em Stratford, a temperatura continuava a cair à noite, estávamos no meio do inverno e podia até chegar a vinte graus abaixo de zero. Isso significava que, se ele não a encontrasse logo, poderia morrer congelado, sofrendo de hipotermia. Imaginei-a fechando os olhos e se aquecendo com o calor das próprias lágrimas. Ele cheirou novamente e respirou fundo. – Acho que não estou sozinha… – ela sussurrou. – Por favor anda logo, estou com medo, estou com frio, meu pé dói, quero morrer, anda logo. –
- Vir. – respondi tentando acalmá-la.
Victoria desligou e eu tentei manter a calma para discar o número da minha melhor amiga e pedir ajuda. Assim que ele respondeu liguei o carro explicando-lhe a situação e segui em direção à sua casa, encontrando-o me esperando na porta ainda de pijama e com uma jaqueta grossa e um cobertor. Entrei no carro e segui em direção ao único parque tão grande que qualquer pessoa poderia se perder nele, principalmente à noite.
"Devíamos chamar a polícia", exclamou Carter, quebrando o silêncio e mexendo os cabelos enquanto, como eu, tremia.
- E por que deveríamos fazer isso? – perguntei, dando uma olhada rápida nele e estacionando o carro todo torto e completamente ao acaso.
- Porque esta noite a temperatura vai cair para vinte graus abaixo de zero. Se dois de nós demorassemos duas horas para encontrá-lo, mais pessoas levariam uma, ou até meia hora. O pai de Katherine é o chefe de polícia, ligue para ele. – Ele explicou, se enrolando e saindo do carro, jogando o cobertor em mim.
- Não tenho tempo a perder, ligue para ele se quiser, começarei a procurá-la. – respondi tremendo. Tive calafrios e uma sensação louca de náusea, a causa certamente não foi o resfriado. A ausência dela, a distância que me separava dela, o fato de eu não saber onde ela estava e que ela estava em perigo nublaram minha vida. Meu coração batia forte em meus ouvidos enquanto eu olhava em volta ofegante e observava as nuvens escaparem dos meus lábios devido ao frio.
Eu não sabia como deveria me mover, como deveria ser ou onde exatamente. Eu apenas senti uma necessidade visceral de encontrá-la e abraçá-la, porque eu estava ficando louco e podia ouvi-la gritando tão alto que partiu meu coração só de pensar que talvez eu não conseguisse passar a noite se não a encontrasse. .
Carter ligou para Sam e Katherine e nós quatro procuramos por ela por algumas horas, mas sem sucesso. Voltamos ao ponto de partida: andamos em círculos mas nenhum de nós a encontrou, porém, procuramos por toda parte. Tentei ligar para ela, mas o telefone estava fora do gancho, havia uma boa chance de ele estar sem bateria. Pensei onde ela poderia estar escondida, se ela pensava que eu estava em perigo, se ela pensava que eu não estava sozinho. Joguei o telefone contra uma árvore e me ajoelhei no chão enquanto Carter se aproximava de mim e Sam continuava girando em círculos como se algo estivesse errado com ele.
- E se ele não tivesse se escondido? – perguntei, virando-me bruscamente para Sam. – E se eu tivesse encontrado? –
Sam balançou a cabeça, passando as mãos pelos cachos castanhos e seus olhos verde esmeralda estavam vermelhos de frio e também das lágrimas que ele chorava em desespero. Eu nunca o tinha visto assim: era como se ele sentisse tudo o que ela sentia, eles tinham uma relação tão profunda que às vezes me parecia que sentiam as mesmas emoções e que conseguiam ler a mente um do outro. - Não não não não não. – ele gritou, balançando a cabeça exasperado. – Isso é impossível Javier, é impossível, porque eu saberia se aquele filho da puta tivesse entrado na minha casa e sequestrado meu melhor amigo. Ele se levantou enquanto dormíamos, não há outras explicações, ele saiu por vontade própria. O alarme disparou, a porta não estava mais trancada, ela saiu. – explicou ele, franzindo o nariz e agachando-se no chão. – O que me pergunto é: para onde ele estava indo? Por que ela saiu sozinha sem me contar nada? –
Automaticamente nós três nos viramos para Katherine e olhamos para ela, esperando que ela dissesse alguma coisa. Era óbvio que havia algo que não sabíamos, nós dois conversando de uma forma que ela e Sam não sabiam. “Katherine”, eu disse. – Se você sabe algo que não sabemos, é hora de contar. – eu disse a ele secamente.
"Espere um segundo", Carter interveio, coçando o queixo e depois olhando para todos nós nos olhos. – Você me disse que sofre de terrores noturnos, certo? – ele perguntou, voltando-se principalmente para Sam.
O menino assentiu e colocou a cabeça entre as mãos, enquanto eu fechava os olhos e respirava fundo. – Pior do que o normal ultimamente. – ele sussurrou, coçando os olhos. – Piorou muito. - Ele percebeu.
- Em que consiste? – ele perguntou olhando para Sam.
Sam balançou a cabeça e ergueu o rosto para o céu como se procurasse uma resposta nas estrelas, como se seguindo-as tivesse certeza de que poderia encontrá-la porque a luz delas lhe mostraria o caminho. "Não, não posso", exclamou ele, levantando-se novamente. – Apenas saiba que o que você vê nem sempre é real. –
- Que significa? – perguntei, dando um passo mais perto dele.
- Significa que ultimamente você não consegue distinguir os sonhos da realidade. - Ele explicou. – Significa que você gasta seu tempo contando os dedos. –
- Por que você conta os dedos? – Kat perguntou confusa e carrancuda.
- Porque dizem que nos sonhos sempre temos dedos extras. – Carter continuou coçando o momento e balançando a cabeça. Quando ele fez isso, significava simplesmente que estava pensando em alguma coisa e, nesse caso, era algo que nenhum de nós teria gostado. – Significa que talvez ela não esteja acordada no momento. – Ele disse me olhando diretamente nos olhos. – Você não tem ideia, Deus, isso é um grande desastre. –
- Por favor, explique por que estou ficando louco. Quando a encontrar juro que não vou deixá-la ir nem por um segundo, prefiro me suicidar. – murmurei, sem chutar nada.
- Se você não distinguir mais o sonho da realidade, poderá se convencer de que está sonhando, quando na realidade não está, e vice-versa. Ela provavelmente ligou para você pensando que estava acordada, mas na verdade não está. – Eu o vi gesticulando enquanto andava de um lado para o outro como um louco. O fato de eu estar estudando psicologia nos ajudou muito, sinceramente. – O fato é o seguinte: Sam, ela não te contou que estava saindo, provavelmente porque nem percebeu que estava saindo. Javier, talvez ele tenha lhe contado que estava na floresta quando na verdade não está aqui. Você não precisa pensar como se estivesse acordado, você tem que pensar e se mover como um sonâmbulo faria, como uma pessoa que está dormindo, mas está convencida de que está acordada. Quero dizer? – ele perguntou, erguendo as sobrancelhas.