Capítulo 2
- Eu sei, meu amor - apertei meu abraço e inalei docemente o aroma de seus cabelos, saboreando cada fragrância que emanava: amor, dor, gratidão, medo, tristeza, solidão... Eu teria dado o mundo a ela, se isso acontecesse. Foi o suficiente para apagar todos os vestígios de todas aquelas emoções negativas que congelavam seu coração. – É por isso que você vai ficar alguns dias comigo, você e eu, na nossa bolha, concorda? –
Ele sorriu e acenou com a cabeça, olhando por cima do meu ombro e percebendo que Leonard e Elizabeth estavam olhando para nós com alguma... devoção. Revirei os olhos e levantei as sobrancelhas enquanto Arthur olhava para nós com um sorriso e apontava. – Mãe, pai – Ele disse entrando na cozinha e se colocando entre Victoria e eu. - Você viu? Eu sou um artista! - Ele exclamou. – Admirar o casal mais lindo do mundo, não é pura arte? – perguntou ele, aplaudindo.
- Eles são maravilhosos, sim. – Elizabeth sorriu e nos olhou feliz, com os olhos brilhando de amor. Às vezes eu me perguntava se o nosso também se parecia com o deles, mas então percebi que sentia em meus ossos aquele sentimento devastador que me ligava a Victoria e me levava a olhar para ela como se ela fosse a mais bela obra de arte que eu já tinha visto. tinha visto. .ja existia.
- E aqui vai. – Leonard revirou os olhos divertido e Arthur ficou atrás dele com os braços cruzados e fazendo beicinho. – Não adianta fazer beicinho. – ele disse rindo. – Você nos disse mil vezes que queria que eles ficassem juntos. –
- Sim – ele respondeu. – Mas nunca te contei como descobri que Javier havia se apaixonado por Victoria. –
- Ah, Jesus, Arthur cala a boca. – Sentei-me à mesa ladeado por Victoria, que nos olhou sorrindo.
- Não, eu também quero saber disso - Victoria me cutucou e sorriu para meu irmão que, erguendo as sobrancelhas, fez uma cara absurda que eu nunca tinha visto antes.
- Então no dia em que a conheci, Javier também a conheceu. Ou seja, vamos fingir que ele a conheceu lá porque na verdade... - Ele começou a contar a história, deixando a frase em suspense até que eu o cutuquei e ele ergueu os braços em sinal de rendição. – Bom, naquele dia ele chegou em casa com cara de sonhador. Ele caminhou pelo quarto e nos corredores eu ouvi seu nome repetidamente. Achei que estava sob hipnose, ou em transe, talvez estivesse enfeitiçado e não soubesse disso. Ele dizia o nome dela e depois sorria. Perguntei-lhe se o disco que conectava seu cérebro à boca havia quebrado, mas ele me disse para ir para o inferno e bateu a porta. Não entendi. Então fiz uma pesquisa na internet e descobri que se você agir assim você está perdidamente apaixonado. A Internet diz que quando você parece vazio e vive nas nuvens, significa que você ama alguém. Então entendi que estava apaixonado por ela. Aí, como eu e Victoria fazíamos os mesmos cursos e sempre sentávamos juntas porque ela odeia todo mundo menos eu, ela fazia pequenos desenhos no caderno como eu fazia quando tinha três anos. Eu fazia muitos corações e flores o tempo todo e depois matava aula. Ela ficou encantada e quando falei com ela ela não me entendeu. Eu pensei que era surdo. Fiz outra pesquisa na internet e descobri que quando as meninas desenham muitos corações elas estão apaixonadas. Victoria não conseguia amar Sam, porque quando eles conversavam ela não via o que a internet dizia, e então eles se insultaram. Quando nos encontramos na cafeteria, Victoria olha para Sam e diz "olá idiota" e Sam diz "olá cara de idiota" todas as manhãs. Então ele não amava Sam. E então eu vi como ele olhou para Javier e uma vez ele me disse que parecia ter sido esculpido pelos deuses. E no final, enquanto eu empurrava um pouco o Javier e um pouco a Victoria, nasceu a minha obra de arte preferida: os dois. – Concluiu aplaudindo e comemorando alegremente.
Victoria e eu, por nossa vez, ficamos envergonhados, enquanto meu pai e minha mãe riam até chorar. Minha namorada beliscou a amiga, que balançou a cabeça como se lhe dissesse que, no final das contas, ela só havia dito a verdade. – Os coraçõezinhos eram o nosso segredo! Traidor! –
"Você nunca disse que eu não poderia contar a ninguém", ele respondeu, piscando os cílios.
- Era óbvio, é constrangedor. - trono.
- Por isso eu falei: é constrangedor, por isso é engraçado. Como quando você disse que Javier foi esculpido pelos deuses: é uma loucura, é constrangedor e faz todo mundo rir, então eu disse isso. –
Ele levantou os braços em sinal de rendição e riu quando percebeu que meu irmão era uma causa perdida.
Foi lindo vê-los juntos, a melodia entre eles varrendo cada momento de medo que ele tivera por ela durante o dia. Eles eram as duas pessoas mais importantes para mim e meu coração ficou comovido ao vê-los assim. Foi um show que eu nunca quis desistir.
Victoria e eu estávamos deitados na cama assistindo a um filme. Segurei-a com força em meus braços, acariciei suas costas e sua respiração tocou minha pele. Naquele momento, como o cheiro dele também se tornou o cheiro do meu quarto, me perguntei como era possível que um homem fosse capaz de prejudicar sua filha daquela forma. Era humanamente inconcebível causar tamanho dano, nunca tinha visto um nível de depravação tão alto, mas como meu pai sempre dizia, o pior nunca tem fim. – Javier – ele sussurrou, aconchegando-se em meus braços. – Tenho medo que ele te machuque quando descobrir sobre nós. –
Virei-me para observá-lo, piscando e prestando atenção em cada pequeno detalhe, como se fosse a última vez que pudesse admirar seu esplendor. – Nada vai acontecer comigo, nada vai acontecer conosco, mas se ficarmos juntos. –
Ela apertou minha mão e fechou os olhos, respirando profundamente e arrastando a cabeça em direção ao meu peito. – Você sabe, eu nunca choro. – Ele disse de repente. – Você foi a primeira pessoa que me viu chorar. –
-Sam nunca viu você chorar? – perguntei curioso.
Ele balançou a cabeça e sentou-se, apoiando as costas na cabeceira da cama. De minha parte, coloquei minha cabeça em sua barriga e a observei de baixo, enquanto ela começava a brincar com os fios do meu cabelo. – Eu não chorava desde os doze anos. - Quero dizer. – Tenho muita vontade de chorar, mas evito porque acho bobagem. Nenhuma lágrima poderia expressar nem um décimo da dor que sinto desde que me separei do meu pai. Não porque eu sinta falta dele, veja bem, ele é meu pai, mas... quando tenho pesadelos, sempre sonho com ele, com o que ele fez comigo, e toda vez que isso acontece eu vomito. Toda vez Javier, porque realmente me dá vontade de vomitar pensando em como ele me destruiu. Fico com raiva por não conseguir que ninguém me toque, exceto com o meu consentimento. Estou com raiva por amá-lo e ainda espero que, quando o vir novamente, ele seja meu pai, não a pessoa que arruinou minha vida. Eu gostaria de poder levá-lo para minha casa e apresentá-lo aos meus pais, os verdadeiros, e dizer-lhe que meu pai é um homem meio rude, mas que gostaria de você. Eu gostaria de poder dizer que minha mãe te amaria, mas nem sei como ela é. Não sei se ela é loira, morena, alta ou baixa; Não sei se ele tem sardas como Sammy ou se tem um rosto liso e limpo como o meu. Não se ela também tem olhos azuis, como eu e meu pai, não sei se ela usa óculos como eu ou se ela enxerga bem. Não sei se ele adora fazer compras ou se odeia como eu, não sei se ele gostaria ou se não me suportava e discutíamos a cada três ou duas vezes. Não sei se temos o mesmo caráter, se isso me ajudaria a entender o que sinto por você e se me ensinaria a entender o amor verdadeiro. Talvez se eu tivesse pais normais já teria dito que te amo, sem primeiro entender se realmente é assim ou se eu gostaria que fosse assim. Talvez fosse mais fácil se você dissesse essas duas palavrinhas, eu teria menos medo e seríamos o casal que merecemos ser, e não aquele que compartilha a dor. É por isso que acho que não há lágrimas no mundo que possam expressar o que sinto. – ele sussurrou no silêncio caótico do meu quarto.