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Capítulo V - Magie

O medo que me tomou quando Luke gritou avisando que Alejandro havia sofrido um acidente me surpreendeu, assim como meu impulso em querer ajudá-lo.

O homem claramente estava com fortes dores, mas se mantinha durão, mantendo firme a pose enquanto minha mente repetia que eu precisava fazer qualquer coisa que o distraísse da dor e o impedisse de se mexer enquanto o socorro não chegava.

Pra minha sorte Alejandro de distraía fácil, principalmente quando estávamos nos alfinetando.

— Ao menos transar eu vou poder, não é doutora? Porque essa é a única vantagem em se ficar preso em uma cama. — o safado falou só para me deixar sem graça.

Ele não tinha nenhum pingo de vergonha naquela cara, nem mesmo machucado, com a perna engessada, ele tomava jeito.

No caminho para casa eu e Luke apoiamos o corpo dele, evitando que ele apoiasse na perna, deveria ir de cadeira de rodas, mas o teimoso se recusou a sentar na cadeira.

— Luke pega ele no colo pra subir essas escadas, chega de deixar essa perna pendurada. — dei a ordem, mas antes que o amigo pudesse se aproximar Alejandro já tinha uma expressão horrorosa estampada no rosto.

— Ouse colocar a mão em mim pra ver se eu não arranco seus dentes. — ele rosnou se apoiando na lataria do carro querendo sair sem ajuda.

Empurrei Luke para o lado, vendo que ele então já mesmo fazer nada, e puxei o braço do teimoso para meus ombros o ajudando a se levantar.

— Você acha mesmo que assusta alguém com essas ameaças?

— Com certeza assusta, teve o efeito certinho com Luke. — ele retrucou apontando com a cabeça para o amigo, já era um bom começo que ele não tivesse me empurrado para longe.

— Luke é um frouxo, queria ter forças pra te carregar que você ia ver só, suas caretas não me intimidam querido. — Alejandro curvou o pescoço deixando o rosto perigosamente perto do meu.

— Eu sei que você está louca para ter suas mãos em mim. — ele sussurrou para que só nós dois escutássemos. — Só não precisa ser assim, Barbie.

Revirei meus olhos e fiz uma cara de tédio para ele, tínhamos que parar com aquelas provocações porque estava começando a mexer com a minha cabeça, desde que ouvi ele chamando o meu nome enquanto estava no banheiro.

— Ok, arrumem um quarto vocês dois. — Luke falou tomando o outro lado do corpo de Alejandro. — Continuem isso lá em cima, agora vamos subir e colocar essas pernas pra cima.

Eu tinha até esquecido da maldita perna dele, se dependesse apenas de nós dois ficaríamos ali nos alfinetando.

Subimos juntos impedindo ele de apoiar o pé, até o colocarmos na cama.

— Luke, precisamos entregar o carro do senhor Juan hoje, vai ter que terminar sozinho e dar um jeito no puto elevador. — eu ouvi eles conversando enquanto eu arrumava almofadas em baixo da perna dele, me certificando que o homem estivesse confortável. — Sabe que eu não machuquei as mãos, não é Barbie? Posso fazer isso sozinho, não preciso de você. — o apelido irritante foi o que me fez erguer a cabeça e encará-lo.

É claro que ele ia reclamar da ajuda que eu estava dando, o maldito reclamava de tudo!

— Pode também ir se ferrar, idiota. — peguei a última almofada e atirei na cara dele. — Quando quiser ir no banheiro vá sozinho também! — falei e sai de lá pisando duro.

Não entendia porque ele simplesmente não podia aceitar ajuda, tinha me forçado a aceitar a dele, me obrigou a ficar ali, a me proteger e a me ajudar depois que Charles foi preso.

Só em pensar naquele pedaço de merda meu estômago se revirava. Mesmo o demônio estando preso eu ainda sentia medo, não tinha me libertado da sensação de estar sendo seguida, vigiada, sendo sufocada pela presença dele, em saber que a qualquer momento ele poderia estar me tocando, me beijando, tomando meu corpo como bem desejava sem se importar comigo.

Minha respiração ficou ainda mais descompassada e as lagrimas encheram os meus olhos antes que eu conseguisse controlar. Me virei para a parede apoiando minha testa na superfície fria e comecei a inspirar pelo nariz e soltar pela boca, tentando me acalmar para não começar a chorar ali.

Eu não tinha ideia se algum dia me livraria daquela sensação de estar presa, de ser uma prisioneira dentro de casa e dentro de mim mesma.

— Magie? Você está bem? — ouvi a voz de Rosa atrás de mim e tratei de respirar fundo e engolir tudo dentro de mim.

— Sim, só... Foi um mal estar, nada de mais. Precisa de alguma coisa?

— Acho que é você quem está precisando, querida. — ela pegou minha mão me impedindo de fugir. — O que aconteceu?

— Não foi nada, imagina. Pode falar do que precisa? — garanti a ela, mesmo que fosse mentira e ela tivesse franzido os olhos para mim com desconfiança.

— Hã... Minha filha ligou, Elisa, ela me pediu pra ficar com a pequena, a babá teve um probleminha e vai atrasar. Já te dizer que preciso ir, você pode ficar de olho no bebezão ali no quarto? Só para garantir que ele não vá fazer nenhuma loucura.

— Claro Rosa! Pode ir tranquila, prometo não deixar o garotão fazer nenhuma besteira.

Era a última coisa que eu queria naquele momento, ficar de olho em Alejandro. Mas o que eu podia fazer? Isso era o mínimo depois de tudo o que eles fizeram por mim.

— Ok querida, qualquer coisa me ligue.

Eu não ia precisar liga pra ela, Alejandro era uma criança grandeza, mas com quem eu sabia lidar.

Depois que a saiu eu fui direto para a cozinha preparar algo para o jantar, o homem podia estar na cama e doente, mas não comeria uma sopa qualquer. Alejandro não tinha frescuras para comer, ao menos não até onde eu vi, mas ele gostava de comer muito. Não me surpreendia com o trabalho braçal que ele faz e com o tamanho dele, era compreensível.

Fiz uma macarronada que Rosa tinha me ensinado, com almondegas que ele adorava. Talvez eu estivesse fazendo o prato favorito dele, mas não era para agradar, o pobre só tinha tido um dia de cão e depois de me salvar dos dois tarados ele merecia.

Quando eu entrei no quarto estava um completo silêncio e com a luz apagada eu quase pensei que ele estava dormindo, mas foi só acender as luzes para perceber que ele estava sentado na cama, olhando para a janela.

— Devia ter me chamado para acender as luzes, ou ligar a televisão. — resmunguei colocando a bandeja alta em frente a ele.

Eu deveria ter me lembrado de acender as luzes ou ao menos dar o controle a ele, mas tinha saído tão irritada e depois me distrai, que nem pensei nisso.

— Não precisa, eu estou bem. — ele respondeu de forma seca e me chocando.

Sem perder tempo ele atacou o prato, parecia realmente faminto. Eu liguei a televisão e me sentei ao lado dele enquanto ele comia, fingindo que estava muito interessada no filme que passava na tela, mas a verdade é que eu nem estava prestando atenção.

Meus olhos se desviavam a todo momento para ele, querendo ver os movimentos dele, a expressão, qualquer coisa que tirasse aquela sensação de que estávamos brigados. Eu não entendia o porque, mas era estranho ter ele ali do lado não fazendo nenhuma gracinha ou falando nada

— E então como está a macarronada? — joguei o assunto tentando puxar conversa com ele.

— Você ainda não jantou? — ele perguntou e eu finalmente virei meus olhos para ele sacudindo a cabeça em uma negativa. — Pode ir jantar, eu posso ficar sozinho.

Oh, então era isso? Ele tinha ficado irritado comigo porque eu disse para ele fazer as coisas sozinho? Mas foi ele quem pareceu irritado primeiro, reclamando da minha ajuda. Homem confuso dos infernos!

— Eu vou jantar depois, não se preocupe. — fechei a boca me voltando outra vez pra televisão enquanto tentava ignorar a presença dele ao meu lado.

— Minha mãe acertou de novo, está uma delícia. — ele abriu a boca depois que já tinha terminado o prato.

— Está uma delícia? — meu peito se estufou de orgulho, sabendo que ele estava elogiando a minha comida, mesmo que ele ainda não soubesse que tinha sido eu quem fez.

— Eu sabia que dona Rosa ia querer me agradar, ela sempre fazia isso quando algum de nós se machucava, preparava a comida favorita. — o sorriso tinha voltado ao rosto dele e a voz tinha deixado o tom seco e irritadiço, ele estava de volta ao normal.

Me levantei pegando o prato e a bandeja, e os coloquei perto da porta, ainda não estava pronta para ir e deixar ele sozinho, nem queria ficar sozinha com meus fantasmas também.

— Bem, considerando que fui eu quem fez acho que você está errado. — peguei o suco e um dos remédios que ele tinha que tomar e fui entregar a ele. — Não fiz pra te agradar.

— Foi você quem cozinhou? Logo você que não sabe fritar um ovo? — ele riu com deboche e eu ergui o dedo do meio, mas dessa vez não foi por estar irritada, na verdade estava mais aliviada que tínhamos voltado a parte das alfinetadas. — Se eu morrer a culpa vai ser sua.

— Vai ser um favor a humanidade. — eu estava me afastando da cama quando a mão dele agarrou meu braço me puxando para baixo.

— Você quis me agradar, pode dizer a verdade Barbie. — estávamos um de frente para o outro e eu quase tinha caído sentada em seu colo.

Nossos olhos compartilhavam uma conexão que eu jamais havia sentido, Alejandro conseguia me passar uma confiança que ninguém nunca me passou, os olhos me hipnotizavam parecendo atravessar o profundo da minha alma e buscar todos os meus segredos.

Mas ele não tocaria em mim se soubesse todos os meus segredos, não me olharia desse jeito se soubesse tudo o que eu vivi.

Como se isso fosse um estalo me trazendo a realidade eu recuei minimamente, mas a mão dele voou para o meu rosto, segurando o meu pescoço e me puxando para perto e colando nossas bocas.

Eu fiquei paralisada por um segundo, com os olhos abertos chocada de mais para fazer qualquer coisa, enquanto Alejandro me mantinha grudada. Senti sua língua deslizar sobre meu lábio, pedindo passagem e acendendo todo o meu corpo.

Abri meus lábios fechando os olhos e no segundo em que ele enfiou a língua em minha boca eu soltei um gemido. A mão de Alejandro apertou ainda mais minha nuca, enfiando os dedos nos meus cabelos e os puxando me obrigando a tombar a cabeça para trás.

Ele intensificou o beijo quando eu me rendi, os lábios sugando o meu enquanto seu braço livre envolveu meu corpo me puxando ainda mais para perto.

Segurei na cabeceira da cama, não querendo me apoiar nele, mas os planos dele eram outros e eu só me dei conta quando senti que estava sentada em seu colo.

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