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Por que eu fui me envolver tanto?

Prólogo

Meus seios se achatam contra o tecido áspero de seu terno, enquanto ele me puxa e me beija, sua língua forçando e jogando com a minha boca. Eu posso sentir a outra mão acariciando minhas costas, mergulhando para baixo para deslizar sobre minha bunda, espremendo duro. Em seguida, ele gira ao redor dos ossos do meu quadril e curva sobre o meu montículo, seu dedo médio mergulhando ligeiramente. Eu gemo quando eu o sinto me provocando.

Ele ri contra meus lábios, enviando energia elétrica incandescente na minha espinha.

—Você quer mais? Me quer dentro de você?

—Sim —Eu sussurro.

O sorriso no seu rosto faz meus joelhos fracos, então ele me beija com a sua magnífica língua e boca. Suas mãos se curvam ao redor da minha cabeça e agarra um punhado de meu cabelo. É doloroso e sua expressão não alivia mais. Ele me beija com ferocidade, parece um louco.

—Você às vezes me olha como um homem bom, eu não sou.

***********

Khadija Aziz

Cemitério de Miami

Bem, a farsa acabou, penso olhando para o verde sombrio repleto de lápides e rodeado por cercas e portões de ferro. O céu está cinza, combinando com este dia tão triste. Uma brisa gelada farfalha pela copa das árvores. Apenas os canteiros de flores vermelhas e amarelas vibrantes quebram o aspecto sombrio do local.

Intranquila eu olho de soslaio para o mais novo Sheik. Rashid Jael Barak. Ele está ali, em silêncio, não olha para mim, apenas encara o caixão do pai sendo baixado, ouvindo o Shaykh dizer algumas palavras de alento.

Pó ao pó... O Sheik Al Jain está morto, penso sendo imergida pelo desânimo, desanimo este que parece me sufocar, me inundar. Eu realmente gostava dele, ele era um homem sábio, pacato e de sorriso fácil.

Uma multidão de pessoas está presente para se despedir, e entre essas pessoas está o Zafir, irmão do Rashid, que segura um grande guarda-chuva preto e está ao lado da esposa com um bebê de um ano no colo.

Rashid conversou muito pouco com o irmão, mas o pouco que conversou, ficou muito fragilizado, e acabou chorando abraçado a ele.

Pelo que pude entender, o Sheik escondeu de todos a sua doença —uma cardiopatia grave —somente o Rashid sabia. Somente nos últimos dias de vida do Sheik isso foi revelado e todos os filhos foram chamados. Mas para a tristeza de todos, Al Jain morreu dois dias depois. Nesses dois dias eu permaneci trancada no quarto. Simulei um grande resfriado.

Qual é o meu papel nessa família?

Esta é uma pergunta que eu sempre me faço.

Por que eu sou a namorada de mentira do Rashid? Até hoje eu me pergunto porque o Rashid é tão fechado. Ele pode ter a garota que quiser, mas escolheu a mim para viver essa farsa.

Duvido que alguém entenda o Rashid. Nem mesmo seus próprios familiares o entendem. Ele é um homem difícil de se decifrar.

Eu o amo desde o início. Um amor intenso e forte, mas infelizmente conheço meu papel nesta história, além disso, eu acredito que ele não me ache digna para ser a sua esposa.

Eu não sou a mulher que Rashid sonhou para estar ao seu lado. Sou apenas uma odalisca que ele conheceu em um bar árabe e que a livrou de uma situação e acabou lhe amparando em um momento difícil.

Nos últimos meses, eu vivi balançada entre o êxtase e o desânimo. O êxtase por me sentir tão bem ao lado dele e o desânimo por tudo não passar de uma grande mentira.

Já estamos há três meses juntos. Eu acho que nem o Rashid esperava que seu pai moribundo vivesse por tanto tempo. Mas agora com a morte do Sheik a farsa acabou, e o pior é que há algum tempo eu me atrevi a sonhar, a ter ideias ridículas sobre a minha relação com o Rashid.

Ele é tão arrogante, penso enquanto o observo passar a mão pelos cabelos despenteados. Mas ao mesmo tempo penso que ele é instigante, charmoso e exala sensualidade e testosterona por todos os poros

Rashid me olha e pega a minha mão, mais uma vez.

—Acabou. Vamos para casa.

Eu assinto sem nada dizer. O que eu posso dizer em uma hora como essa?

Caminhamos até o sedã preto, seus brutamontes sempre na nossa cola.

No caminho eu tropeço. Rashid me segura a tempo de eu não me esborrachar no chão. Ele puxa o meu braço com tanta força, que eu acabo trombando nele.

—Cuidado, Kadija! —Ele fala como se fosse minha culpa, como se eu tivesse feito de propósito.

Eu o encaro indignada, mas ao mesmo tempo inalo o seu cheiro limpo e o seu perfume maravilhoso. Ele é simplesmente inebriante.

Continuamos a caminhar, agora começa a cair uma garoa fina. Seus guarda-costas logo chegam e seguram guarda-chuvas sobre nós conforme nós andamos.

Durante todo este tempo em que estive com ele não consegui decifrá-lo.

Juro que tentei!

Eu o acompanhei em jantares de negócios e em festas, em todos esses lugares. Em todos esses lugares, ele só disse o meu nome. Ele nunca me apresentou como a sua namorada ou a sua noiva.

A nossa farsa parece estar restrita ao interior da casa, apenas para que o seu pai moribundo morresse em paz, para que acreditasse que o seu filho quarentão finalmente sossegou e se acertou com alguém, que está feliz com a mulher que ele escolheu como esposa.

Já dentro do carro eu levanto o meu olhar para encará-lo. Ele está tão perto de mim, gostaria de poder tocá-lo e abraçá-lo, mas eu respeito todas as suas regras, as suas malditas regras. Só ele pode vir até mim, só ele pode me procurar, jamais o contrário.

Seus olhos encontram-se com os meus por algum tempo, mas ele quebra o contato e vira a cabeça para a janela. Eu fungo com uma expressão carrancuda.

O que passa pela sua mente neste momento? O que ele fará comigo agora?

Um homem tão rico e tão solitário. Ele pode estar cercado de gente mas eu sinto a sua solidão, é tão densa que parece que posso tocá-la.

Meus olhos varrem a sua figura, embevecidos. Ele está lindo neste terno negro. Suas mãos descansam sobre o assento do carro. Elas são morenas e enormes, aliás, não são apenas as mãos que são enormes, tudo nele é muito grande.

O vidro a prova de som que nos separa do motorista está erguido, e em um momento de ousadia eu cravo as unhas na palma das mãos e pergunto:

—Rashid, o que você fará agora? Como ficamos?

Ele se vira na minha direção, seus olhos me estudam, e somente depois responde:

—No carro não. —Diz seco.

Claro!

Allah! Que insensível eu sou.

Por estar tão preocupada com a minha condição não pude me conter. Com um suspiro, eu viro a minha cabeça em direção à janela. Sinto uma espécie de agitação misturada com mais alguma coisa: uma angústia sem nome.

Me sinto culpada por sentir essas coisas, nem quando o meu irmão estava no hospital à beira da morte eu me senti beirando o descontrole e a histeria como agora.

Não! Não se culpe, repito isso para mim mesma.

Meu irmão estava sofrendo tanto com o câncer que é natural eu achar que ele descansou com a morte.

O carro embica na frente da propriedade e logo os portões se abrem. O carro desliza pelo caminho feito de paralelepípedos. Quando estaciona, um dos seus homens abre a porta do lado do Rashid. Lá fora o frio é relativo, mas eu reluto em sair, e não é por conta da temperatura. Agora o meu destino será traçado. Meus pensamentos estão desordenados e descontrolados.

Por que eu fui me envolver tanto?

Agora eu percebo que fazê-lo se apaixonar por mim se revelou uma tarefa além das minhas habilidades, e mesmo desesperada, eu tento manter a calma para enfrentar o nosso afastamento e o seu adeus.

Saio do carro e seguro a mão que ele me oferece. Estremeço pelo nervosismo. Rashid percebe e tira o seu sobretudo, colocando-o sobre mim, pensando ser frio o que sinto, mas o meu inverno é na alma.

—Coloque isso.

Esses seus momentos de cuidado comigo e as suas inesperadas demonstrações de ciúmes, me fazem sonhar que ele pode estar mais ligado a mim do que se permite estar.

Subimos os degraus até a varanda e depois entramos no espaçoso hall, por fim chegamos a uma grande sala de estar.

A enorme mansão vazia é deprimente. Rashid finalmente se vira para mim. O vazio no seu olhar é ainda maior do que aquilo que estou sentindo. Fecho mais o seu sobretudo em torno do meu corpo, seu cheiro está impregnado nele. Assim eu espero encontrar algum conforto diante da expectativa pelo que ele está prestes a me dizer.

—Vá para o seu quarto e me espere lá.

Tenho um milhão de perguntas, mas eu engulo todas elas. Minha esperança é que ele queira conversar, mas percebo que a esta altura ele não se importa mais com o que eu prefiro. É visível que ele não está em condições de conversar, e é nítido que eu estou nas suas mãos e não o contrário.

—Rashid, eu imagino a dor que está sentindo. Descanse. Se você quiser não precisamos tratar deste assunto exatamente agora.

—Tudo bem, vá para o seu quarto.

Eu assinto com tristeza. Retiro o sobretudo e o coloco sobre o sofá, me afastando em seguida. Vou até o quarto de hóspedes que temporariamente eu ocupo.

Me encosto na porta e fecho os olhos, me rendo então às lágrimas, fatigada por lutar contra elas.

Entro no banheiro e tranco a porta. Não quero que Rashid me veja chorando. De repente todas as regras que ele ditou antes que tudo acontecesse estão tão vívidas, elas piscam no meu cérebro, como um mantra.

O desespero me levou a entrar nesta situação e agora eu estou pagando caro por isso. O Rashid jamais vai me olhar de igual para igual.

Meus pensamentos me levam a lembrar como tudo começou....

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