Não seja melodramática.
Allah! Ele sabia que eu não tinha dinheiro para pagar de imediato as dívidas. E sabe-se lá quando eu vou conseguir quitá-las. Ele deve saber que eu estou louca atrás de outro emprego para conseguir pelo menos negociá-las.
—Você está usando das informações da minha vida para me obrigar?
Rashid me encarou sério.
—Khadija. Não seja melodramática. Eu estou sendo seu salvador, não percebe? Quando você terá a chance de se livrar dessa dívida com a facilidade que eu estou te oferecendo?
Allah! Eu engulo em seco. O que mais me incomoda é que ele está certo. A dívida estava virando uma bola de neve. Mesmo que eu pudesse pagá-la aos poucos, ela nunca seria paga por causa dos juros.
Eu respiro fundo.
—Tudo bem. Eu aceito ser sua namorada. —Eu digo. No profundo do meu coração eu me sinto fazendo um pacto com o diabo.
Rashid sorri.
—Ótimo! Acordo fechado! —Ele se levanta e estende a mão para mim.
Eu me levanto e a aperto como se tratássemos de negócios.
—Fechado! —Eu digo e ele aperta minha mão e a solta.
—Primeiro. Você se instalará no meu hotel. Não te quero mais naquela espelunca. Vamos sair juntos para comprar roupas novas. Roupas que condizem com minha posição social. E terceiro, você não voltará mais dançar naquele lugar.
Trêmula eu concordo:
—Tudo bem. —Eu respiro fundo. —Só uma pergunta. Você não teria dificuldade de arrumar uma mulher sem precisar pagar por ela. Até das minhas origens. Seu pai poderia fazer isso, não poderia?
Ele aperta os lábios, contrariado.
—Verdade. Mas eu não estou aberto a relacionamentos, então eu estaria iludindo essa pessoa. Com você é diferente. Você vê isso como um trato, você sabe que viverá um papel.
Eu estremeço.
—Entendo.
Ele se aproxima de mim, assustada dou um passo para trás. Ele sorri e olha para mim por vários momentos, e eu não consigo ler sua expressão. Fico mais desconfortável a cada segundo que passa. Ele é enorme, agora que percebo como ele é forte e alto.
—Khadija. —Ele fala como se estivesse provando meu nome com sua língua. —Você precisa aprender a relaxar comigo. Meu pai é muito perspicaz. Se cada vez que eu me aproximar, você saltar como fez agora, tudo irá por água abaixo.
Silencio por um momento. Eu estou muito ofegante, de repente começo a sentir esse prazer inexplicável que corre através de mim, que não é tão invisível quanto eu penso que é. Minhas bochechas aquecem. Meu coração está agitado no peito. Balanço a cabeça apenas concordando, lutando para manter meus olhos fixos nos dele.
Seus olhos descem para os meus lábios. Eu estremeço, pois sei o que ele fará. Posso ver seu coração agitado como o meu, ele também está ofegante. Então ele me puxa para os seus braços. Sua boca desce sobre a minha. Seus lábios passam a se mover nos meus. Ele tinha gosto de menta. Eu respiro erraticamente abrindo minha boca na dele. Sua língua se choca com a minha e me provoca arrepios. Seus dentes mordiscam o meu lábio inferior.
Sinto sua parte inferior do corpo empurrando contra a minha barriga, prendendo-me nele de tal forma que sinto o cume duro em suas calças.
Eu quero poder dizer que o que sinto é desagradável, mas não posso. O calor se infiltra nas minhas veias frias e sem vida, fazendo com que meu corpo volte à vida. Allah eu nem sabia que eu estava morta...
Eu luto para manter a minha compostura, mas por dentro o meu coração troveja no meu peito e eu estou formigando em todos os lugares. Quando ele finalmente me solta, olha e não parece em nada com o homem confiante que se mostrava a poucos minutos.
Ele está me olhando com a respiração agitada, aos poucos se acalmando. Eu não posso lê-lo, não consigo saber no que ele está pensando. Mas eu tenho a sensação de que seus pensamentos não são agradáveis.
Seu rosto se torna cada vez mais frio. Sei que derrubei suas defesas de algum jeito, sinto que ele está lutando para armá-las novamente, tornando tudo entre nós, como ele mesmo disse, em algo superficial.
—Bem, é isso. Agora vou arrumar um quarto para você ficar. Amanhã só precisará pegar os seus documentos e objetos de valor sentimental. Vou te dar tudo novo.
—Está certo.
Ele me olha muito sério.
—E lembre-se, estamos vivendo uma farsa. Nada de compromisso, nem sonhos românticos. Consegue separar as coisas?
Claro, é fácil. Olha quem eu sou e quem ele é.
—Sim.
—Ótimo. Aqui estão suas chaves. Quarto 404, 4º andar. Vou pedir para levarem o cardápio. Você jantará no quarto. Depois que você pegar suas coisas, vamos conversar, nos conhecer um pouco melhor, também vamos comprar roupas novas. Você fará aulas de etiqueta. Aí sim, você se hospedará em minha casa.
—Pelo visto você já sabia que eu iria aceitar?
—Sim, quando eu jogo é para ganhar. Vamos, eu vou te levar até seu quarto.
Bem, foi o que aconteceu...