Capítulo 2
- Sempre comigo. — Eu fico olhando para ela, é claro. — Exceto que trocaremos mensagens de texto porque eles vão dormir na Austrália. Na verdade, você sabe o que existe? Pretendo mandar uma mensagem para o papai, ele já estará dormindo. -
- Perfeito. Deixe isso de lado e sente no sofá, preciso descarregar minha frustração em alguém. -
Reviro os olhos, mas faço o que me mandam e fecho o PC. — Olha, eu também acho que Haley seria perfeita para Andy, mas o que você pode fazer? Isso não mudará depois de três maratonas. -
"Não quero pensar nisso", ela murmura, irritada.
Pego o computador, o diário e as canetas e linhas de várias cores da sala. O apartamento não é nada grande, mas aluguei com meu próprio dinheiro e não poderia estar mais orgulhoso. Sentirei falta dele, mas acho que Nat está certo. Uma mudança de cenário me ajudará. Afinal, não é isso que eu mesmo escrevo para meus personagens? Talvez a Austrália me ajude a ver as coisas de forma diferente e a proximidade do meu pai me dê o conforto que preciso. Eu sinto muita falta dele.
Digito a mensagem e defino o horário de envio, depois pego um suéter do armário e coloco em cima da camisa que já estou vestindo. Mesmo com o calor forte, o tempo ainda parece frio e estúpido.
A mensagem é então enviada.
Somos o único time de toda a NRL, a National Rugby League, que tem dois pares de gêmeos idênticos conosco. Às vezes é perturbador quando os quatro fazem algo em sincronia e nem percebem. Por exemplo, amarrar os sapatos ou coçar o mesmo local. Eles são frequentemente provocados por outros sobre a ideia de que na verdade são todos parentes, mas considerando que os Saltzmans são duzentos por cento australianos... acho isso difícil.
— Vamos, senhoras, está na hora! — exclama o assistente técnico Finley.
Chegamos ao campo onde nos espera a maquinaria habitual que utilizamos. Nosso técnico David Rodriguez está nos esperando à margem, com uma pasta na mão, o apito habitual no pescoço e um chapéu pontudo na cabeça.
— Vinte voltas no campo, o primeiro a parar para cobrar o lance livre será o primeiro a chegar ao Bronco — afirma, de forma sucinta.
Um gemido geral se espalha entre os meninos, mas ninguém ousa protestar. Se há algo que um jogador de rugby odeia é o Bronco Test, um exercício que mede sua resistência máxima e faz você correr um total de mil e duzentos metros. É sufocante, principalmente depois de andar de trenó e saber que depois terá que levantar pesos.
Fique aí, Baxter. —O treinador me liga novamente.
Não suspiro, não reclamo, sei que foi ontem à noite.
—Você tem algo a dizer em sua defesa? O dirigente da equipe fica chateado e a ideia de ter que aposentar Sanders lhe sobe à cabeça. É a quarta retirada num maldito mês, Baxter. -
—Ele insultou minha mãe, eu gritei com ela—explico diretamente.
—E me diga, você tem dez anos e não suporta provocações? Nós os destruímos, Baxter, era óbvio que eles iriam atacar você com bobagens ainda maiores. - Ele me olha atentamente.
- Não vai acontecer novamente. -
— Claro que não vai acontecer de novo, porque na próxima merda eu vou te colocar no banco e você vai sonhar com a Grande Final — ele rosna. —E agora mexa sua bunda. Esta noite você voltará e fará mais três séries de quinze no banco elástico. Das seis às sete. -
Em suma, ele quer transformar meus braços em polpa. Fantástico.
—Sim, treinador. -
Eu me junto aos meus companheiros e começo a treinar.
Após a corrida prosseguimos com alguns exercícios de pernas, até chegarmos aos trenós. São pequenos trenós com dez, quinze ou vinte quilos de peso que temos que rebocar uma série de metros, hoje o treinador decidiu ser indulgente e nos fazer trabalhar apenas dez metros.
“Lisa vai me levar para conhecer os pais dela hoje à noite”, Alex suspira, ao meu lado. Alguns colegas estão posicionando as naves para a Prova do Bronco, então aproveitamos para recuperar o fôlego.
—Quando as coisas ficaram tão sérias? —Pergunta Sun Nikorima, nosso meio-campista e capitão do time.
—Estamos juntos há seis meses e decidimos ir com calma. Porém, há dois dias ele conheceu meus pais no jogo e fomos jantar, então ele me pediu para ir na casa dele e eu aceitei. Seja como for, sou louco por ela. —Balança a cabeça, divertido, Alex.
- "Lisa escreveu para mim", "O que significa o emoji de esgrima? Lisa acabou de me enviar", "Comprei isso para Lisa, você acha que ela gosta?", "Não posso me atrasar, aí está Lisa ." me esperando lá fora" — Loris faz uma imitação perfeita de Alex que faz os outros rirem.
“Pare com isso, idiota”, nosso amigo murmura.
—Chega, idiotas. —A voz áspera do treinador nos interrompe. — Eles não pagam para conversar, mas para trabalhar. Levante-se e entre na linha de partida. Quem vencer a corrida de cinco minutos se juntará ao seu precioso vice-capitão. - Ele aponta para mim zombeteiramente. Se eu pudesse quebrar meu braço, faria isso sem pensar duas vezes. Pena que você precisa disso.
- Ah, não, não. —Alex balança a cabeça.
“É melhor você dizer a Lisa que está atrasado”, canta Benjamin, sentando-se a alguns passos de distância.
—Pare de atormentá-lo, ele já sabe. —Samuel, seu gêmeo, zomba.
Eu suspiro. —Vocês dois realmente querem ser atingidos. -
- Em casa? Não, obrigado, você fez o suficiente ontem à noite”, Ben responde com uma risada.
Não tenho tempo de bater nele, o treinador apita bem alto e todos corremos como se o tivéssemos atrás.
Hoje ele vai me fazer pagar.
Se há algo que odeio é viajar. Ou melhor, aproveite os meios para chegar ao destino. Posso até ir para as Maldivas, vou xingar cada segundo da viagem porque não é mais verdade que dá para trabalhar de avião. Claro que se você estiver na primeira classe, com sua taça de champanhe e as pessoas cochilando, talvez até seja possível, mas na classe econômica? Vamos. Crianças gritando, pessoas discutindo, comissários de bordo estressados com o cinto de segurança... Sim, Janice, eu sei que tenho que deixá-lo ligado até receber o sinal, não sou idiota. Em suma, é um pesadelo.
Agora, se considerarmos que a viagem se soma ao jet lag, o resultado não é tão satisfatório. É por isso que no primeiro dia de férias você acaba exausto na cama.
É por isso que este será o meu fim esta noite. Ou esta manhã. Ou qualquer que seja o horário australiano.
É por isso que mal posso esperar para me despedir do papai, comer e dormir, dormir, dormir.
Ele está no trabalho agora, mas deve ter um motorista da federação, a quem ele pediu o favor de me buscar, me esperando.
CALISTA RODRIGUEZ
Vejo um homem de terno preto segurando uma prancheta onde meu nome está escrito em letras grandes e entendo que encontrei a pessoa certa. Ele é alto, bem constituído e tem uma aparência séria e profissional. Ele se parece vagamente com o tio Niall, irmão do papai.
- Bom Dia. Senhorita Rodríguez? - o homem pergunta para ter certeza.
— Sou eu, por favor. —Estendo minha mão para ele.
Ele a sacode e sorri. —Sou Alan McCay, seu motorista. Vou acompanhá-la até sua casa e então ela me dirá se quer se juntar ao pai ou se gostaria de descansar. -
Eu sorrio de volta e aperto ainda mais a alça do carrinho. — Estou super tonta por causa do jet lag, não consegui dormir no avião e a comida estava péssima, acho que vou tomar um banho e ir para a cama. -
Alan me convida a segui-lo para fora do aeroporto de Brisbane antes de falar novamente: — Se posso lhe dar um conselho, é melhor esperar até o final da tarde ou da noite para dormir, caso contrário será pior para se livrar do jet lag. -
"Isso deveria ser uma tortura", murmuro, o que o faz rir.
Chegamos em uma van preta, Alan corre para pegar minhas malas enquanto eu sento no banco da frente, bem ao lado dele. Eu não vou ficar para trás. É verdade que ele é motorista, mas não meu e não acho certo deixá-lo sozinho.
Bocejo novamente quando Alan se senta ao meu lado e percebe minha presença. — Você não quer sentar atrás? -
- Eu estou bem aqui. E preciso que você fale comigo, senão corro o risco de desmaiar. -
— Entendo que não pode ser fácil. Se aqui passa um pouco do meio-dia, isso significa que em Chicago são... oito da tarde? -
Eu concordo. - Exato. O fato é que não dormi muito ontem à noite devido à agitação e a viagem foi interminável. Não consegui pregar o olho porque dois recém-nascidos não paravam de chorar e no final duas crianças pequenas vomitaram no corredor. Eu estava prestes a adormecer quando o capitão nos informou que faltavam dez minutos para pousar. -