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Cris
— COMO DIABOS VOCÊ VEIO PARAR AQUI?! — berro praticamente saltando para fora da cama e sentindo o meu coração saindo pela boca. Jennifer solta um grito agudo na sequência, se sacudindo toda e no ato, ela se desequilibra e cai da cama. Rolo os olhos.
Penso que não podia ser diferente percebendo que até acordando essa garota é um desastre.
— Do-doutor Christopher?! — Ela gagueja um tanto exasperada, franzindo em uma perfeita confusão. E para piorar, a porra do desastre está vestindo apenas calcinha e sutiã. Um conjunto sensual e rendado, branca que contrasta perfeitamente com o seu tom de pele.
Meu Deus, o que aconteceu na noite passada? Tomo o fôlego e tento me acalmar.
— Reinhold, você está bem? — Procuro saber, deixando de lado esse meu jeito grosseiro de ser e a ajudo a levantar-se do chão.
— Por Deus, acho que ainda estou viva! O Senhor quer me matar do coração? — A criatura ralha com uma respiração alterada, levando uma mão no peito.
— Só... me conte. O... o que aconteceu aqui? Por que você está na minha casa, na minha cama e pior, só de lingerie? — inquiro.
Eu preciso realmente saber o que aconteceu entre a gente.
— Nada. — Ela diz simplesmente. A encaro mudo por alguns instantes.
Como assim nada?
— Então me explique, por que você está assim... e eu... estou... nós... — ralho, apontando de mim para ela.
Minha aluna revira os olhos.
— É que o Senhor bebeu muito. — Confirmo com a cabeça e a espero continuar. — E eu só o trouxe para sua casa. Eu estava dançando, aí o Senhor apareceu na minha frente. Nós dançamos algumas músicas e... eu não sei. Então você disse que ia embora e a minha amiga notou que o Senhor não estava bem. Eu achei melhor trazê-lo para casa. — Arqueio as sobrancelhas.
— E como fez isso?
— Na verdade, não foi nada fácil. O Senhor é teimoso como uma mula e eu precisei falar muito sério com o Senhor. — Não consigo imaginar esse furacão desastroso falando sério, ainda mais comigo. Não mesmo, por mais que eu me esforce. — E quando chegamos aqui, o Senhor... —Ela hesita. Em minha cabeça mil e uma coisas obscenas se passam e eu engulo em seco.
— E eu?
— Não sei se devo falar. — Ela balbucia e eu começo a perder a paciência. — O Senhor pediu para não repetir nada do que aconteceu na noite passada. — Jennifer explica nitidamente nervosa e eu chego a suar frio.
— Pelo amor de Deus, Reinhold, nós...
— Ah, não! — Ela quase grita a resposta e eu respiro aliviado. — O Senhor me pediu.
— Eu sei o que eu te pedi, mas agora estou pedindo que me fale em nome de Deus, ou eu vou enlouquecer aqui. — A garota balança a cabeça em um sim e depois em um não, e faz sim e não o tempo todo. — Reinhold?! — A chamo impaciente e ela para, lançando-me um olhar nervoso e hesitante.
— Ok, mas depois não vá reclamar! — retruca e vencida, ela se senta na cama.
— O Senhor chorou.
O QUE?1
— O senhor chorou muito e disse...
— Eu falei?
— De... uma bailarina.
Porra, eu não fiz isso!
— Disse com muito desgosto que ela o usou, que foi a melhor transa da sua vida, e...
— Já chega!
— Mas foi o Senhor que...
— Agora estou dizendo que já chega, Reinhold! Só... não fale mais nada, ok? — exijo e a vejo engolir em seco. Contudo, ela assente.
Droga, ela parece um filhote de passarinho indefeso precisando de cuidados!
O que você está dizendo Christopher Ávila, a caso está ficando maluco?! Repreendo-me imediatamente. De repente me arrependo de ter gritado com ela, a final de contas, eu sou a porra de um fodido e ela não tem culpa de nada disso.
— Está com fome? — Mudo de assunto e outra vez ela parece confusa.
Muito foda mesmo! Ela é uma mistura maluca de menina inocente com uma mulher sexy e isso mexe muito comigo.
— O senhor muda muito rápido de assunto. — Um sorriso ingênuo se abre nos seus lábios e suspiro me sentindo a porra de pervertido.
Deus, dai-me paciência!
— Eu estou faminto, não comi nada na noite passada — ralho me afastando para ir vestir um short e claro, desviar os meus olhos de cima dela.
— Ah, eu estou com fome também.
— Ótimo! Eu posso fazer um café da manhã para nós dois. — Então vejo os olhos puxados crescerem absurdamente.
— O Senhor vai fazer o café da manhã?
Me pergunto por que o espanto.
— Por quê, não acredita que eu sei cozinhar? — retruco agora mais leve.
A garota sai animada da cama e inevitavelmente os meus olhos percorrem avidamente pelo seu corpo seminu.
Delicioso e moreno dentro dessa lingerie.
Respiro fundo.
Definitivamente você é a droga de um pervertido, Cris Ávila! Ralho comigo mesmo, entro no meu closet e pego duas camisas. Visto uma e lhe estendo a outra. Contudo, a minha aluna me lança um olhar aturdido.
— Você precisa se vestir, Reinhold — explico
— Ah tá! — Escuto falar assim que saio do cômodo e fecho a porta atrás de mim.
?
— Uau! — Escuto o som da sua voz e no ato ergo a minha cabeça para fitá-la.
CA RA LHO!
Se arrependimento matasse com certeza agora eu estaria a um palmo do inferno. Penso quando os meus olhos desbravam o corpo franzino usando a minha camisa. A peça chega até a metade de suas coxas e para piorar ela está descalça. Os seus cabelos estão soltos. Eles são compridos e estão úmidos.
Definitivamente esse é um convite para o pecado. Penso esquecendo-me de respirar.
Eu não sou a favor de envolvimentos com colegas de trabalho, menos ainda com os residentes e a Jennifer é uma residente. Penso recobrando a minha sanidade. Contudo, a observo enquanto ela olha para todos os lados da minha cozinha e os seus olhos brilham em expectativas.
— A sua cozinha é um show à parte, Doutor — comenta baixinho, passando a mão pelo balcão de porcelanato branco.
— Gosta de cozinhar, Reinhold?
— Na verdade, eu amo! — Ela responde rápido. — Quando o meu pai era vivo, ele costumava me ensinar os segredos da culinária mexicana — fala um pouco melancolia.
— Você é mexicana?
— Não. Eu nasci aqui mesmo. Acho que já te falei sobre isso. — Rio porque me lembro da sua tagarelice no primeiro dia de trabalho.
— É, você disse.
— O meu pai era mexicano. Ele conheceu minha mãe quando chegou aqui nos EUA. Ele me contava que foi amor à primeira vista e que eles se casaram um mês depois de se conhecerem.
— Uma história bem legal, mas eu não acredito muito nesse negócio de amor à primeira vista — confesso, porém, ela dá de ombros. Vou até a geladeira e pego um iogurte, suco de laranja e ponho sobre o balcão.