Continua Capítulo Um
Parte 2
_ Seu quarto? - ela franziu a testa e torceu a boca _ Seu quarto? - repetiu.
_ Você ficou lenta, Juliana?
Ela apertou os olhos e olhou com calma em volta. Realmente era um dos quartos da ala de empregados da fazenda de Joel, seu irmão.
Já tinha entrado em alguns quando estavam sendo construídos e eram basicamente o mesmo, mudando poucas coisas de acordo com o gosto pessoal de quem o ocupava.
Havia a cama, uma janela grande com a cortina meio aberta, uma porta que era do banheiro e mais outra que era da sala pequena que todos os quartos tinham, onde com certeza estava a tevê.
Ela esfregou a testa pensando no que tinha feito na noite anterior para estar ali, onde com certeza deveria passar longe. Seu estômago revirou e ela sentiu um gosto ruim subir por sua garganta. Tinha bebido demais na festa do irmão.
Não queria nem voltar a olhar para ele.
Estava nua no quarto de Vítor. Pior, estava nua embaixo do lençol, na cama dele. Isso não era nada bom.
Queria que um buraco se abrisse agora e ela fosse tragada para o fundo de vez.
“Que merda eu fiz, meu Deus?”
Tentou lembrar direito da noite anterior, mas sua cabeça doeu e sua barriga roncou alto. Era só o que faltava acrescentar no livro de idiotices de sua vida. Pelo jeito tinham transado.
E agora teria que dar um jeito de sair daquela situação com um dano menor do que o que já tinha acontecido. Pelo menos com um pouco de dignidade.
De vez em quando ela costumava fazer coisas burras e idiotas, mas nunca tanto assim.
Vítor percebeu que ela não estava bem. Sua postura encolhida, seu rosto vermelho e a cara de susto mostravam isso. Juliana cobriu o rosto com as mãos e suspirou alto.
Dava para ver que ela se sentia envergonhada de estar ali.
Uma pena ela se sentir assim. Observou seus ombros, seu cabelo assanhado, suas unhas compridas que o haviam arranhado noite passada.
Juliana era mesmo muito atraente.
Quando ela suspirou de novo e fez um som de insatisfação, ele voltou a pensar no problema.
_ Juliana, venha para a cama.
Ele disse isso só para que ela saísse do chão frio, mas pelo jeito ela entendeu errado.
_ Você é doido? - apertou os lábios.
_ Eu só quero te...
_ Eu sei bem o que você quer - puxou mais o lençol e gemeu de dor _ Minha cabeça está me matando - ela apertou os olhos.
_ Eu sei, a minha também.
_ E eu com isso?
Ela foi rude, mas é porque o nervosismo tomou conta dela e mais um pouco estaria em pânico, então não dava para ser educada.
Ele riu.
_ Não precisa ser grossa, sabia? - riu de modo sarcástico e a alfinetou _ Ontem você não estava assim.
Ela o olhou tão feio que ele pensou que sua cabeça fosse cair no chão, ressecada.
_ Desculpe, mas de nada adianta você brigar comigo agora... E gritar também - ele apertou a testa de novo _ Minha cabeça também dói.
A lembrança da noite anterior passou pela mente dela. Vítor a beijando, em cima de seu corpo, suas mãos por seus seios... E quando ele a penetrou e ela se derreteu.
“Infernos”.
Vítor estava recordando o que haviam feito na noite anterior como se fosse um filme erótico de qualidade, com imagens bem nítidas.
_ Tem razão... Desculpe - ela murmurou.
“Não chore mulher”.
Foi o que Vítor pensou ao perceber que os olhos dela ficaram marejados. Ele detestava mulher chorona e nem sabia como agir quando elas abriam o berreiro.
Só faltava Juliana chorar agora.
Ela queria chorar, mas segurou para não deixar as lágrimas correrem. Talvez precisasse delas depois quando os irmãos descobrissem o que ela havia aprontado dessa vez.
E a vergonha de estar ali que só aumentava, sabendo que ele estava olhando para ela? De repente seria até bom deixar um dos irmãos mais velhos matarem ela, assim não olharia de novo para Vítor.
Só que ela agora precisava manter a calma e ter um pouco de juízo para sair dali. Puxou o ar e olhou para ele, tentando ficar calma.
_ Bem, será que você pode sair para eu pegar minhas roupas e dar o fora?
Ele torceu a boca e começou a levantar quando ela deu outro grito, o fazendo cair para trás e bater a cabeça na cabeceira.
Olhou feio para ela.
_ Desculpe, desculpe... Foi sem querer. Não queria gritar, saiu... Não precisa me olhar como se fosse me bater.
_ É uma boa ideia... Peste - resmungou.
_ É que você está nu - gesticulou _ E não estou a fim de ver.
_ Ontem você pediu - fez cara sarcástica.
_ Ontem... Foi ontem. Fique aí mesmo - coçou a testa _ Estou me sentindo tão enjoada que tenho até vontade de vomitar.
_ Não no meu quarto, pelo amor de Deus.
Ele gemeu e ela o seguiu. Ambos estavam com dor de cabeça e mareados.
Juliana respirou fundo duas vezes e segurou no colchão para levantar. Ao fazer isso pisou no lençol e repuxou, ficando nua para o olhar dele.
Vítor aumentou os olhos. Juliana era muito bonita e lembrar que passaram a noite juntos fez seu sangue correr mais rápido. Ele abriu a boca para falar, mas não disse nada, fitando seu corpo devagar.
Ela sabia que aquele olhar era de análise e não tinha vergonha de seu corpo. Seu problema era ele ter visto. O encarou de volta.
Vítor tinha o cabelo castanho lindo. Ela já tinha reparado nisso desde quando o conheceu. Até já tinha pensado se seria bom enfiar os dedos por ele.
Ao que parece ela tinha feito isso.
Ele mirou os olhos castanhos brilhantes dela, como um âmbar aceso. Olhos que poderiam levar um homem á loucura.
Desde a primeira vez em que a vira, ele tinha notado esse brilho em seus olhos.
Os três tinham olhos iguais, uma herança do pai deles. Joel e Jessé também tinham o olhar brilhante como o dela, mas se soubessem o que ele havia feito com a irmã, esse olhar seria de morte, com certeza.
E a vítima era ele.
Ela tinha o sorriso lindo e sua risada faria todos ficarem de joelhos se ela quisesse. O temperamento dela era explosivo, mas era doce e gentil também. Dependia muito do momento. Mas algo que sabia sobre ela era que era confiável. Já notara isso.
Um dos problemas que o impediam de chegar nela antes era esse. Juliana era diferente dele em muitas coisas. Ela não era bonita só por fora, mas tinha um bom coração também e estava sempre disposta a ajudar os outros.
Ele era mais cínico, cansado de coisas em sua vida que o fizeram ser mais seco, em especial com relação ás mulheres.
Ela tinha dinheiro, ele não. Ou não tanto como ela.
A fazenda onde trabalhava pertence à família dela, ele é só um funcionário como todos os outros do lugar.
Não era certo se envolver com ela, mas com a bebida falando mais alto, ele foi ousado o suficiente para dar o primeiro passo. Ter feito amor com ela tinha sido maravilhoso, mas ela não pertencia a ele e nem ele a ela. Eram diferentes.
Ele era vivido demais e ela não.