Continua Capítulo Dois
Parte 2
Apesar de ser um novo tempo, em Andaluz algumas coisas ainda eram como antes. Tudo bem que eles tinham três clubes voltados ao sexo com eventos e até aulas sobre o assunto, mas no geral o resto da cidade seguia o ritmo de sempre, moldando suas vidas como aprenderam.
Ter colocado Juliana nessa situação foi errado e se cara feia matasse, ele estaria seco e esturricado no seu tapete agora com a cara que o irmão dela fazia.
Seu olhar era tão penetrante que se fosse possível ele quebraria seus ossos sem nem mesmo tocar nele. Parecia que era um bandido procurado pela polícia e que havia feito o maior crime do mundo. Algo sem fiança.
Juliana ficou olhando de um para outro e se aproveitou do momento para falar, enquanto eles se encaravam como dois pitbulls raivosos.
_ Será que pode parar com essa babaquice? - levantou puxando o lençol apertado na frente do corpo.
O irmão a olhou com o rosto vermelho de raiva e respirou fundo, segurando o ar, tentando se acalmar.
_ Olhe aqui, Vitor, isso não se faz - apontou _ Quero que você saia agora da fazenda e não volte.
Ela arregalou os olhos. Não podia deixar isso acontecer. Também era culpada. Se aproximou dele apertando o lençol para não cair.
_ Não quero que faça isso, Jessé - disse irritada _ E não preciso que você cuide de minha vida.
_ Cuido sim! - quase gritou _ Você é minha irmã mais nova e precisa que alguém cuide de você.
_ Não preciso de sua proteção - bateu a mão na perna _ Isso é problema meu.
_ Você é meu problema - levantou o dedo _ E você - se virou para Vitor _ Saia logo, estou avisando.
_ Isso é errado, eu sou maior de idade, sei o que faço.
_ Ah, claro - deu uma risadinha _ Percebe-se!
Ela inchou de raiva puxando o ar.
_ Não seja machista!
_ E você não seja burra - fez uma careta.
_ E você não seja hipócrita, Jessé! - gritou.
Quando ele conheceu a atual esposa, Briana, ela namorava um outro rapaz e estava para se casar. Ele a convidou para ir ao cinema e ver um filme. Nunca viram o filme realmente porque antes de chegar ao cinema, pararam em um local deserto e ali mesmo ele tirou sua virgindade.
Não estava apaixonado por ela, mas sentia atração e foi um escândalo quando ela terminou o namoro para ficar com ele. Acabaram se casando às pressas para evitar mais fofocas e confusões. Muitos na cidade ficaram divididos e ele quis evitar um problema maior.
Uma parte é moderna até demais, mas tem a outra parte do lugar que ainda insiste em manter os costumes e para azar dele, na época, foi essa parte que mais caiu em cima dele e resolveu que deveria assumir o erro, já que foi ele quem deu em cima de Briana. Mas, hoje em dia eram muito felizes.
_ Não me venha com essa, Juliana - ele disse acendendo as narinas _ Não estamos falando do meu passado e sim do seu presente. Não queira mudar o rumo da conversa.
_ Será que eu posso... - Vitor tentou falar.
_ Você não pode nada... Tem até o meio dia para sair.
_ Pelo amor de Deus, isso é ridículo demais - ela disse.
_ Não tanto quanto o fato de você estar nua - falou alto _ No quarto de um empregado da fazenda - abriu os braços irritado.
_ Ahhh... Então é esse o problema? - ela rebateu.
_ Não, mocinha, não é. Você não pode ficar nua no quarto de ninguém... Não importa quem ele seja.
_ Você não manda em mim! - bateu o pé com força.
_ Vamos ver se não - deu um risinho cínico _ Sorte sua que quem a achou fui eu. Se fosse o Joel você iria até levar uma boa surra.
Ela arregalou os olhos e abriu a boca, admirada com o que ele havia dito. Um absurdo.
_ Ei... Pare ai - Vitor se intrometeu _ Não pode falar com ela desse jeito.
Ele sabia que o irmão até poderia ter razão, mas falar em bater nela já era demais. A culpa tinha sido mais dele do que dela. Não ficaria calado sabendo que foi ele o causador da discórdia entre os dois e não queria que ela ficasse magoada.
_ Pode colocar a culpa de tudo em mim.
_ Pode apostar que sim - Jessé o olhou feio de novo.
Juliana ficou apavorada. O irmão não queria parar para ouvi-la e não queria que Vitor fosse o único responsável por algo que os dois haviam feito. Ele perderia o emprego, ficaria mal falado na região e talvez os amigos da família nunca mais lhe desse emprego. Estaria arruinado por sua culpa. Em um ato de loucura, sem pensar direito, ela foi para o lado de Vitor.
_ Não pode mandá-lo embora - ergueu o queixo.
_ E por que não? - o irmão cruzou os braços.
_ Porque... Porque nós vamos nos casar. Por isso.
“Jesus, me socorre. Que merda eu falei?”
Ela ouviu a respiração pesada de Vitor ao seu lado e o encarou, apertando os lábios e tentando fazer com o olhar que a ajudasse nessa mentira para que pudessem resolver tudo.
Depois que o irmão saísse poderiam pensar em como resolver a mentira. Segurou seu braço e apertou para que ficasse calado sobre a loucura que acabara de soltar. Só queria apoio momentâneo.
Jessé apertou os olhos, desconfiado.
_ E isso é verdade?
_ É claro que sim - balançou a cabeça _ E eu iria mentir para você?
_ Iria sim - se inclinou para a frente _ Você é muito espertinha e é bem capaz de mentir só pra que eu não encha a cara desse aí de porrada.
Vitor encheu o peito de ar e virou a cabeça. Era só o que faltava para aumentar a confusão. Entendia o que ela queria fazer, mas não era certo.
Ainda assim ele entrou nessa e passou o braço por sua cintura a puxando contra si.
_ Primeiro, você não ia me encher de porrada - fez uma cara crítica _ Só me pegou desprevenido. E segundo, pare de brigar com ela, eu não gosto disso.
_ Ah, não? - Jessé riu _ E isso é mesmo verdade?
Vitor sentiu o corpo dela enrijecer. Ele também estava preocupado. A abraçou mais.
_ É verdade sim - ela disse _ Eu só não falei nada porque todo mundo estava muito ocupado com o casamento do Joel e da Analice. Só por isso - deu de ombros.
_ Só por isso? - ele espremeu o olhar.
_ Foi sim - engoliu em seco.
_ Isso é verdade? - perguntou a Vitor, ainda desconfiado _ Você vai se casar com ela?
_ Por que pergunta a ele se eu já falei? - se aborreceu.
_ Porque sei bem como funciona sua cabecinha - disse de modo crítico _ E por que estavam juntos em segredo?
_ Para não tirar a atenção do casal principal. Já falei.
Ele torceu a boca fazendo um bico. Ainda não estava de todo convencido.