Prólogo -Me Ame (livro 1)
Isla
O décimo quinto ano de vida de toda garota deveria ser mágico, especial. Deveria ser a época em que ela floresce como uma rosa e se desenvolve feito gente pequena se transformando através da bela e conturbada fase de metamorfose a qual nomeamos de adolescência, para o mundo dos adultos. É aos quinze anos que as meninas aprendem as lições mais valiosas que levará consigo para o resto da vida, como maturidade, altruísmo, responsabilidade e franqueza. É quando nossas mães deveriam nos ensinar a sermos mulheres melhores para a sociedade e o mundo.
Isto é, em um mundo totalmente utópico. Porque na vida real, a prática é bem diferente.
Bem, pelo menos foi assim para mim.
Meu nome é Isla Tibuco e vivo em um bairro simples, porém com uma crescente taxa de criminalidade se alastrando pelas ruas e vielas da vizinhança. Somos eu e minha mãe desde que me entendo por gente, ou seja, desde sempre. Nunca conheci meu pai, mas não importa, ele nunca fez falta mesmo. Bom, talvez ele tenha feito falta quando nunca pagou minha pensão e por esse motivo, diversas vezes mamãe teve que fazer horário extra na fábrica para conseguir manter nossas despesas em dia e não passarmos fome. Ela não gostava de tocar no assunto, na verdade nós nunca conversamos de verdade sobre o assunto, parecia ser delicado de mais para mamãe e sempre procurei não aborrece-la com minhas perguntas idiotas quando a mesma chegava exausta do serviço a ponto de capotar sobre a cama e dormir por horas a fio sem ao menos se alimentar primeiro.
No pouco tempo livre que mamãe dispunha costumávamos passear pelo quintal dos fundos da nossa casa, já que sair para lugares turísticos da cidade não era uma opção viável financeiramente e pelas nossas redondezas era perigoso de mais para duas garotas como nós se arriscar. Eu adorava esses momentos em que trabalhávamos juntas no plantio de flores e outras hortaliças no jardim, que cantávamos canções antigas ao som do velho rádio que ficava sobre a cadeira de balanço enferrujada e que possuía um pé quebrado. Eu amava o som de sua voz, de sua risada ou quando lia histórias para mim ao deitarmos na grama que rodeava o pequeno jardim que construímos e sabor inigualável de sua comida caseira.
Mesmo em minha pouca idade, eu já me assemelhava muito a minha mãe, Laurásia, que mais se parecia com uma menina de tão pequena que era sua estrutura corporal, e que o passar do tempo e trabalho árduo só fizeram com que sua figura se encolhesse ainda mais.
Contudo, mesmo em meio a tantas adversidades e obstáculos impostos pela vida nós duas éramos felizes. Pelo menos eu me sentia me sentia assim e era muito grata pelas coisas que possuía como uma mãe que me amava e fazia de tudo por mim, uma casa onde morar, comida em nossa mesa e por estudar no colégio mais importante e tradicional da cidade.
Bem, talvez eu não fosse tão grata por tudo, como por exemplo estudar no Potossin Honório, um lugar onde só os filhos de grandes personalidades de nosso pequeno município e os absurdamente ricos estudavam. Mas eu também não poderia reclamar, pois não era todo dia que um aluno de escola pública e sem grana como eu que ganhava uma bolsa de estudos integral para a instituição mais exigente e disputada do estado.
Porém quando se tem apenas quatorze anos de idade a única coisa que sabemos fazer é reclamar, então não se pode levar em consideração os pensamentos e sentimentos confusos de um adolescente.
Tudo seguia o fluxo normalmente como deveria ser, até que um dia, em meu décimo quinto ano de vida perdi tudo que conhecia e amava. Eu perdi minha mãe e fiquei literalmente sozinha no mundo.