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CAPÍTULO 5

SOFIA SALAZAR

Minha cabeça parece que está prestes a explodir e o som de um apito alto e estridente não para de soar por meus ouvidos, causando uma dor horripilante que me faz ranger os dentes com força. Minha garganta parece estar cheia de serragem e é difícil de respirar. Uma sensação de sufoco aperta o meu peito e eu me pergunto se estou morrendo. Ou será que ainda estou dormindo e isso não passa apenas de um pesadelo ruim?

Meu corpo está pesado de mais o que impossibilita que eu consiga me movimentar ou abrir os olhos e saber o que se passa a minha volta. Meu nariz coça de modo tão forte que tenho vontade de espirrar.

O que está acontecendo comigo?

Estou quase mergulhando do estado de semiconsciência de volta para o de inconsciência quando sinto que tudo a minha começa a tremer.

O que raios está havendo?

-Que merda. -eu resmungo chateada e um pouco irritadiça também.

-... Acorda, acorda sua louca.

Dessa vez tenho certeza de que não é um sonho quando sinto meus braços sendo sacudidos freneticamente para frente e para trás e, ao ouvir uma voz desconhecida ordenando que eu acordasse imediatamente.

MAS O QUE? COMO ASSIM TEM OUTRA PESSOA AQUI NO MEU APARTAMENTO? E AINDA POR CIMA ME ACORDANDO?

-Ai, meu Deus! -acordo sobressaltada.

Ao me levantar com extrema rapidez e com meus reflexos praticamente nulos, não percebi uma cabeça gigante em minha frente e acabo acertando-a com a minha em um baque surdo.

O impacto foi tão forte que acho que cheguei a ver estrelas rodeando minha visão por alguns segundos.

-Ai, caramba! -a pessoa reclamou do outro lado ao se afastar com uma mão sobre a testa.

-Q-quem é você e como entrou aqui? -dei um grito agudo em pânico.

Puxei a toalha que havia usado anteriormente e a coloquei a minha frente como se fosse algum tipo de muro de proteção. O que era bem patético mediante a situação, confesso. O estranho agora estava de costas para a mim e eu pude perceber em uma rápida análise que estava molhado.

Mas porque? -é o que eu me perguntava.

Quem em sã consciência invade a casa dos outros de madrugada molhado? Só estivesse querendo adoecer ou fosse louco. Entretanto, antes que pudesse fazer ou falar algo, comecei a tossir sentindo a garganta seca e o nariz irritado. Nesse momento, o homem se virou novamente para mim e me estendeu a mão.

-Vamos logo. -disse com o semblante sério esperando que eu realmente fosse segui-lo.

Ele estava bêbado por acaso? Por que acha que eu faria algo do tipo se nem ao menos o conhecia?

-Cada minuto que você fica aí parada feito um tijolo, maior é o perigo. Precisamos sair, agora. -ele insistiu mais uma vez.

Foi então que percebi. De início acreditei que era fruto da minha imaginação ou vestígios ds sonolência me pregando uma peça, mas observando melhor, agora eu podia enxergar com clareza o motivo da dificuldade em respirar, como se houvesse um caminhão sobre meu peito. Havia fumaça para tudo quanto era lado, e boa parte dela começava a invadir o quarto.

Despertando do transe que toda a situação me causava, salto da cama em um pulo e corro ainda descalça em direção a saída do quarto. Com a visão parcialmente comprometida pela fumaça enegrecida que preenchia o ambiente, senti o pânico invadindo minhas veias, então só pensei em continuar a correr, sem me importar com as palavras que aquele homem dizia logo atrás de mim, eu só queria sair dali o mais rápido possível.

E esse foi o meu primeiro erro, o segundo foi não perceber que o piso do corredor estava completamente encharcado de água. Porque em seguida tudo aconteceu muito rápido, meus pés deslizando sem controle algum, eu soltando um grito de susto e depois disso minhas costas batendo contra o piso.

-Por Deus, garota! Eu tentei avisa-la. -o estranho se aproximou furioso. -Consegue ficar de pé? -ele perguntou ajudando-me a levantar do chão.

-Consigo, está tudo bem. -respondi sentindo uma pontada de dor irradiar por minhas costas e me retraí ao sentir sua mão tocando sobre o local enquanto ele me guiava rumo a sala de estar, e consequentemente a saída.

Quando já estávamos no corredor é que eu pude ver a gravidade da situação, havia muitas pessoas por ali olhando com curiosidade para a porta do apartamento que exibia uma negra nuvem de fumaça que espalhava-se para fora do local.

-Menina Sofia, que susto você nos deu! -Ed me puxou para um abraço, mas parou no meio do ato.

Ao invés de me abraçar como pretendia, ele retirou o casaco de frio que usava e o passou por meus ombros fechando o zíper na frente em seguida.

-Eu não sei o que está acontecendo. O que houve, Ed?

-Eu também não sei muito sobre o ocorrido, acabo de chegar aqui em cima agora. Mas pelo que soube, algo pegou fogo no seu apartamento o que fez com que o alarme de incêndio disparasse. Só que levou algum tempo para que isso acontecesse, provavelmente devido a falta de manutenção do sistema já há algum tempo. Acho que eles vão interditar o local e fazer uma vistoria antes de libera-lo novamente.

-O que? Não! Eles não podem fazer isso. Como... Como eu vou fazer? -eu que até o presente momento só o ouvia inerte e incapaz de raciocinar com clareza, me desesperei com a última parte dita. -Eu não tenho para onde ir. O apartamento não pode ser interditado! -afirmei com raiva.

-Sinto muito, menina. São normas de segurança do edifício. Isso é apenas para evitar que um desastre ainda pior aconteça.

-Não... -balbuciei com os olhos marejando imediatamente.

-A não ser que você pretenda morrer asfixiada, então sim, eles irão interditar aquilo ali. -o cara que havia me tirado de dentro do apartamento e que eu não havia percebido estar por perto, disse parando a minha frente com os braços cruzados sobre o peito.

A camisa moletom que usava estava praticamente toda molhada e colava-se parcialmente a seu torso. Seus cabelos loiros escuros e úmidos lhe caíam sobre os olhos que possuíam uma tonalidade de azul esverdeado muito bonito .

Espera aí, eu conheço esse cara! Eu já o vi antes quando... Ai meu Deus, eu não acredito nisso!

-Ei, eu reconheço você de algum lugar. -o sondei antes de dizer algo, para ter certeza.

-Vendo-a melhor agora também me recordo de seu rosto. Seu nome é Sofia, se não me engano.

-Sim. E você é o...

-Nicolas. -ele me cortou. -Moro no Greenpark em Jardim dos Vales. Você já esteve lá uma vez. Com a Fernanda. -completou fazendo-me ter plena convicção de que ele era mesmo quem eu estava pensando.

Então um pensamento logo me atingiu feito uma pancada forte e certeira: Ai meu Deus. Eu sabia! Estou perdida!

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