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Grávida?

Karen

Eu olhei para Camila com uma mistura de emoções. O horror e a felicidade se misturavam dentro de mim enquanto absorvia a notícia e logo fui recompensada com um abraço forte e apertado.

— Você será mamãe, Karen! — A minha amiga falou baixinho, a emoção transparecendo em suas palavras.

— Sim… — Foi tudo o que consegui dizer — Eu vou ser mãe.

Aquela palavra tem um som tão belo, mas naquele momento me deixou assustada.

A magnitude daquela palavra, "mãe", ressoou profundamente dentro de mim. É um papel que traz consigo uma responsabilidade imensa, o dom de dar vida e cuidar de outro ser humano. O assombro da nova realidade começou a se misturar com a alegria.

Eu não conseguia entender como isso pode ter acontecido. Othon e eu usamos proteção em todas as vezes que fizemos sexo naquela noite, mas quando o meu ciclo atrasou por semanas, não tive dúvida em fazer um exame de gravidez. Aparentemente, tudo estava acontecendo na minha vida naquele momento e uma gravidez só iria coroar todas aquelas mudanças.

Eu me perguntei se estaria pronta para isso, se seria capaz de oferecer tudo o que meu futuro filho ou filha merecia. As dúvidas e incertezas me envolveram, mas, ao mesmo tempo, uma chama de determinação surgiu dentro de mim e olhei para Camila, encontrando apoio e conforto em sua presença. Juntas, nós vamos enfrentar essa nova fase da vida, compartilhando os altos e baixos que inevitavelmente virão.

Nós tínhamos acabado de receber o resultado do exame e quando o médico me chamou novamente a sua sala para transmitir algumas orientações, tudo o que consegui foi sorrir. De nervosismo e felicidade. Mas quando chegamos em casa, Camila fez a pergunta que eu mais temia naquele momento.

— Imagino que o pai é o homem com quem você esteve em nossa última noite em Fernando de Noronha — Foi mais uma afirmação, na verdade.

— Sim, ele é o pai do filho que estou esperando agora — Confirmei com fingida tranquilidade — Max e eu não nos mantemos por mais de um mês antes do… antes do término.

— Você tem ao menos alguma ideia de quem ele é ou aonde podemos encontrá-lo?

Suspirei com irritação.

Eu sei que encontrar o pai da criança não seria uma tarefa fácil. A minha conexão com ele foi apenas uma noite de diversão em Fernando de Noronha, e eu não sei muito sobre ele além de algumas informações soltas. Nós não tivemos muito tempo para jogar conversa fora, pensei com desgosto. Othon me deixou sozinha na suíte para resolver uma “emergência”. Quando a noiva dele chegou na suíte, eu logo entendi qual emergência ele foi atender.

— Não tenho muitas informações sobre ele. Foi apenas uma noite e não sei se ele está pronto para assumir esse papel.

Camila deu um leve suspiro e olhou para mim com preocupação em seus olhos. Era compreensível que ela estivesse apreensiva com a situação, afinal, estávamos lidando com uma responsabilidade importante.

— Você precisa tentar encontrá-lo, Karen. É importante que ele saiba sobre a criança e tenha a oportunidade de assumir suas responsabilidades como pai. Mesmo que a conexão de vocês tenha sido apenas uma noite, isso não diminui a importância desse vínculo para o seu filho.

Eu concordei com ela. Sabia que ela estava certa, mas Camila não tinha a menor ideia sobre o que realmente aconteceu na manhã seguinte. A minha amiga não sabe que Othon na verdade tinha uma noiva e que ela estava grávida dele.

— Vou fazer o meu melhor, Camila. Não posso prometer que será fácil ou que ele estará disposto a assumir suas responsabilidades, mas vou tentar encontrá-lo e conversar sobre isso.

Camila me envolveu em um abraço, transmitindo apoio e compreensão. Abracei-a de volta, me sentindo grata por tê-la ao meu lado.

Sentia-me péssima por estar mentindo, mas ainda não estava pronta para revelar toda a humilhação e constrangimento que vivenciei naquela manhã seguinte. Evitar enfrentar os olhares de pena das pessoas que me cercam era minha intenção. Já bastava como todas se sensibilizaram quando flagrei meu noivo com a minha ex-amiga. Ser feita de idiota pela segunda vez em menos de uma semana parecia ser um excesso de azar para um ser humano suportar.

Camila então me aconselhou a enfrentar a situação de frente, inclusive considerando voltar a morar com meus pais. Ela destacou o quão desafiador seria cuidar sozinha de um bebê e conciliar isso com o trabalho exaustivo no hospital. No fundo, eu sabia que ela estava certa, mas a ideia de encarar meus pais com a notícia era assustadora.

— Estaremos juntas nisso, Karen. Você não está sozinha.

*********

Acabei seguindo o conselho de Camila, tomando a difícil decisão de compartilhar com meus pais a realidade da minha situação. O impacto da notícia não foi dos melhores. Eles não receberam a revelação com muita empolgação, compreensivelmente. Eu seria uma mãe solteira e nem mesmo sabia onde encontrar o pai do meu filho, uma lembrança fugaz de uma noite em Fernando de Noronha.

Contar aos meus pais foi um desafio emocional. Eles expressaram preocupações e, mesmo que no fundo eu esperasse isso, a reação deles ainda doeu. No entanto, sabia que Camila estava certa, e precisava encarar a realidade para garantir o melhor para mim e para o meu bebê.

Alguns meses se passaram desde o turbilhão de acontecimentos, e finalmente, o momento tão esperado chegou. Otávio nasceu saudável, trazendo uma alegria imensa para a minha vida de todos aqueles que permaneceram ao meu lado.

Os meus pais insistiram que eu deveria morar com eles, ao menos até que o bebê estivesse em idade escolar. Optamos por vender nossos apartamentos e investir em uma bela casa em um bairro tranquilo, com um quintal espaçoso para proporcionar ao pequeno uma infância cheia de brincadeiras ao ar livre. A decisão de criar esse ambiente acolhedor para o Otávio fortaleceu ainda mais a nossa família.

Camila se mostrou uma amiga incrível, apoiando-me em cada passo dessa jornada e permaneceu ao meu lado em todos os momentos. Os meus pais mudaram completamente de atitude após o nascimento do neto e toda e qualquer ressalva que ainda houvesse da parte deles, desapareceu completamente. O pai do meu filho tornou-se um assunto proibido em minha casa, assim como também em minha roda de amigos. Otávio era meu e de mais ninguém.

Othon ficou para trás e eu nunca tentei entrar em contato com ele, mesmo que o número do seu telefone ainda estivesse gravado em minha memória, como um lembrete da sua mentira. Othon é um grande canalha e eu jamais quero encontrá-lo novamente.

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