Indecifravel
Carolina
Sinto- me uma tola por ter ao menos acreditado que poderia fugir desse pesadelo. Tantas coisas na minha vida já deram errado, ainda sinto falta dos meus pais e a vida naquele orfanato… suspiro afastando as lembranças. Preciso manter a esperança mesmo sendo difícil.
Ergo a cabeça decidida a sair desse carro e ir embora, então meus olhos batem na figura misturada as sombras saindo da escuridão mesmo que sua forma fique envolta por ela. Os olhos verdes fixos na janela pela qual o observo tenho a sensação de que mesmo pelo vidro escuro ele consegue saber que o analiso buscando respostas.
A face bonita fechada em uma expressão sem emoções, um movimento, um olhar e os homens ao seu redor atendem as suas ordens. Usando uma camisa de malha escura sem sentir o peso do vento frio.
Os nós dos dedos fortes contraídos e o ar de poder deixando-o ainda mais bonito se é que é possível a crueldade se transformar em beleza. Seguro a respiração durante todo o momento, ergo as pernas para o banco de couro abraçando os joelhos como uma proteção. Escuto a porta batendo e sinto o carro se movimentando, olho pela janela e as ruas passam cada vez mais rápido com o silêncio pesando. Quando chegamos a rodovia existe apenas o som do motor rugindo e então para..
Estremeço pelo medo sem ter coragem de olhar para ele.
“Vamos Carolina. - Mantenho os olhos distantes dele. - Corajosa o suficiente para fugir dos meus homens mas medrosa demais para me encarar”
O sarcasmo na sua voz acorda uma raiva estranha dentro de mim. Encontro seu olhar indecifrável.
“Não teria passado por algo assim senão precisasse fugir deles”
Posso jurar ter visto o canto do seu lábio se erguer, mas é o soluço alto que escapa dos meus lábios que tem sua atenção.
“Ah criança”
Ele encaixa os braços ao meu redor tentando puxar-me para seu colo, enquanto me debato.
“Não quero a sua pena”
Grito furiosa empurrando o peitoral firme tentando impor uma distância entre nós.
“Sou incapaz de sentir pena”
Encontro o seu olhar e no mesmo instante ele consegue colocar-me por cima do seu colo.
“Não é pena que sente desde que viu a sua esposa me humilhando?”
Questiono curiosa enxugando as lágrimas quentes das bochechas hipnotizada pelas cores que se escondem contra as pupilas dilatadas.
“Não”
Pisco atordoada esperando que continue mas não o faz, sinto o toque quente da mão calejada na nuca os dedos se enroscando nos fios soltos do cabelo puxando para trás deixando o pescoço exposto. Estremeço com a dor fina na lateral da testa pela pancada.
“Dói muito?”
“Meu abdômen dói mais”
Sinto a pressão da outra mão contra o ponto dolorido no abdômen e a carícia do nariz contra a pele da jugular. Quando solta os meus fios abaixo o rosto encontrando as mãos sujas de sangue, fico assustada.
“Você se machucou? Está doendo?”
Um sorriso maníaco se abre na bela face deixando o maxilar ainda mais marcado.
“Esse sangue seco não é meu.”
Seguro o seu pulso para que não me toque.
“O que você fez?” Minha voz sai estranha com o medo.
“Matei eles”
Nosso olhar se prende em uma conversa silenciosa estranha demais para dois desconhecidos. A compreensão atinge cada um dos meus nervos deixando claro a verdade.
“O que pretende fazer comigo?”
“Estou tão furioso com você, criança. - Seu nariz toca o meu, nossos lábios se encostando levemente- Quero tanto te foder dentro desse carro, quero te matar por ir contra as minhas ordens.”
Arregalo os olhos ao mesmo tempo que sinto um calor estranho em meio a pulsação forte no peito.
“O que quero fazer com você? são tantas coisas”
Quero abrir a porta e correr, quero bater nele, quero gritar por ter colocado aqueles homens atrás de mim, quero tantas coisas mas acabo ficando aninhada no seu colo por mais um momento enquanto morde meu lábio com força.
Volto para o meu assento ansiosa sem saber como lidar porquê é indecifrável o que está acontecendo entre nós.