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Beatrice Costello

Minha cabeça parece pesar uma tonelada, sentindo uma dificuldade terrível tentando abrir os olhos com o corpo pesado, trazendo de volta as memórias da última semana, o espancamento, o aborto, a fome e finalmente o prazer em ver seus olhos se abrindo assustados ficando furiosos ao descobrir quem seria seu algoz.

O gosto saboroso da sua morte cobrindo cada uma das dúvidas e dos temores, fazendo com que o monstro alimentado por tantos anos finalmente se libertasse, tomando lugar ao sol, desejando expor a façanha para o mundo do mesmo jeito que deseja mais sangue.

O medo assola, será que alguém descobriu?

Meus irmãos estariam mortos agora?

Bianca onde está?

— Finalmente! – Fui respondida pela voz doce e então abri os olhos.

Bianca, minha irmã gêmea com os cabelos tão loiros quantos os meus, e os olhos escuros herdados de nossa mãe brilhando no local com uma iluminação amarelada sem conseguir esconder a beleza dela.

— Eu te amo, e amo mais ainda por ter tido a brilhante ideia de morrer – Sua gargalhada repercutiu pelo lugar.

E finalmente sentindo algo batendo, percebi as lágrimas escorrendo pelas bochechas.

— Nós conseguimos? – Suspirei com o peito pesando, com uma letargia para falar talvez um efeito da droga.

Respirando fundo querendo ter alguma notícia dos três bobos, os únicos homens que agora tenho certeza de que sempre me amaram.

— Ainda não – A voz de Frank soou grave fazendo virar o rosto.

O local parece ser um pequeno apartamento, o teto meio mofado, Frank sentado em uma poltrona ao lado da cama entendeu as perguntas silenciosas.

— Seus irmãos precisam derrubar os Sartori para que possamos respirar em paz – Sua declaração, fez com que as memórias atingissem a minha mente rapidamente.

— Precisamos ajudá-los de alguma forma, não vou suportar saber que morreram pelo meu egoísmo.

Sim, meu egoísmo afinal foi para isso que nasci para servir ao meu marido e ainda falhei.

Bianca pareceu entender a aflição, apoiando a mão na minha bochecha esquerda.

— Não sei como posso ajudar, até dois dias atrás era apenas uma esposa troféu – Ela suspirou — Sim, eu sei, você ficou um dia a mais apagada, quase enlouqueci achando que poderia ter morrido.

O carinho da sua mão atingiu uma parte sensível, o que deveria ser um hematoma do soco.

— As duas podem começar a ajudar se trocassem de rosto – Frank bufou — O problema é se descobrirem o plano, então vão nos pegar aqui, fora isso as duas podem ficar vivendo aqui.

O plano do soldado não pareceu agradar minha irmã, nem é meu objetivo.

Preciso achar uma forma de fazer com que os De Angelis se voltem contra Don Sartori, as duas maiores famílias vão se matar abrindo espaço para a tradicional família Costello, agora reduzida a três membros.

Bianca comparecia a todas as festas, enquanto só ia às festas quando Stefano declarava que tinha tido um bom comportamento, ela deve saber das moças solteiras que podem fechar acordos ao se casarem com nossos irmãos. É o destino delas e, honestamente, não me sinto um pouco culpada, como Jack havia falado: Eles seguem as regras da família, honrar as esposas.

Meus irmãos não seriam como Riina ou Sartori, eles seriam o futuro da família e esse pensamento arrancou um sorriso do meu rosto dolorido.

Bianca observou como se quisesse descobrir meus pensamentos, mas não fiz questão de escondê-los.

— Preciso de tinta preta, azul, uma tesoura e uma tinta rosa também – Frank ergueu a sobrancelha — Vamos precisar de novos documentos, talvez Jack já tenha providenciado.

Frank bufou como se estivesse tendo um colapso nervoso.

Bianca e eu estávamos esperando que o homem caísse duro no chão, mas ele apenas se levantou e exasperou.

— Ah Beatrice Costello, não é possível que não saiba – Ele falou como se fosse óbvio — Vamos jogar em panos frios já que estamos no mesmo barco.

Acenei com a cabeça enquanto ele se acalmava sentando-se de volta na poltrona, coloquei os pés para fora da cama observando o papel de parede desgastado e uma pequena janela ao lado.

— O que você e Bianca têm de beleza, seus irmãos tem de músculos, a família Costello deveria ter concorrido ao menos a cadeira de Consiglieri e nem ao menos isso seu pai, antes de morrer, tentou fazer. – Ele parou numa dramaticidade impressionante — Porque não queria manchar o nome da família com a inteligência dos seus irmãos.

E foi nesse ponto que Frank me ganhou, o soldado arrancou uma gargalhada quase infinita com sua sinceridade, senti os olhos lacrimejando de tanto rir e as bochechas doendo. Bianca parece estar se desesperando por descobrir que nossos irmãos são burros, só que isso não é novidade nenhuma.

Ora, se Giacomo tivesse um pingo de inteligência, não teria me casado com Sartori e sim com De Angelis, seria mais lucrativo para o comércio de cocaína dos Costello se unir a uma família que tem grande poder de distribuição.

O soldado e minha irmã pareciam estáticos com a crise de risos.

— Outra Frank, isso eu sei. – Falei tentando controlar a respiração, limpando as lágrimas que escorriam — Você acha mesmo que quando Giácomo se ofereceu para matar Stefano, minha linda beleza já não teria planejado tudo?!

Continuei rindo e percebendo que os tolos não entenderam, uma mulher sempre desacreditada, a voz não era ouvida e sua presença descartada na frente dos negócios.

Eles não esperam que uma mulher seja capaz de ser a mente, o que eles não sabem é que nós mulheres agimos como cobras esperando o momento para o bote. Meu marido, que queime com força no inferno, acreditava nisso piamente e agora está mortinho, que pena não é mesmo.

E o meu momento finalmente chegou.

— Ora, ninguém espera nada de uma esposa ou de uma puta, como meu falecido marido gostava de chamar – Respirei fundo pensando em como explicaria de uma forma simples tudo que aconteceu naquele porão quando meu irmão me encontrou.

Vi um copo de água na cabeceira ao lado e tomei, usando a água para organizar os pensamentos pensando calmamente no que posso falar nesse momento, em como as peças vão começar a se mover ao nosso favor.

— Giacomo queria ir atrás de Sartori com a desculpa de que ele havia desonrado a esposa, mas sejamos convenientes, esse tipo de punição só é dada com apoio do Don – Respirei fundo — Além disso, não me livraria dele. Continuaria sendo mantida em cárcere ou talvez pior.

Passei a mão pelos cabelos e Bianca me ofereceu uma presilha, que aceitei de bom grado, visto o calor no cômodo abafado.

— Beatrice, o que você fez?

Entendi minha irmã, em alguns dias havia me tornado outra pessoa. Acolhido uma parte que só existia nos meus mais belos sonhos, neles Stefano morria.

Sorri com o pensamento.

— Planejei, organizei e estripei meu marido – O sorriso só aumentou com a lembrança das vísceras caindo pelo chão.

Os rostos espantados observando o pequeno monstro que Stefano alimentou nesses anos só deram a certeza de quem Beatrice Costello Sartori morreu, não havia culpa na minha face, porque nunca haveria um pingo de arrependimento dentro do que sobrou, do que ele deixou com seus malditos olhos azuis manipuladores.

— Enfim, enquanto Giacomo tentava me convencer de que ele deveria matar Stefano, fiz o plano. – Parei sem ligar para suas expressões, vi o silêncio como um incentivo a continuar — Jack já deve ter providenciado os documentos, foi isso que ordenei a ele e o motivo de ainda não estar aqui, pode ser por ter que incluir mais uma leva de documentos falsos que não estava planejado.

Encarei Frank que absorveu as informações mais rápido do que Bianca.

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