Destino implacável

Alana

Voltei da escola com muito sono, o calor estava de matar! Minha farda estava toda suada, meu cabelo nem se falava então, adeus chapinha que eu fiz ontem.  Aqui no Mandela todo dia é assim, de manhã ,pela tarde e a noite fazem calor não importa em que momento do dia nós estavámos. Só fazia realmente frio quando está muita chuva.

- Amiga! — Vitória veio correndo em minha direção enquanto vários carros passavam.

- Que foi Vic?!—   a encarei.— Você está eufórica. —ri.

- Rodrigo me olhou hoje.— falou com um brilho nos olhos.

Revirei os olhos. Vitória sempre foi apaixonada por Rodrigo, um vapor e amigo do dono do morro.

Bom, nós duas temos apenas treze anos de idade ainda, por isso não concordo com ela em querer se envolver com ele, ainda mais  que ele é um bandido. Porém por aqui era normal,meninas de todas idades se envolverem com eles. Um morro como outro qualquer.

— Amiga. Se ilude menos, o cara só te olhou e você veio correndo que quase foi atropelada.

Vic  se iludia com qualquer coisa, não julgo as vezes sou assim também.

- Você não entende amiga, eu sou apaixonada por ele desde sempre ele nunca me notou Alana. Ele é muito lindo, um sonho

- É amiga, mas eu só quero seu melhor! Se ele é um sonho eu não sei, está mais para pesadelo.

— Blá blá blá. — revirou os olhos e adiantou os passos.

- Vic. - corri atrás dela. - Vem vamos conversar, não fica assim.

—   Poxa eu só tenho você para contar as coisas e você faz pouco caso.

- Não é isso Vic. É que...— penso melhor não quero estragar a animação dela. Ah esquece, vai conta o que aconteceu com você e Rodrigo.

- Ele me olhou e ainda piscou pra mim.— sorriu.

A encarei e só pensava no que ela tinha na cabeça.É ela era muito apaixonada, ainda bem que eu não gosto de ninguém, uma vez gostei de um menino no colegio mas ele me disse que eu era feia, minha primeira desilusão amorosa. Eu não gostava mais de ninguém, muito menos desses bandidos daqui do Mandela, a maioria deles são nojentos e asquerosos, não generalizo tem muitos que são legais. Uns matam por prazer, com sorriso no rosto, outros ainda tem mais piedade, mas mesmo assim quase todos são uns monstros.

Me despeço de Vitória, e vou caminhando pra casa . Moro com minha mãe em uma pequena casa aqui no morro, eramos humildes, não tinhamos muitas coisas, mas eu era feliz com o puco que possuiamos. Minha mãe era uma guerreira, passou por muitas coisas sozinha para me criar, e eu queria retribuir tudo isso algum dia.

Eu não conheci meu pai, ele morreu de enfarto um pouco antes de eu nascer. Sinto muito pela minha mãe, ela me conta que eles tinham um relacionamento muito lindo, e que ele estava super ansioso para me ver nascer,as vezes a pego chorando muito e isso me parte o coração, sem contar as dívidas, aqui é só minha mãe pra tudo. Eu ainda não havia encontrado um trabalho.

Após ficar conversando um pouco com vitoria, cheguei em casa. Tirei minha farda e tomei um banho lavando os cabelos e depois passei um creme e enxaguei. Meu cabelo era cacheado, quase liso, acredito que um ondulado vamos assim dizer, mas eu sempre ia pra casa de Vic passar chapinha para economizar e não precisar comprar creme.

É eu não tinha condições,minha mãe as vezes mal tinha dinheiro para comprar as coisas de casa, vivíamos da pensão de meu pai, e do salário de faxineira dela.

Depois do banho, fui procurar algo pra comer . Não tinha nada. Apenas um miojo, era o que tinha né, enquanto não faziamos compras.

Coloquei o miojo no fogo e depois coloquei o tempero de frango.

Comi tudo fome danada e aquela merenda da escola é pior que a da prisão, e depois fui limpar a casa. Não gostava de deixar a casa para a minha mãe limpar pois ela já chegava cansada demais.

Passei pano na casa toda que não era lá grande, só tinha mesmo um pequena área de serviço onde nós estendiamos roupas.

Limpei a sala, cozinha, os quartos,e o banheiro. Depois de um bom tempo, estava cansada mas pelo menos a casa estava brilhando, me sentei no sofá marrom que possuia aqui na sala e respirei fundo até que enfim acabei.

Fui fazer o dever de casa, quando acabei fui na casa de Vic.

- Oi gata. - falei com ela que estava pintando as unhas. - Já fez a atividade da escola?Vale ponto.

- Eu não quero saber de atividade nenhuma. Vou me encontrar com Rodrigo hoje à noite.

- Como assim Vic?

—  Eu não disse que ele piscou pra mim e tal? Então.. Ele mandou um vapor mandar um recado pra mim para gente se encontrar hoje a noite.

—  Como você vai se encontrar com ele? Sua mãe está em casa Vitória.- falei séria.

— Minha mãe vai pro trabalho à noite! Hoje tem plantão.Graças à Deus. - sorriu.

— Graças à Deus?— Deus deve estar olhando ela com negação. — Você é louca Vitória? Ele deve ter uns 18 anos e você tem 13 , ele é um bandido.

— Ai meu deus. Já que você vai ficar falando eu vou ir me arrumar! - deu as costas e saiu.

Me levantei e fui embora, se Vitória quer fazer isso. Quem sou eu pra dizer mais nada?!

Tenho pena de minha amiga, eu sei que ela é apaixonada por ele. Mas eu sei que ela vai sofrer.

Cheguei em casa exausta , me deitei e dormi. Acordei era umas seis da noite, eu pensava muito em Vitória, no que ela estava prestes a fazer mas eu não podia evitar né, ela escolher dar ou não, porque é obviamente isso que ele quer.

tomei um banho frio mesmo, porque o chuveiro havia queimado, e pra comprar outro agora não estava dando não. Quem sabe mês que vem.

Queria muito falar com Vic mas nem celular eu tinha.

Esperei minha mãe chegar enquanto assistia a novela.

- Oi filha tudo bem? - minha mãe chegou em casa.

- Oi mamãe, tudo e com a senhora , melhorou as dores?

Minha mãe ultimamente estava com muitas dores, deve ser o cansaço ou coisa parecida. Sei lá.

- Melhorou sim. - sorriu fraco. - Trouxe seu jantar.

Todos os dias ela trazia meu jantar do trabalho, a patroa dela era uma senhora muito boa e essa era nossa salvação.

- Obrigado mãe.—agradeço. — Não precisa limpar a casa porque eu já limpei tudo.

- Você é um anjo em minha vida Lana. -  me deu um beijo.

Comi meu jantar e fui dormir.Hoje foi um longo dia. Meus pensamentos estavam confusos.