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Capítulo 05

乡Isabel Dominguez

Um pressentimento ruim estava comigo desde que havia acordado na manhã de domingo, mas veio a confirmação do que poderia ser, somente quando saí do meu trabalho na funerária. Naquele dia resolvi sair do trabalho indo diretamente para a praça, talvez fosse meu instinto chamando-me para lá. Em um dos bancos da praça vi Aurora, uma das minhas melhores amigas, sentada sozinha cabisbaixa. Algo tinha acontecido novamente, provavelmente a culpa era de sua mãe. Ninguém conseguia entender o porquê aquela mulher tinha atitudes tão deploráveis com a própria filha. Minha amiga sofria muito com desprezo e violência de quem deveria protegê-la e amá-la incondicionalmente.

— Aurora, você está bem? — perguntei, sentando-me ao seu lado. Notei suas mãos trêmulas. — Fala comigo, você sabe que pode me contar qualquer coisa. — afirmei, afastando seu cabelo do rosto.

Eramos amigas, não tinha motivo pra ela continuar em silêncio, muito menos guardar segredos de mim. Meu coração ficou pequenininho quando olhei bem para seu rosto, ela estava machucada. Ela não merecia nada daquilo que passava por não ter pra onde ir. Eu não podia oferecer muito, por mais que quisesse, não tínhamos condições de colocar mais alguém para morar conosco. Meus avós não negariam moradia pra minha amiga, contudo, nossa condição financeira não nos permitia sequer ter um cachorro.

— Foi ela de novo, Isabel. Por que ela me odeia? Por quê? — eu não tinha a resposta para sua pergunta. Nos abraçamos forte e juntas começamos a chorar.

Ela tinha tudo pra ser feliz, no entanto, não era, todo o dinheiro que sua mãe tinha era usado na maioria das vezes para afastá-la. A mãe dela no lugar do coração tinha uma pedra.

— Você não precisa do amor daquela mulher. Quantas vezes te disse que o melhor é desistir de tentar entendê-la? Ela pode ter te gerado, mas nunca soube ser a mãe que você merece ter!

Aquela foi nossa última conversa até um desastre acontecer horas depois. Aurora fez algo impulsivo e sem pensar muito bem, deixando a todos preocupados, exceto sua mãe. Para aquela mulher a atitude da filha era pra chamar atenção, nada além de birra. Eu a odiava por ela ser daquele jeito.

Foram dois dias de buscas pôr cada canto da cidade. Luísa e eu ficamos igual zombies indo em cada busca, praticamente estávamos acampando na delegacia para ter notícias. Os guardas-florestais resolveram iniciar uma busca pelas montanhas e pela grande mata. Precisei convencer meus avós de que era necessário minha presença junto com os guardas, então fomos todos juntos na esperança de encontrá-la.

— Aurora! — berrei, quebrando alguns galhos secos para abrir passagem pela mata.

Anoitecia e os bichinhos da natureza resolveram nos dar as boas-vindas, estou falando de um grupo de morcegos. Eu não era uma fresca ou algo assim, porém, fiquei assustada com eles, afinal, eram morcegos e, dos grandes! Nós separamos para procurá-la, mas sem nos afastarmos muito, não precisávamos de mais alguém perdido.

— Tem alguém aqui! — um dos guardas gritou não muito distante de nós. Saí correndo em sua direção, sem me importar que pudesse pisar em alguma cobra venenosa.

Trazia comigo uma lanterna, iluminei em sua direção, naquele momento a emoção tomou conta de mim.

— É ela! — afirmei, aproximando-me depressa dela. Minha amiga estava em posição fetal, deitada perto de um arbusto. Meu escândalo fez ela abrir os olhos assustada.

— Isabel? — perguntou confusa.

— Sim, sou eu! Não faça mais isso, por favor! Eu morreria se algo te acontecesse, Aurora!

Segurei sua mão fria, puxando-a do chão para um abraço. Consolei minha amiga e procurei entendê-la por ter feito o que fez. Na volta para sua casa, prometi que tudo mudaria, e de que juntas, conseguiríamos dar um jeito dela conquistar sua independência. Ela tinha que ficar longe daquela mulher que não tinha amor pela própria filha o mais rápido possível.

Quatro dias depois de tudo que tinha ocorrido, não deixei que ela ficasse sozinha, pensando que era incapaz de conquistar um trabalho, porque nunca tinha trabalhado na vida dela. Voltávamos pela estrada caminhando, após distribuirmos mais alguns currículos de emprego. Era nítido a decepção em seu rosto. Eu queria animá-la e nada como não ser otimista, não é mesmo?

— Você vai ver que não vai precisar ir para longe de mim. — disse positivamente, lhe dando um soco de leve no ombro direito. A coitadinha estava sendo pressionada pela mãe para sair da casa que morou desde criança. Só um monstro faz o que aquela mulher costumava fazer com ela.

— Estou com medo, Isabel. Mamãe, não brincou quando disse que vai me colocar pra morar na rua, caso eu não aceite morar com meus avós.

Não gostava de vê-la cabisbaixa e tão cheia de desesperança. O que seria da nossa amizade se ela fosse embora? Senti um nó na garganta só de pensar na possibilidade.

— Ninguém vai nos separar! Luísa e eu, nunca deixaremos isso acontecer! Não se preocupe, somos suas amigas, vamos dar um jeito nessa situação juntas!

Minhas palavras de certa forma, confortaram o coração dela naquele instante. Um sorriso não muito exposto brotou em seus lábios. Queria mostrar pra ela que não havia motivo para tristeza, portanto, corri pro meio da estrada que não tinha trânsito algum. O pôr do sol estava tão lindo naquela paisagem de árvores enormes.

— O que está fazendo? — perguntou ao longe. Acenei chamando-a. Apenas queria que ela aproveitasse aquele finalzinho de tarde incrível ao meu lado. Respirei fundo, abraçando-me de olhos fechados, sentindo o vento tocar minha pele. Minha amiga fingiu uma tosse pra chamar minha atenção. Abri meus olhos e vi que ela tinha se aproximado muito pouco de mim.

— É disso que a gente precisa, Aurora, viver! — gritei com empolgação, erguendo os braços para o alto. — Vamos ser felizes e deixar os problemas de lado!

Não sei exatamente em que momento tudo ficou escuro, não recordava de nada, lembro somente de abrir os olhos e ouvir o desespero de Aurora. Atordoada não entendia o que estava acontecendo.

— Imprestável! O que pensa que vai fazer? Vamos embora! Não morreu ninguém! — ouvi uma voz masculina berrar.

Foi quando senti uma dor forte que a ficha caiu, eu tinha sido atropelada! Toquei minha perna e minha mão ficou molhada com meu sangue. Encarei minha amiga que estava pálida.

— Ficou louco? Como pode falar assim? Vamos ajudá-la! — uma outra voz masculina diferente da primeira disse. Olhei para o veículo e vi dois homens saindo dele para me ajudar.

O terceiro homem continuou no veículo, não parava de me xingar em alto e bom som. Quem ele era? E por que tanto ódio? Juro que não tinha me jogado na frente do carro!

— Estou bem! — afirmei, o que era uma mentira, na verdade não estava nada bem. Um dos homens resolveu me ajudar a levantar do asfalto. Era um senhor de meia idade que tinha alguns fios de cabelos grisalhos. O bigode fino dele quase me tirou um sorriso, quase, porque a dor era tanta que nem conseguia ter bom-humor.

Ouvi cada absurdo do cara que continuava dentro do carro importado. Eu tinha minha parcela de culpa por não ter cuidado, mas não era nenhuma oportunista como ele gritava.

— Por favor, nos deixe levá-la ao hospital. E me desculpe, pelas grosserias, daquele idiota. — disse o jovem de pele branca e sobrancelhas grossas fitando-me. Olhei no fundo dos seus olhos, alguns segundos. Fiquei envergonhada por ter causado toda aquela situação, talvez eu tivesse estragado as férias deles.

— É apenas um pequeno arranhão. — falei tentando disfarçar minha dor. Olhei pro meu machucado, e soltei um gemido de pavor, não pensei que estivesse sangrando tanto.

— Você está com um machucado feio. — ele disse me assustando ainda mais, O senhorzinho que me segurava, começou a chorar e pedir perdão. Pelo que entendi ele que dirigia o veículo,

— Aceito a ajuda de vocês. Não se preocupe senhor, a culpa é mais minha do que sua do que aconteceu. — comentei.

Aurora estava em choque e chorava muito. Era pra ser um final de tarde agradável e tornou-se em uma tragédia para nós duas.

— É, sério isso? Eu preciso descansar! Deixa elas irem a pé ao hospital! — de novo ouvi grosserias vindo de dentro do carro. Por um momento, pensei reconhecer aquele tom de voz, mas era alucinação minha, claro que era! Nunca ele falaria grosserias e muito menos negaria ajuda pra alguém. De quem recordei? De William Bentley! Mas era impossível, meu amor era tanto que enxergava ele em todos os lugares.

Infelizmente aquela ajuda era necessária pra mim conseguir chegar o mais depressa possível ao hospital. Ele não era o meu jornalista, por mais que tivessem a voz muito parecidas. Entrei no carro e sentei no banco ao lado do motorista. Não olhei para o banco traseiro. Eu sabia que seria um trajeto muito difícil, não apenas pela dor que sentia, mas sim por causa daquele grosseirão.

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