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Capítulo 5

-Mas podemos saber onde diabos você esteve?- Pelo tom dela entendo que ela está um pouco estressada. -Estou atrasado, você tem que me ajudar a fazer as malas. Parece que uma bomba explodiu no meu armário e nem lembro o que levar! Não é exatamente a paz que eu tanto desejava, mas pelo menos consigo pensar em outra coisa e então a Ana, agitada, fica bem engraçada. Ele grita, pulando, como um personagem de filme de animação, e sua atitude me faz rir.

-Por que você desligou seu celular?-

O novo sorriso desaparece em pouco tempo.

-Que? Não, perdi e o fato de estar desligado não é um bom sinal - significa que quem o encontrou não tem intenção de devolvê-lo, atitude que me dá bastante nos nervos.

-Droga, me desculpe! Vamos, vamos beber.- Ele tira um pacote de seis cervejas da geladeira, abre dois e me entrega um. Bebo metade do meu de um só gole.

“Está melhor?” ele me pergunta.

Agradeço por me dar um momento para respirar.

-Digamos que sim…-

-Bem, então como não há nada que você possa fazer por enquanto, me ajude, então amanhã mude para outra operadora, assim você mantém seu número antigo e resolveu o problema.- Ele encolhe os ombros como se fosse óbvio e em momentos como esse eu realmente sinto que gostaria de ter sua leveza. No entanto, em parte, ele está certo. Já é tarde, não posso fazer muita coisa a esta hora, então não adianta me incomodar. Ana me dá um grande sorriso e levanta novamente a cerveja para brindar. Eu não esperava mais nada, aqui está minha cura em ação. Depois de algumas garrafas, já me sinto melhor. Agora é minha vez de ajudá-la. -Então, vamos preparar essas sacolas?-

-Sim, obrigado!- Ele me arrasta até seu quarto, onde o caos reina e domina tudo. A cadeira colocada no canto virou uma montanha de roupas, o chão, cheio de todo tipo de coisa, virou uma pista de obstáculos, enfim, seu quarto é um desastre total.

Pareço surpreso. -Como diabos você fez tudo isso sozinho?-

Sua expressão parece mais surpresa que a minha.

“Não faço ideia!” ele admite e nós dois começamos a rir.

Arregacei as mangas e fui para o quarto.

***

-Conseguimos!- Ainda bem, depois de quase uma hora.

Ana leva a mão à testa e finge desmaiar, caindo na cama. Ele está correndo há dias para garantir que a exibição esteja perfeita, mas não para de brincar, o que admiro e me faz sorrir.

-Que tal dois ovos mexidos?- Sugiro que você recupere as forças.

“No sofá, com uma cerveja e um cobertor?”, pergunta ela com a mesma infantilidade de uma menininha.

-Absolutamente sim!- eu respondo.

Ela dá um pulo e voltamos para a sala, onde eu cozinho e ela se deita no sofá.

-Então, como foi a reunião? Você aprendeu alguma coisa sobre a nova coleção? -

A partir dessa pergunta vou contar tudo o que aconteceu comigo no trabalho, desde a cena do café, até minha exclusão do projeto.

Ai cara, Carla! Mas, que divindade vingativa você irritou ultimamente?

Eu franzo a testa para ele, eu também gostaria de saber. Se elimino as horas de compras, entre o orgasmo interrompido, as conversas sobre o ex, o celular e o trabalho, não se pode dizer que tive um dia agradável. Respiro fundo e continuo cozinhando os ovos.

“Pronto!” anuncio vitoriosamente, quando eles estão prontos.

-Graças a Deus estou morrendo de fome!-

"Eu também..." admito, passando-lhe o prato. Com tudo que aconteceu, esqueci de almoçar e tomar café o dia todo. Me jogo no sofá ao lado dele e devoro meu jantar.

-Você já pensou no que eu te disse hoje?-

Quase me afoguei novamente.

Por que você sempre tem que me fazer certas perguntas quando estou bebendo ou comendo alguma coisa?

-Verdade ou mentira?-

-Sempre e somente a verdade!- ela responde com convicção.

-É simples, não tenho muito o que pensar. Não sei por que, mas nunca me apaixonei desde que nos conhecemos, pelo contrário... - Um nó se forma na minha garganta. Não fui capaz de amar ninguém desde ele. Eu costumava pensar que levava tempo, mas apesar dos anos, das distrações, das outras crianças e das novas experiências, nunca superei essa história.-

Ela olha para o teto e brinca com uma mecha de cabelo enquanto faz uma pausa para refletir.

Vocês não se viram desde que fugiram?

-Não, eu simplesmente desapareci.-

-E você nunca pensou em procurá-lo?-

-Muitas vezes, mas sempre resisti ao impulso. A lembrança daquele dia ainda está muito vívida em minha mente, nunca esquecerei como me senti quando descobri a verdade. Isso me destruiu, Ana, essa é a verdade.-

-O que mais te machucou?-

-O que ele fez comigo!- declaro quase sem pensar. -E eu sei que parece egoísta, mas eu já tinha perdido minha mãe, meu pai entrou em depressão, eu estava com raiva do mundo e odiava todo mundo menos minha irmã. Não deixei ninguém chegar perto, mas ele... eu confiei nele, deixei ele entrar na minha vida, no meu coração. Ele tinha planos para nós, pensei que ele tivesse encontrado algo lindo, mas ele mentiu para mim durante meses. Como eu poderia perdoar uma coisa dessas? Como eu poderia esquecer isso? Por causa dele não consigo mais me apegar a um cachorro! -

- Cachorros machos! Porque você me ama.- A piada de mau gosto dela me silencia por alguns segundos, então entendo que para me animar ela se chamou de puta, e eu comecei a rir. -Sim, mas você é o único. Que idiota!- Eu a empurro de leve e ela, em resposta, se joga em mim e me abraça com força. Eu precisava disso. Depois do Tiago, ela é a única com quem me abri, tirando o Curry, mas com ele é diferente.

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