Capítulo 03
Cap.03
?Adele Miller?
A ficha ainda não caiu, amanhã finalmente vou conhecer o meu pai. Depois de anos tentando saber sobre ele, implorando para mamãe me dizer ao menos como é a sua fisionomia, mas sempre recebia a mesma resposta. Quando ela se recusava a responder as minhas perguntas, corria para o meu quarto e chorava escondido.
Lembro-me que em uma comemoração do Dia dos Pais, na escola, a professora pediu para que cada uma das crianças escrevessem uma cartinha para o seu pais. Como não tinha ninguém para quem pudesse entregar a carta, apenas fiquei em um canto afastada enquanto algumas das crianças zombavam de mim. Claro que Helena estava lá me defendendo e apoiando.
Minha infância sempre foi assim, mamãe nunca foi presente em nada, agora que não sinto falta de um “pai" ela me descarta como se não fosse nada. Logo agora que já tinha superado e aceitado que nunca iria conhecê-lo. Tenho que me despedir de Helena, não sei quando voltarei. Entro no banheiro, lavo os meus cabelos e faço toda a minha higiene.
Saio do banheiro, procuro uma roupa, saio de casa e sigo em direção à casa da Helena. Quando chego, bato na porta e ela vem rapidamente abrir. Os seus pais saíram, sei disso porque antes de vir, enviei uma mensagem perguntando sobre eles. Ela abre a porta e a cumprimento com um abraço apertado, depois nos sentamos na varanda da casa.
— Adele, você tem que pensar que essa vai ser a sua oportunidade de finalmente conhecer o seu pai e saber tudo sobre ele, como sempre quis — ela tenta me confortar e me oferece um sorriso fraco.
— Ah, Helena, eu já não sou mais aquela criança chorona a procura de um pai. Hoje vou apenas ficar de favor na casa de um completo desconhecido, porque a minha mãe não tem onde me deixar.
— É, eu sei! Espero que não fique apavorada quando receber a notícia do meu falecimento — Helena dramatiza.
— Se ela não fizesse drama, não seria ela.
— Bom, então será dois enterros, pois não vou conseguir viver longe de você e das suas loucuras, amiga.
Encosto minha cabeça no seu ombro e ambas choramos em silêncio sem dizer nada, pois as lágrimas dizem o que palavras não podem expressar.
— Acho que é isso! — Afasto-me do nosso contato. — Quero que saiba que venho buscá-la no final do ano, para ficarmos juntas nem que seja por alguns dias. Prometo ligar sempre que puder.
— Sim, amiga, eu sei que vai. Tente fazer dessa experiência a melhor da sua vida, Adele — me aconselha e limpa as minhas lágrimas.
— Vou fazer o possível.
Depois de muito choro e lamentação, consigo me despedir, tenho que volta para casa e terminar de arrumar as minhas coisas. Como não tenho muita roupa, tudo coube em duas malas. Mamãe disse que meu genitor vem durante a manhã, então tudo tem que estar pronto a tempo. Tento notar alguma reação dela em relação à vinda dele, mas não consigo identificar nada. Talvez ela se sinta desprezada por ele, por isso não tem mais sentimentos bons.
Não sei o que devo esperar desse encontro. Confesso que estou apreensiva, será que ele vai me tratar com indiferença? Já basta a mamãe, não quero mais uma figurinha para a coleção. Estou exausta. Depois de tudo pronto, deito para dormir.

— Vamos, Adele, você está atrasada, seu pai já chegou, menina!
Desperto com a claridade entrando no quarto, já que a mamãe abriu às cortinas. Dou um pulo da cama quando as suas palavras ressoam em meus ouvidos.
— Mas já! — Não tem necessidade de ser tão cedo, não é como se ele estivesse ansioso para me conhecer.
— Ele precisa voltar logo para Boston, então se puder, agilize as coisas, querida — ela comenta saindo do quarto em seguida.
Entro no banheiro e assim que termino saio para me arrumar. Se meu pai espera por uma criança, ele irá se decepcionar, pois já sou uma menina-mulher. Pego as minhas malas, desço em direção à sala, mas quando chego, com o coração na mão de tanta emoção e curiosidade, não vejo ninguém além de mamãe sentada no sofá. Antes que eu possa falar algo ela se levanta e fala primeiro.
— Espere um pouco. Seu pai foi atender um telefonema.
Sento-me em silêncio no sofá para esperar. De repente sinto uma sombra cobrir a luz que entrava pela porta principal. Lentamente vou subindo o olhar, porém, meu coração erra uma batida quando vejo o homem mais lindo que meus olhos já puderam apreciar.
Ele só pode ser o Deus da beleza. Seus olhos azuis como o oceano me encaram aquecendo o meu corpo, chego até ficar arrepiada.
Os músculos bem definidos marcados em seu terno bem alinhado. Impossível não perceber as tatuagens que estão espalhadas pelos seus braços, deixando-o ainda mais atraente. Sem falar na sua altura, ele é tão grande que devo parecer uma formiguinha à sua frente.
E o que falar dos seus cabelos que estão penteados para trás sem nenhum fio fora do lugar. Dou um grande suspiro antes de levantar do sofá para cumprimentá-lo.
— Adele, esse é Jones, seu pai.
— Mamãe, nos apresenta. Entretanto, não consigo raciocinar direito, nem nos meus melhores sonhos poderia imaginá-lo assim. — Jones, essa é Adele, sua filha.
— Olá, Adele, como sua mãe disse me chamo Jones. — A sua voz grossa e potente, faz com que as minhas extremidades fiquem trêmulas. Ele estende a sua mão para me cumprimentar. Então faço o mesmo tocando a sua.
— Hum... Como a mamãe disse, me chamo Adele. É um prazer conhecê-lo.
Rapidamente ele desfaz o nosso contato, como se fosse demais para ele. Será que ele não gostou de mim? Não quero ser tratada com indiferença por ele.
— Bom... Agora precisamos ir — informa indiferente. Definitivamente ele não gostou de me conhecer.
Depois que mamãe me deu algumas instruções de como devo me comportar, me despeço e quando estou entrando no carro luxuoso, ouço a voz de Jacob gritando o meu nome. Vou ao seu encontro para saber o que ele faz aqui.
— Helena me disse que você está indo embora para Boston. Então vim para
me despedir.
— Sim, vou passar uma temporada na casa do meu pai. — Ele abaixa o seu olhar para o meu pescoço.
— Vejo que está usando o pingente.— Sua mão toca o meu pescoço quando ele acaricia o pingente.
— Prometi que não tiraria para nada — lembro e sorrio.
— É, você disse... Vou sentir a sua falta, Adele. — Agora ele acaricia a minha bochecha. Sinto minha bochecha esquentar com o seu toque, me fazendo ficar vermelha de vergonha. Nossos corpos vão se aproximando e quando penso que vou sentir seus lábios nos meus, somos interrompidos.
— Vamos, Adele, não temos mais tempo.
— Tenho que ir, Jacob. — Com dificuldade vou me afastando
— Tudo bem! Ainda vamos nos ver. Sempre que der, ligarei para você — Jacob afirma.
— Obrigada mais uma vez. Vou esperar a sua ligação, até logo.
Entro no carro e saímos. Olho para trás e vejo Jacob, acenar com a mão, fico olhando para ele com lágrimas nos olhos, até que, não consigo mais ver o seu reflexo na pista. O caminho até ao aeroporto é silencioso.
— Vamos vou lhe ajudar a subir — Jones orienta segurando a minha mão, para entrarmos no jatinho. Sento-me ao lado da janela e ele senta à minha frente.
— Você quer comer algo? Sei que não comeu nada — pergunta gentilmente.
— Sim, gostaria muito.
Ele chama a aeromoça, olho para a loira que mantém nos lábios um sorriso malicioso, que é retribuído. Jones pede para ela trazer algo para que eu possa comer e no fim lhe dá uma piscada. Fico de queixo caído, ele está paquerando a sua aeromoça explicitamente, bem na minha frente, sem restrições.
Depois do pequeno show, a mulher sai rebolando sem nenhuma dificuldade, claro que ele não tira os olhos da bunda dela. Quando ele volta o seu olhar para mim, ele não desvia por um segundo, até que ele resolve mexer no seu celular. Não demora para o meu café da manhã chegar.
Quando termino ele diz que vai ao banheiro. Fico olhando para as nuvens pensando em Jacob, seguro o pingente e o abro olhando a nossa foto. No mesmo instante, cai uma lágrima solitária, eu a limpo. Passando-se alguns minutos, Jones, volta para o seu acento. Percebo que alguns fios de cabelo estão fora do lugar e a forma que ele arruma a sua gravata deixa claro o que acabou de fazer.
— Desculpe a demora — acrescenta ao terminar de se arrumar.
— Não precisa se desculpar, passei dezessete anos sem a sua presença. Não vai ser por uma transa de cinco minutos que vou me morrer de saudades de você. Então é desnecessário as suas desculpas.
Pela expressão do seu olhar, percebo que ele não esperava a minha resposta.
— Tenho certeza que não — ele revida na mesma intensidade da minha resposta.
Fecho meus olhos na tentativa de dormir durante o restante do voo. Desperto com ele me chamando avisando que havíamos chegado.
***