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Depois da Culpa

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Ellen Roza
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Resumo

Olívia é obrigada a voltar para a cidade natal e confrontar seu passado, e lidar com o luto depois da morte de sua mãe. Ela terá que encarar seu ex-noivo, a quem ela abandonou no altar, sem dar explicações, depois de três anos sem vê-lo. Como Asher irá encará-la?

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Capítulo 1 ★彡 3 anos antes.

O vestido de noiva parecia pesado demais. O cetim apertava contra a minha pele, mas eu sabia que o fardo em meus ombros não tinha nada a ver com tecido. Era a culpa. O medo. A certeza de que eu estava prestes a destruir o homem que amava.

Minhas mãos tremiam enquanto eu ajeitava o véu, como se o gesto pudesse me convencer a ir até o fim. Mas o espelho me encarava de volta, e eu não me reconhecia.

Eu deveria estar feliz. Deveria estar ansiosa para andar até ele, dizer sim e começar uma vida ao lado do homem que me fazia sentir como se eu pudesse ser qualquer coisa. Mas, em vez disso, eu sentia o estômago revirando, como se algo estivesse gritando para eu correr.

E eu não sabia ignorar.

Eu podia ouvir as vozes e risos abafados vindos do outro lado da porta. Os padrinhos. As madrinhas. Todos esperando o momento em que eu cruzaria a igreja. Eu podia imaginá-lo lá na frente, de pé, com aquele sorriso que sempre desarmava as minhas inseguranças.

Mas não hoje.

Hoje, nada podia desfazer o aperto sufocante no meu peito.

Respirei fundo e olhei para o celular. As mensagens acumuladas piscavam na tela, mas eu não tinha coragem de abrir nenhuma. Nem mesmo a última que ele tinha mandado naquela manhã.

"Eu não consigo esperar para te ver, Jess."

Minhas pernas fraquejaram, e eu precisei segurar na penteadeira para não cair. As palavras eram simples, mas carregavam tudo o que eu estava prestes a destruir. Tudo o que eu nunca teria coragem de explicar.

Com os dedos trémulos, retirei a aliança que ele tinha me dado e a coloquei em cima da mesa. Um soluço escapou quando eu me virei, agarrei as chaves do carro e abri a porta dos fundos.

O ar frio da tarde me envolveu como um tapa, mas eu continuei andando. Cada passo parecia um golpe no meu próprio coração, e eu não tive coragem de olhar para trás.

Quando liguei o carro, podia ouvir ao longe o som abafado dos violinos. A música tinha começado.

E eu tinha acabado de acabar com tudo.

O carro deslizou pelas ruas estreitas, e minhas mãos apertavam o volante com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Eu não sabia para onde estava indo. Só sabia que precisava sair dali.

Minha respiração vinha curta e errática, e as lágrimas embaçavam minha visão. Eu tentei piscar para afastá-las, mas elas continuaram caindo. O vestido ainda estava em mim, o véu rasgado na pressa de sair. Eu parecia um fantasma no retrovisor.

O telefone vibrou no banco do passageiro. Meu coração disparou, mas eu não olhei. Eu sabia quem era. Sabia o que ele queria.

Ele queria respostas.

Eu não tinha nenhuma.

A estrada ficou mais escura conforme eu deixava a cidade para trás. As casas sumiam, e tudo o que restava era o vazio. Um buraco profundo no peito que eu sabia que nunca seria preenchido.

Mas eu continuei dirigindo. Porque parar significava encarar o que eu tinha feito.

E eu não estava pronta para isso.

Asher.

Seu nome ecoava na minha mente como uma prece, um pedido silencioso de perdão que eu sabia que ele não concederia. Eu sabia o quanto ele me amava. E eu sabia o quanto eu o tinha machucado.

Fechei os olhos por um segundo, tentando sufocar a dor, mas era impossível. Eu podia vê-lo em cada lembrança, em cada sorriso que agora parecia perdido.

"Me perdoa..." sussurrei para o vazio. "Por favor, me perdoa."

Talvez um dia ele entendesse. Talvez um dia ele soubesse que eu fiz isso por ele, mesmo que agora parecesse o contrário.

Eu não podia ficar. Não podia arrastá-lo para o que eu sabia que estava por vir.

Eu queria acreditar que ele seguiria em frente. Que encontraria alguém que o fizesse feliz, que não o destruísse como eu estava prestes a fazer.

Mas a verdade é que parte de mim queria que ele nunca me esquecesse.

Apertei o volante com mais força, tentando afastar os pensamentos. Eu não podia me permitir fraquejar. Eu tinha tomado essa decisão para protegê-lo. Para protegê-lo de mim.

Mesmo que isso significasse passar o resto da vida desejando ter ficado.

Peguei a próxima avenida e me enfiei no meio de outros carros, como se estivesse fugindo. E na verdade, estava.

Estava fugindo de mim mesma, da minha má sorte.

O celular toca sem parar. Dezenas de mensagens chegam, uma atrás da outra. E cada uma, meu coração aperta mais.

Minha mãe me liga, diversas vezes. Não posso atender, não estou pronta para dar respostas agora. Não estou pronta para as perguntas. Tudo o que quero é sair da cidade, sem olhar para trás.

"Por que está fazendo isso?"

A mensagem é de Asher. Do homem que eu amo e sou capaz de tudo para protegê-lo. A dor ao lê-lo me sufoca. O ar arde nos meus pulmões.

Paro o carro e tento respirar. É difícil. Não consigo respirar, não consigo me encarar no retrovisor. Me sinto um monstro, e sei que talvez eu não mereça o amor de Asher. Talvez, nunca tenha merecido.

Limpo as lágrimas e pego o celular. Eu o encaro, vendo as mensagens chegando sem parar, e as ligações da minha mãe, que estava visivelmente desesperada. Me sinto culpada, mas não posso voltar atrás. Asher não merece isso. Ele precisa sobreviver a essa decepção e ser feliz. Eu o amor, mais do que tudo no mundo, mas não posso ficar com ele. Não agora.

Desligo o celular e o guardo no porta luva. Ligo o carro novamente e saio dali, deixando uma música melancólica tocando no rádio, que aos poucos acalma meu coração e meus pensamentos. Deixo um braço para fora da janela, sentindo o vento, e o frio. O sol de fim de tarde anunciava o crepúsculo, deixando rastros de raios solares entre algumas nuvens. O céu parecia querer chorar junto comigo.

Suspiro fundo. Deixo sair toda tensão, e olho para frente, ajeitando o retrovisor e torcendo para não querer olhar para trás. Era tarde demais para isso. Eu precisava olhar para frente e esquecer tudo. Era melhor assim. Era o melhor para Asher. Sei que ele não vai me perdoar, e vai me odiar. Talvez era melhor que ele me odiasse mesmo, diminuía um pouco a pressão que eu sentia sobre a minha decisão. Mas era doloroso, pois não teria mais os seus beijos, seus abraços apertados, nem nossas noites especiais. Não teria mais nada. Não teria ele. Agora, tudo o que eu teria era o vazio.

Há dois dias antes, eu não imaginava que estaria no carro deixando tudo para trás. Jamais imaginaria que Abandonaria Asher no altar, o magoando para o resto da vida, sendo a sua ferida que ficará aberta para sempre. E também não imaginaria o quanto era capaz de proteger Asher. Eu me pergunto se um dia ele vai me entender e me perdoar, mas no lugar dele, eu jamais perdoaria. Jamais entenderia. Ainda assim, era a melhor decisão, para o bem dele.

Tiro o véu e o jogo para trás. O vestido parece uma camisa de força, encarando minha loucura, meus devaneios. Encarando minha culpa. As lágrimas caem novamente, mais amargas, mais doloridas.

"Quero te ver naquele vestido de noiva. Será a noiva mais linda do mundo". Ele disse, na noite anterior, por telefone, enquanto eu secretamente decidia o que fazer. Asher estava feliz, ansioso e apaixonado. Ele era assim, intenso, romântico, perfeito. Nunca conheci alguém como ele. Ele me inspirava, e me fazia feliz o tempo todo. Eu sempre me perguntava se o merecia, porque Asher era o objeto desejo de muitas mulheres. Muitas o desejavam e tentavam se aproximar. Tentavam seduzí-lo, o tempo todo. Mas, Asher sempre se mostrou leal aos meus sentimentos. Sempre se mostrou fiel a mim.

No fim, eu nunca o mereci.