Capítulo 5
— Calma Rubya, nós vamos encontrá-lo — Joe tentou me acalmar sentando do meu lado na cama.
— Joe, você nunca parou para pensar, que talvez o Finn não queira ser encontrado, por isso desapareceu assim? — resmunguei chorando com o coração despedaçado.
— Já pensei nisso, mas acho que você merece uma explicação. Sou amigo dele desde a infância, nunca na minha vida vi Finn agir como um idiota, essa é a primeira vez. Você não merecia isso, por esse motivo tem que exigir uma explicação.
— Você tem razão, eu mereço uma explicação, mesmo que o motivo seja ele ter conhecido outra mulher. Eu mereço saber a verdade — falei limpado as lágrimas. — Joe, vou tomar um banho para dar uma relaxada, a viagem foi cansativa. Você se importa?
— Claro que não, vai lá que eu vou pedir algo para comermos.
— Obrigada, estou mesmo com muita fome — agradeci entrando no banheiro com uma troca de roupa.
Preparei a banheira com sais de banho para relaxar e aguardei por alguns minutos que ela enchesse, logo após eu estava deitada, totalmente à vontade e com os pensamentos a mil. Foi então que vários momentos inesquecíveis com o Finn passaram pela minha cabeça. Sei que quatro anos é pouco tempo para um conhecer o outro, mas a sensação que eu sempre tive era que o conhecia a minha vida toda.
Finn me conhecia tanto que sabia quando eu não estava bem, só pelo meu sorriso torto e sem graça, como ele sempre dizia, meu sorriso e meu olhar não escondiam nada dele. Como isso foi acontecer? No fundo do meu coração não conseguia acreditar que ele pudesse ter outra mulher. E pensando nisso, não consegui controlar as lágrimas que desciam pelo meu rosto. Parecia que eu estava vivendo um pesadelo. É difícil acreditar que uma história como a nossa pudesse ter esse fim.
— Está tudo bem aí? A nossa comida já chegou — avisou Joe gritando da porta do banheiro.
— Está sim, eu já vou sair — gritei de volta e sai da banheira.
Nem percebi que demorei tanto no banho. Limpei minhas lágrimas e fui me secar. Tentei manter a calma e não ficar chorando feito manteiga derretida.
— Desculpa, nem vi a hora passar — me desculpei ao sair do banheiro.
— Tudo bem, você precisava mesmo dar uma relaxada. Já coloquei tudo na mesa, vou tomar um banho rápido e volto para comer. Fique à vontade — disse pegando sua roupa na mala.
— Vou te esperar para comer.
— Não precisa.
— Eu faço questão.
— Ok, prometo que não vou demorar — entrou no banheiro.
Joe sempre foi um bom amigo, mas nunca vi ele namorando sério com ninguém. Finn sempre dizia que ele era um verdadeiro galinha, ficava com todas as mulheres que passavam por seu caminho, não importava a idade, disse que até com coroa Joe já ficou, mas que nunca na vida viu ele apaixonado por alguém. Joe é um rapaz muito bonito, não faz meu tipo de homem, nunca gostei de Coreano, só que ele chama atenção da mulherada.
Seus pais são coreanos e vieram para o Brasil para construir uma nova vida, Joe nasceu aqui e pelo que o Finn dizia ele sempre foi o centro das atenções, típico filhinho do papai. Entretanto, Joe sempre gostou de trabalhar, é mimado como o Finn dizia, mas sempre foi responsável. Só nunca levou ninguém a sério.
— Pronto agora podemos comer — disse, saindo do banheiro com seu cabelo molhado e bagunçado, vestindo uma bermuda e uma regata, estava bem à vontade.
— Você foi mesmo rápido no banho — falei assim que ele se sentou à mesa, ficando de frente para mim.
— Com a fome que estou, eu tinha que ser rápido mesmo — serviu-se de uma salada diferente.
— O que é isso, Joe? — perguntei me servindo um pouco daquela salada. Bom, pelo menos parecia uma salada.
— A atendente com quem conversei disse que é marangollo, uma salada de pepino, cebola, batata e ovos mexidos. Se come com essas torradas que vieram junto e ainda nos indicaram um bom vinho para acompanhar — explicou colocando um pouco de salada na sua torrada e em seguida comeu, fazendo uma cara de quem estava gostado. — Delicioso, tá aprovado, acho que vai gostar — me serviu o vinho e colocou em sua taça em seguida.
Ficamos ali nos deliciando da comida espanhola. Era bem diferente da nossa, mas o tempero era fantástico e forte. Eu e o Finn fizemos planos de conhecer essa culinária, prometemos experimentar um pouquinho de tudo. Finn é apaixonado por culinária, sempre dizia que um dia abriria seu próprio restaurante. Hoje estou aqui sozinha e experimentando pela primeira vez essa comida.
— Rubya, vai com calma com esse vinho, já tomou quatro taças — me repreendeu tirando a quinta taça da minha mão, eu já estava bem tonta. Logo após ter tirado, me deu um ataque de riso, mas segundos depois já estava chorando como uma criança. Esse era o efeito que o vinho causava em mim.
Joe observando a cena deprimente, apenas se aproximou e me pegou no colo, caminhou para o banheiro sem dizer nada. Logo depois me sentou na tampa do vaso e ligou o chuveiro. Pediu licença e tirou meu vestido me deixando apenas de calcinha e sutiã, enquanto ele fazia isso eu continuava chorando.
De repente, minha mente conturbada por causa do efeito do vinho, imaginou Finn bem na minha frente e no impulso eu o beijei. No começo ele relutou para não me beijar, me empurrou algumas vezes, mas a imagem do Finn na minha frente era tão nítida, que ele até sorria para mim, novamente sem pensar em nada eu o beijei. Dessa vez ele respondeu ao beijo, só que bastou eu sussurrar o nome do Finn, para ele me empurrar mais uma vez. Foi então que eu consegui recobrar a consciência, já que como mágica meu noivo sumiu, me fazendo notar que minha imaginação me pregou uma peça e por isso acabei beijando meu amigo.
— Desculpe Joe, eu não tinha intenção de fazer isso. Me perdoa, por um momento pensei que tivesse visto ele. Agi por impulso. Você me perdoa?
— Claro que sim, você está bêbada, prometo que a partir de agora nada de vinho — disse um pouco sem graça me ajudando a entrar debaixo do chuveiro. — Vou sair e te deixar a vontade, qualquer coisa é só dar um grito, vou estar aqui do lado.
— Obrigada por cuidar de mim. — Agradeci vendo-o se encaminhar para sair do banheiro, mas parou na porta me dando um sorriso e sem dizer nada saiu fechando-a em seguida.
Tomei um banho quase gelado que ajudou a me sentir melhor e no mesmo instante senti um peso na consciência por ter beijado Joe. Não deveria ter feito isso.
Eu já estava de roupão quando resolvi olhar pela janela do banheiro, só para olhar o local, foi então que eu notei que já tinha escurecido. Não fazia ideia da hora que era, chegamos no hotel às cinco horas da tarde.
Sai do banheiro e Joe estava deitando na cama mexendo em seu notebook, peguei meu vestido e fui me vestir no banheiro.
— Joe, você sabe a hora que é? Meu celular descarregou a bateria, vou colocar para carregar, preciso avisar minha família que chegamos bem — perguntei ao sair do banheiro.
— São oito horas da noite, nem vimos a hora passar. O que acha de darmos uma volta para conhecer a cidade? — Guardou seu notebook.
— Não me sinto muito bem para sair, estou afim de dormir, a viagem foi muito cansativa. Vai você e se divirta — me joguei naquela cama e em seguida peguei o controle para ligar a TV.
— Que graça tem sair sozinho, não vou te deixar sozinha se você não está bem — deitou do meu lado.
— Joe, vai se divertir, eu só estou com um pouco de dor de cabeça. Você nunca precisou de ninguém para sair, sempre se divertiu sozinho. Então vá e me deixe descansar, amanhã vamos atrás do Finn. Aproveite e traz uma Tortilla de batata com queijo para mim, sempre tive vontade de comer um desse.
— Já que insiste, notei que tem uma discoteca aqui no hotel, vou dar um chego lá. Prometo que não vou demorar e trago sua Tortilla. Amanhã vamos conhecer a cidade depois de procurarmos o fujão do seu noivo — disse mexendo em sua mala, logo após foi para o banheiro, não demorou muito e saiu todo arrumando e perfumado, me deu um beijo na testa e saiu dizendo que não iria demorar.
Levantei da cama e peguei os minis churros que estavam guardados no microondas que tinha no quarto e comendo voltei para a cama. Procurei por um filme, porém, não encontrei nada de interessante, então deixei em um canal de música.
Terminei de comer, fui fazer minha higiene e logo depois eu já estava na cama. Fiquei ali ouvindo as músicas e tentando não pensar em nada, eu não queria acabar chorando mais uma vez e assim acabei adormecendo.
Acordei com uma conversação na porta do quarto, parecia até que tinha alguém encostado nela com uma mulher, a porta fazia até barulho. Eles resmungavam baixinho, e não consegui reconhecer a voz.