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Capítulo 2.2

— Não deveria ter tocado nesse assunto. — Tomo meia taça de champanhe querendo que fosse um copo de Whisky, mas a mão de Eva desliza por minha coxa acariciando suavemente minha perna. 

— Não é como se eu realmente fosse voltar Dan, minha vida é aqui, sempre foi e isso não vai mudar. 

— Acho que não saberia viver em outro lugar — confesso — Fui criado para conhecer cada cantinho deste país e sinceramente amo cada pedacinho da Itália.

Eva encosta a cabeça em meu braço e deslizo minha mão pela parte interna da sua coxa em direção ao seu joelho. 

— Pensei em preparar um jantar aqui enquanto navegávamos pelo grande canal, mas achei injusto quando podemos passear pela praça de “San Marco”. 

— Quero ir no “Florian”. 

— Eu imaginei, você sempre amou o café de lá. — Acabo rindo enquanto retiro um cigarro da carteira levando ao lábios, mas Eva o dobra ao meio jogando em cima da mesa a nossa frente. — Ei. — Protesto. 

— Nada de cigarros e estamos sendo seguidos — comenta.

— E só por isso não posso fumar? — questiono em um tom de brincadeira e ela ri voltando sua atenção para mim. 

— Não pode fumar porque faz mal a sua saúde. 

— Mas você sabe que a nicotina me acalma. — Reclamo guardando a carteira de cigarros, pois sabia que ela não cederia, não quando a questão é algo que interfere diretamente em minha saúde. Eva sempre foi assim. 

— Achei que tinha parado com os cigarros Dante, você começou aos quatorze anos e eu sempre odiei. 

— Não fumo sempre, só quando sinto vontade ou quando estou irritado. Queria uma noite sem problemas, sem interferência, mas acho que as coisas não serão assim. — Passo as mãos nos cabelos sentindo raiva, mas me surpreendo no exato momento que Eva monta em meu colo enroscando os braços envolta do meu pescoço. 

—  Isso me distrai. — Sussurro subindo minha mão por sua coxa e paro em sua bunda onde faço suaves movimentos com o polegar. 

— Seria imprudência da parte deles nos perseguir sabendo quem você é.

— Poucos conhecem meu rosto e permanecem vivos para contar história. Se estão atrás de mim pela máfia, então algum chefe que me conhece está por trás disso e pode ser Donzel, mas eles não irão atacar, só estão observando de longe, espreitando o momento em que terão a oportunidade de se aproximar, mas Veneza é movimentada demais para uma troca de tiros, muitos olhos, ouvidos e bocas, chama a atenção da polícia e nem mesmo Donzel quer problemas com eles. Vamos curtir nossa noite e esquecer que estão ali. — Deixo um beijo em sua testa, mas ela envolve seus lábios nos meus em um beijo lento.

— Confio em você meu amor — confessa e sorrio com satisfação, pois jamais deixaria algo acontecer com Eva novamente, nunca em hipótese alguma, mesmo que custe tudo o que tenho.

— Cesare nos leve para a praça de “San Marco” — Ordeno através do ponto trás da minha orelha e logo recebo confirmação enquanto mudamos a rota ganhando um pouco mais de velocidade. 

Me levanto colocando Eva em pé e ela debruça seu corpo nas grades de proteção deixando o vento balançar seus cabelos. Encaixo meu corpo atrás do seu abraçando sua cintura e ela fecha os olhos apreciando nosso passeio. 

— Nunca vou me cansar de Veneza, não importam o que digam, quanto critiquem ou desprezem esse é um dos meus lugares preferidos. 

Eva envolve os braços no meu pescoço colando seus lábios nos meus, encaixo meus dedos em sua cintura aprofundando ainda mais o beijo, enroscando nossas línguas uma na outra com desejo e volúpia, sede de sentirmos um ao outro, mas somos obrigados a nos afastar quando sentimos a lancha diminuir a velocidade indicando que estávamos próximo a praça.  

 — Chegamos — Afirmo beijando sua testa. — Cesare fique por perto e de olho em qualquer movimentação estranha. — Ordeno e logo recebo uma confirmação pela escuta. 

Descemos de mãos dadas e seguimos em meio as pessoas, não queria passar insegurança a Eva, pois queria que aproveitasse o passeio, mas cada movimento a nossa volta chama minha atenção e não abaixaria a guarda por mais rodeado de pessoas que estamos, Donzel é traiçoeiro, um rato desprezível que não se importa de machucar alguns inocentes para alcançar a porcaria dos seus planos, mas por incrível que pareça tudo está mais calmo do que eu imaginei, então me permito aproveitar a noite ao lado de Eva.

Eva 

Andamos pela praça repleta de pessoas e Dante faz questão de me guiar pela multidão até sentarmos em um café com música ao vivo. 

Conversamos por horas apreciando o clima nostálgico de Veneza, enquanto observamos os turistas aproveitarem cada cantinho para tirar fotos dos maravilhosos monumentos e tenho que confessar que a arquitetura é realmente maravilhosa. 

A música deixa o clima leve e os homens que nos seguiam simplesmente desaparecem, permitindo assim relaxarmos curtindo a noite com um pouco de paz. Pelo menos ele parecia relaxado, mas seus olhos ainda percorriam o ambiente a procura de alguma ameaça, isso nunca iria mudar, era uma característica de Dante e chega ser realmente fofo toda a sua preocupação, ele só não pode saber que penso assim ou seu ego de macho dominante e imponente se feriria. 

Jantamos em um dos restaurantes e caminhamos pela praça apreciando a arquitetura, passamos no café Florian para comprar cornetto recheado de creme de avelã, pois eles faziam os melhores doces da região até voltarmos para a lancha. Dante não economiza carinho e atenção, me enchendo de beijos enquanto suas mãos ousadas passeiam por meu corpo sem pudor se atendo apenas a não chamarmos atenção. 

O caminho de volta foi feito entre beijos e amassos até Cesare para a lancha, indicando que nosso passeio havia chegado ao fim. Dante puxa meu corpo próximo ao seu corpo enquanto caminhamos até o carro estacionado na vaga privativa, mas algo faz Dante parar e ergo o olhar vendo um homem parado à nossa frente com uma arma embaixo do casaco apontando para nós.

Dante encara o homem com ódio e com manear de cabeça ele indica para segui-lo, a contragosto caminhamos para um beco afastado dos turistas.

Quando saímos do local movimentado, entrando em um ambiente escuro, úmido e com cheiro forte de esgoto, meu estômago chega a embrulhar, mas em nenhum momento desvio meu olhar do homem à nossa frente. Um pequeno papel branco desliza dos dedos de Dante até o chão e por um milésimo de segundos o homem desvia sua atenção baixando a guarda, dando tempo suficiente para Dante lhe acertar uma cotovelada no nariz agarrando a arma que tinha embaixo do casaco passando-a para mim. 

Com as mãos no nariz o homem à nossa frente geme se encostando na parede, mas Dante lhe acerta um soco no estômago fazendo-o cair de joelho. Engatilho a arma apontando para sua cabeça enquanto Dante obriga o rapaz a ficar de joelhos em meio a poça de água suja.

— Achou mesmo que me abordar desta maneira resolveria as coisas? — Dante segura os cabelos do rapaz o obrigando a olhá-lo. — Sabe quem sou e me desafia dessa forma? Chega a ser decepcionante.

O homem tenta revidar e enfio o cano da arma em sua cara.

— Fique quieto — pressiono a pistola em sua cabeça. 

— Quem é o seu chefe? — Dante pergunta com calma sacando uma de suas Taurus.

Os olhos do homem se arregalaram ao ver aquela arma e sei bem a sensação de desespero que elas causam, já estive nessa posição antes, mas hoje as coisas são completamente diferentes. 

— Acha que pode invadir meu território e me caçar enquanto tenho um encontro com a minha mulher? — Os olhos irados de Dante me causam calafrios. — Você estragou um dos melhores momentos da minha vida depois de fodidos onze anos de espera. — Antes que houvesse respostas Dante acerta o rosto do rapaz com um soco fazendo-o gemer. — Vou perguntar mais uma vez: quem te mandou?

O silêncio não agrada o homem à minha frente e quando menos espero ele atira no ombro do rapaz segurando sua boca impedindo-o de gritar.

— Adoraria ouvir seus gritos, mas agora você me deve respostas e eu as quero rápido. — Pressiona o cano quente da pistola na bochecha do rapaz.

— Donzel me mandou para espiar sua mulher. — Respira com dificuldade, mas continua a falar: — Não sabia que você era o Dragão, jamais aceitaria se soubesse. — Entrega sem muito esforço.

— Conte mais. — Dante move a mão esperando ele continuar.

— Ele está tão obcecado que foi até o Russo Abromovich...

— Russo se aliou a Donzel? — Dante pergunta erguendo o rosto do homem com a ponta da pistola.

— Pelo que fiquei sabendo não... — Ofega se contorcendo com a dor no ombro. — Russo não é o tipo de homem que se envolveria com Donzel, ainda mais para mexer com o Dragão.  

Os olhos de Dante faíscam e ele arruma a postura acertando a cabeça do homem com uma coronhada fazendo-o cair no chão desacordado. 

Dou um passo para trás e quando os olhos de Dante se voltam para mim estão tomados de ira e raiva. Seu semblante carregado de escuridão me preocupa, nunca havia visto Dante daquela forma antes, não com tanto ódio e raiva acumulado prestes a explodir. 

— Vou matar Donzel com minhas próprias mãos. 

— Dante  — Sussurro tentando me aproximar, mas ele se exalta elevando o tom de voz.  

— Você não percebe que isso tudo é porque ele te quer? Ir até Russo é um absurdo, ele está tentando juntar forças para me derrubar, mas se acha que será tão simples assim está muito enganado. 

— Ei, se acalme. — Me aproximo passando os dedos por seu rosto tentando acalmá-lo, pois sei que esse descontrole é devido ao nosso passado e ao fato de termos ficado tanto tempo separados — Confio em você e sei que não deixará Donzel chegar perto de mim. 

— Não vou te perder novamente Ivi. — Encosta a testa na minha e apoio as mãos em seu rosto beijando seus lábios. 

— Estou aqui, ninguém vai me levar, ninguém vai me tomar de você — afirmo e um alívio se instala em seu corpo. 

— Vamos, vou pedir para Cesare levá-lo e arrancar mais informações dele.  

Um carro preto para a nossa frente e minha primeira reação é apontar a arma, pronta para atirar, mas Dante apoia a mão sobre a minha me impedindo de continuar.

— É o Royal — diz e abaixo a arma. 

Royal abaixa o vidro do carro me olhando surpreso.

— O que faz aqui?  

— Recebi informações de homens suspeitos nesta área e vim checar pessoalmente. 

— Leve-o para a sala 371 e arranque o máximo de informações que conseguir. — Dante ordena. 

— Certo irmão, mas você vive pegando no nosso pé para não sair sem rastreadores e você está sem. Se não fosse pelo rastreador de Eva nem saberia que estavam em Veneza. — comenta e Dante lança um olhar furioso para Royal.

— Hum… Droga, ela não sabia?

— Saia Royal — Dante ordena e mais do que depressa ele nos deixa ali.

— Rastreadores? Sério Dante? — pergunto chateada. — Achou que eu fosse fugir ou algo assim? 

Não queria criar possibilidades desnecessárias em minha mente, mas dado o seu silêncio era exatamente isso que eu estava fazendo. Sei que é necessário termos localização em caso de algum imprevisto, mas Dante nunca havia mencionado a utilização de rastreadores antes e porque exatamente quando vamos sair descubro que tenho um, o mínimo que eu esperava era ser informada antes. 

— Não é isso que você está pensando, Eva. Vamos para casa que eu explico — apoia a mão em minha cintura e o sigo até o carro em silêncio.

Apesar do final da noite ter sido conturbado, o começo foi maravilhoso e eu amei passar um tempo a sós com Dante, porém a informação do rastreador realmente me irritou e me pegou de surpresa. 

Entro no carro e Dante assume o volante com uma expressão séria, o caminho de volta é feito em um silêncio irritante que só me deixa ainda mais brava do que já estou. 

Dante estaciona em frente a mansão e disfarço o meu descontentamento subindo as escadas em direção ao quarto, tentando organizar o mar de sentimentos que me assolam. 

— Eva? — Dante me chama assim que entro no quarto, mas ignoro retirando meu sobretudo, pois sinceramente não sei se queria conversar sobre aquilo neste momento. — Ivi, todos nós somos monitorados. Isso não significa que não confio em você, além disso, os rastreadores foram instalados quando comprei as roupas para você. Isso ajuda em caso de sequestro. 

— Eu sei que é necessário, mas você podia ter me contado antes de sairmos. Você sabia que o rastreador estava na minha roupa e mesmo assim permaneceu em silêncio Dante, porque fez isso? Achou que eu fosse fugir ou algo assim?

— Não, é claro que não, Ivi. Realmente sabia do rastreador, mas não achei que fosse algo importante para ser comentado. 

— Porque você estava sem? — Questiono cruzando o braço. 

— Porque desativei o rastreador e a escuta, ficando apenas com o ponto que me permitia comunicação direta com Cesare. Não queria que os homens de Jack ouvissem nossa conversa, não foi intencional, confio em você Eva, mas do que confio em mim mesmo. — Dante confessa e não preciso de mais nada que confirme sua sinceridade. 

— Acredito em você Dan, só fui pega desprevenida com a notícia repentina, desculpa por ficar chateada sei a importância dos rastreadores só queria ter descoberto antes. 

— Deveria ter avisado antes, também errei, reconheço isso. — Diz e me surpreendo com sua calma e sinceridade.  

— Mudando assunto—  Falo enquanto desço o zíper do vestido — Preciso comprar um presente para Max e Royal, mas não sei o quê posso dar a eles. 

— Você vai presentear Royal? — pergunta duvidoso.

— Vou — afirmo.

— Preciso ver essa cena de perto. — Ri me abraçando.

—  Não entendi. —  O observo com a sobrancelha arqueada.

— Royal não aceita presentes de ninguém e quando insistem muito ele simplesmente dá para Max sem ao menos abrir. 

 — Sério? Mas porque? Deve haver um motivo. 

— Com certeza, mas nem Max e Royal falam sobre isso, não adianta insistir, isso deve estar relacionado a algum fator que envolve diretamente Donatel e as porcarias que ele costumava a fazer conosco.  

— Cada dia que passa o meu ódio por ele aumenta e se dependesse de mim desceria naquela maldita cela e dava um fim de uma vez por todas naquele velho desgraçado. 

— Tenha calma Ivi, esse momento vai chegar, mas você precisa ter calma. — Dante me abraça e beija o topo da minha cabeça. 

— Calma é algo que venho tendo a muito tempo, já estou cansada de esperar para ver Donatel pagar por tudo o que fez. 

— Sei como se sente e compreendo, também quero colocar minhas mãos nele, mas de nada adianta fazer as coisas com impulsividade sendo que isso vai gerar guerra com outros países, temos que ser pacientes e espertos. 

— Você tem razão. — Solto o ar com força. — Vamos esquecer isso, tomar um banho e nos deitar. Hoje nosso passeio foi maravilhoso, não quero que esse velho estrague nossa noite. 

Dante concorda selando meus lábios com seus enquanto seguimos juntos para o banheiro. 

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