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05

Nicolas Atebaly

Os dias vão passando e minha rotina se resume, entre o meu consultório, resolver os assuntos da Yardie e a recuperação da Raio de Sol. Antes dela adoecer, estava intrigado por ela se manter calada em meio a tudo que aconteceu, cheguei a cogitar que poderia ter algo de errado com ela, mas ao ouvir a sua voz no dia que estava em delírio pela febre alta e durante esses dias não dizer nenhuma palavra, tive a constatação que a atrevida se mantém calada simplesmente por querer me afrontar.

Mesmo Nany insistindo para liberar a garota das correntes, ela vai permanecer presa enquanto achar necessário. Fecho meus olhos e meus pensamentos me levam para o dia anterior.

Assim que deixei o quarto dela, meu celular começou a tocar, ao atender a ligação, Bruno me informou que o conselho da Yardie convocou uma reunião de emergência, depois que Miquéias nosso infiltrado no solo mexicano entrou em contato dizendo que tem informações sobre Jacob. Em passos largos sigo para a garagem. Depois de enfrentar um fluxo enorme de veículos, chego ao meu destino, ao entrar na sede da máfia, caminho até à sala de reunião, adentro o ambiente e todos já estão a minha espera, não demora muito e a videoconferência se inicia, Miquéias nos informa que Jacob está enfurecido, minhas suspeitas estão certas, tudo que os malditos queriam era ganhar tempo, porém, o que eu não esperava era a reação dos membros mais antigos do conselho, em querer a morte da Raio de Sol, segundo eles devemos esquartejá-la e mandar os pedaços do seu corpo para o desgraçado do Jacob, em sinal que os monstros da Yardie jamais vão aceitar um acordo de paz.

Ao ouvir essas palavras, sinto todo o meu corpo estremecer, a raiva inflama em minhas veias e um grande nó se forma em minha garganta. Eu, Nicolas Atebaly, temido por todos, que nunca se importou em infligir a dor a ninguém e que adora ver as pessoas sucumbindo à minha frente, pela primeira vez o medo paira sobre mim, sempre fui ensinado que por mais que fosse o chefe, a vontade do conselho é soberana, desde a morte do meu pai fui treinado pelos anciãos, ainda garoto para ocupar o posto de líder, sempre mantive todas as tradições e leis que meu pai impôs durante o seu legado, tornando-me o líder mais temido e respeitado que Yardie Britânica já teve.

Os sussurros preenchem o ambiente, levanto o olhar e todos esperam pela minha decisão, as imagens do rosto da garota passam como flashes a minha frente, o som da sua voz ecoa em minha cabeça, minhas decisões sempre foram baseadas no que é melhor para os interesses da Yardie, mas algo dentro de mim, está me queimando por dentro.

— Não! Ninguém tocará na garota. — Inclino minha cabeça, arqueio minhas sobrancelhas e observo vários pares de olhos aguçados e fixos em minha direção, obviamente pensando que eu seria a voz da razão como de costume. Quando percebo que Amadeu um dos conselheiros vai se pronunciar, volto a falar:

— Nós não precisamos matá-la — afirmo —, acabaremos com Jacob e todos daquela máfia de merda, a garota está sob a minha proteção e ninguém tocará nela. — Todos permanecem calados, mas percebo que Amadeu assim como outros estão descontentes pelo estreitamento de seus olhos, sempre consultava a todos antes de tomar qualquer decisão que fosse do interesse da máfia, mas ela ficará à minha disposição, no momento em que me cansar dela, eu mesmo acabarei com sua miserável vida.

Mesmo com a maioria não concordando, não permito que ninguém se pronuncie, sou o chefe e já está decidido.

Saio dos meus devaneios, assim que termino o meu banho, após me vestir, deixo o meu quarto é hora de ir ao encontro da atrevida, já dei tempo demais para ela se recuperar.

Celena Martins

Não sei ao certo se é dia ou noite as luzes sempre ficam acesas e a janela com um forte blecaute que não dá para ver nada pelo outro lado, aquele homem todos os dias vem onde estou, tudo nele me transmite uma sensação ruim. Mesmo tentando lutar para me manter lúcida a cada dia os sussurros das vozes se tornam mais altos, imagens de pessoas que eu nunca tinha visto antes surgem em minha mente, sempre falam que não devo confiar no homem que a Nany chama de Nico, o jeito como ele olha para o meu corpo sempre faz meu estômago embrulhar, é o mesmo jeito com que o homem mau sempre me olhava, como se eu fosse um prato de comida e logo seria devorada, mas em meio ao medo, tristeza e incertezas do que devo fazer, sinto uma paz tão grande quando a Nany está perto de mim, todos os dias quando aquele homem sai ela tira as correntes das minhas pernas, pois alguns dias atrás, em meio a um pesadelo acordei apavorada comecei a puxar as correntes que acabaram machucando a minha pele.

A Nany perguntou porque eu nunca falava nada, agia como se de fato o meu corpo estivesse presente, mas sem alma, que eu poderia confiar nela que só queria me ajudar, tudo está tão confuso não sei o que pensar, não sei o que fazer, tudo que eu queria era estar com os meus pais. Sinto muita saudade da minha tia, tenho muito medo que aquele homem faça algo a ela, pois suas palavras sempre ecoam em minha mente.

Saio dos meus pensamentos quando vejo a maçaneta sendo girada, olho fixamente para porta assim que o dono da minha agonia entra no ambiente, ele me olha com seu olhar penetrante por alguns segundos, então ele fecha a porta com um estrondo.

Fico acompanhando seus movimentos, em passos lentos ele começa a caminhar em minha direção. Sinto meu coração bater mais forte e todo o meu corpo estremecer, assim que ele para e começa a se despir.

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