Capítulo 4
Aquele garoto com sorriso sarcástico e olhos escuros e intrigantes está na minha frente com o mesmo sorriso e olhar.
- Você novamente? O que é isso Érika? - meu pai grita com raiva ao celular, afasto-o do ouvido. Meu caderno caiu no chão quando colidimos e a página do meu arranha-céu está aberta para quem quiser ver. Maldita seja.
- Não, não estou falando com você, pai... - digo a ele pelo celular. - Te chamo mais tarde. Promessa. - E eu desligo.
- Isso é... - O garoto começa a dizer olhando meu desenho que já não é tão secreto. Pego o caderno do chão e fecho-o.
- Isso não lhe interessa. - Ele encolhe os ombros com indiferença e olha para mim.
O garoto ainda me olha com desprezo, noto ele segurando uma sacola daquela cafeteria.
- Olá Érika. - Ele diz.
- Como você sabe meu nome?
- Não creio que seja segredo para ninguém, pois está claramente escrito na capa do seu celular. - Aponta para o celular em minha mão. Escondo minha confusão com a situação e olho para a capa e fico ainda mais irritado.
Samantha me paga.
Usando canetas coloridas e glitter áspero, diz na capa:
"Eu sou Erika Lancaster e não terei medo."
Estou me afogando em vergonha.
- Pode ser o nome de qualquer pessoa aleatória. - Tento reverter a situação.
- Se eu não tivesse ouvido seu pai te chamar de Erika. –Ele inclina a cabeça ironicamente.
- Você é ridículo, sabia disso? É um castigo ter esbarrado em você novamente, um erro do destino, que não será cometido novamente. - digo cheio de indignação. De novo.
- Estou de acordo. Seu mau humor é contagiante. - Ele diz num sussurro, me dá uma piscadela zombeteira e começa a andar de costas para mim.
Eu me agarro com todas as minhas forças para não pular naquele rosto cheio de cicatrizes e deformá-lo com minhas próprias mãos.
Ele range os dentes de raiva, e eu começo a andar também, mas me viro, indo para o outro lado já que ele foi na mesma direção que eu, e não quero encontrá-lo novamente.
Nunca.
Um tempo depois cheguei ao prédio do SOM, teria demorado menos de cinco minutos se eu tivesse ido para o outro lado. Mas aconteceu.
Como não marcaram um horário para eu estar aqui, acho que oito e meia é um bom horário para uma entrevista, espero que para um emprego. O local é lindo, envidraçado, espaçoso e com detalhes em marrom amadeirado.
Passo a mão pelo cabelo para evitar os arrepios e entro. O homem que falou comigo por mensagens me disse para ir até a secretária e que ela me diria onde ir encontrá-lo.
O local não tem tanta gente como imaginei, algumas pessoas estão tão concentradas que nem olham quando chego. Aproximo-me do que penso ser a secretária, uma mulher alta e esbelta, com longos cabelos encaracolados e pele luminosa cor de cacau.
- Olá, bom dia. - digo e me aproximo.
Ela me ignora, quando estou prestes a repetir tudo, noto o telefone no ouvido dela, ela fala concentrada e sem interrupções.
- Garota? Preciso falar com um dos colegas daqui, é... não me lembro, começa com H. - digo um pouco mais alto e mais sem jeito para que ele possa me ouvir, depois de vasculhar minha mente até me lembrar do meu do colega. nome, mas não me lembro. - Ho... alguma coisa.
Ela me nota.
- Ah, olá! Bom dia, só um minuto. Mas eu sei a quem você se refere. Mas não o chame de senhor pelo sobrenome, ele não gosta disso. - Ela sussurra. Levanto as sobrancelhas, mas aceno. - Ela fala novamente ao telefone, bato os dedos no barulhento balcão branco. Minutos depois, ainda estou batendo no balcão e a mulher ainda fala ao telefone. - Sinto muito, mas é uma ligação muito importante... Vou pedir para alguém me ajudar a te levar ao escritório do Richard.
Concordo com a cabeça, ela diz algo ao telefone, mas para antes de deixá-lo para trás, estica o braço, assobia e sinaliza para alguém atrás de mim se aproximar.
-Ben! - Ela repete o sinal. Sinto alguém alto se aproximando de mim por trás. - Você pode levar... Qual é o seu nome, querido? - Ela se vira para mim.
-Erika Lancaster.
-...EM. Lancaster para Ricardo?
- Será um prazer. - Sinto que o mundo para. Universo? Você está brincando certo? Eu gemo mentalmente. Aquela voz rouca e sarcástica...
O que eu fiz na minha outra vida?
Eu me viro para ele. A secretária recomenda esse cara, Ben, e depois eu. Eu olho para ele com um olhar impenetrável. Mas ele não deixa que isso o afete. Ele e eu começamos a andar pelo corredor branco contando alguns detalhes sem dizer nada. Ele é sério, com ar misterioso mas ao mesmo tempo descontraído, despreocupado, com um pequeno sorriso irônico no canto dos lábios.
" O que você está fazendo aqui?" Eu grito mentalmente.
- Olá de novo, querida Erika. - Ele diz num tom completamente sarcástico.
Não me preocupo em responder, senão posso pular em seu pescoço e arrancar sua cabeça.
Sinto-o sorrir enquanto caminhamos em direção ao escritório do sócio. Uma tensão paira no ar. Mas ele parece estranhamente relaxado e indiferente. Mas não consigo conter minha curiosidade... porém, justamente quando estou prestes a enchê-lo de perguntas, chegamos.
Sou forçado a trancar toda a minha curiosidade e irritação dentro de mim.
A porta longa e larga diz "Richard" no topo da porta e logo abaixo: "Não perturbe".
Ben não se incomoda em bater na porta, apenas abre.
Ele diz algo para seu parceiro Richard, mas não consigo entender.
Richard, segundos depois, aparece.
Ele não sorri nem coloca uma máscara carismática no rosto, apenas acena para Ben.
- Obrigado, Howard. -Howard...
Ben Howard balança a cabeça relaxadamente e olha para mim com aqueles intensos olhos cor de chocolate pontilhados de pequenas estrelas.
Mantenho seu olhar, mas olho para ele com o mais grosseiro desdém e digo com sarcasmo:
- Muito obrigado Howard.
Um sorriso sarcástico quase invisível cruza seus lábios bem torneados e ele se vira para sair.
Richard gesticula para eu entrar.
- Sente-se, senhorita. Lancastre. - Sento e espero ele se sentar atrás da mesa de vidro acabada. - Bom, a senhora que mandou aquele esboço do arranha-céu, e eu pedi para ela vir aqui porque me pareceu uma ideia criativa e marcante, a empresa precisa disso, projetos ousados e autênticos, pensados com tecnologia e qualidade, precisamos de projetos. como o seu, procuramos jovens criativos para dirigir a empresa
Skidmore, Owings & Merrill a outro nível, uma arquitetura que chama a atenção de outra cidade, que inspira os jovens e admira os adultos. Projetos que só jovens cheios de vida podem desenvolver. - Diz ele, organizando uma pilha de papéis. Olhos escuros e vívidos focados nos papéis, sinais de expressão marcando uma determinada experiência, cabelos castanhos claros tingidos com fios grisalhos brilhando na luz que vinha da grande janela lateral.
Concordo levemente com a cabeça, sem saber exatamente para onde ele está indo e esperando incessantemente que ele diga a palavra trabalho.
- Proponho um acordo, senhorita. Lancastre. - Ele diz de repente.
Faço sinal para ele continuar.
- Daqui a pouco também terei uma “conversa” – ele faz aspas com as mãos – com outra jovem como você, mas no momento só tenho vaga de emprego aqui na SOM, então proponho que, se o seu trabalho Se a arquitetura final for a melhor, entre as duas você conseguirá o emprego. Caso contrário, permanecerá como está. - Não espera uma resposta. - Você virá aqui de segunda a sexta, se necessário aos sábados, como se já trabalhasse, e verá detalhes de arranha-céus e projetos. - A pergunta na minha cara é tão óbvia que nem preciso perguntar. - Sim, você receberá pagamento pelos seus esforços.
Tento conter minha euforia.
- E mais uma coisa. Não toleramos atrasos. -Seu olhar te faz estremecer.
Atrasos. Meu sobrenome. Maldita seja.
Eu sento com precisão.
Vou ter que resolver esse detalhe.
Então Richard gesticula para ver meu rascunho. Eu estendo isso para você.
Ele olha com um olhar avaliador e observador enquanto eu simplesmente observo com um ar de confiança. Ele me dá o caderno novamente. Acho que isso acabou.
- Senhor... Hm, Richard, o que eu faço agora, começo hoje? - Perguntado. Hoje é terça-feira, acho que posso começar hoje, preciso de dinheiro. Na realidade.
- Você pode começar hoje. Veja os projetos de alguns arquitetos profissionais hoje. Venha amanhã para começar de verdade. - Ele faz um gesto para me tirar.
Tento sair silenciosamente, mas corro até a cadeira ao meu lado, Richard me olha por cima dos óculos, faço uma careta e saio o mais rápido que posso.
- Aguentar. -Sua voz soa. Eu me viro para ele. - Quantos anos tens?
- Dezoito.
- Isso não afetará seu ensino superior? - Ele pergunta.
Ah, universidade. Nunca foi algo que parei para pensar, sempre quis me afastar da escola, dos alunos e dos professores o mais rápido possível e quando completei um ano só pensava em começar a trabalhar, em encontrar meu lugar no mundo .
Mas com o passar dos anos comecei a pensar melhor, não tão a sério, só fazendo primeiro um curso, para saber que tipo de universidade eu iria. Mas sempre tive em mente que se antes encontrasse um emprego que gostasse, me dedicaria apenas a ele. Nunca fui daquelas garotas que dizem: “Ah, vou fazer faculdade de medicina, ou de direito, ou de engenharia, ah, é difícil escolher (risos) e estudar em um campus famoso e lindo , com muitos estudantes universitários." atraente."
Sempre quis encontrar meu trabalho e meu lugar. Eu nunca quis muito. E não vou querer isso agora.
- Não, Richard, não será. - Com isso saio da sala, ele não me impede nem me faz outra pergunta.
Sinto-me aliviado, de certa forma. Quase um trabalho, nada mal.
Volto para a recepção olhando e prestando atenção ao que me rodeia.
Quando volto ao início, vejo a mulher na recepção sem o telefone no ouvido.
- Olá. - Diga o mesmo.
- Olá como te chamas? - Perguntado.
- Cristina. - Ela sorri. - Você conseguiu falar com Richard? - Ele pergunta sem tirar os olhos do papel.
- Sim. - Encosto-me no balcão e observo o movimento do escritório. A SOM possui escritórios em diversas cidades, é uma grande empresa, construiu um dos arranha-céus mais famosos dos Estados Unidos.
Olho para os arquitetos, cada um em sua mesa, concentrados e com ar hostil. Eu realmente não sei como vou conseguir ser carismático e observar de perto quando todos nem se olham, muito menos um novato. O escritório está silencioso, o que me dá arrepios, e há corredores com mais salas. É um lugar bem grande.
- Você vai começar a trabalhar aqui, senhorita. Lancastre?
- Pelo amor de Deus, me chame de Erika. A senhorita Lancaster me faz parecer uma solteirona. - Ele tira os olhos do papel e me olha com certa surpresa. E então ria.
- Você é engraçada. - Ele diz, ainda rindo. - Então, você vai trabalhar aqui? Espero que sim, este lugar precisa de mais pessoas como você. - Não vou te dar uma semana para mudar de ideia.
- Sim, praticamente. No momento só preciso olhar para alguns arquitetos, mas parece que não será tão fácil e bobo quanto pensei. - Quero dizer ver cada um como desconhecido, cada um na sua área, cada um no seu lugar.
- Mas conheço alguém que pode te ajudar. - Ela diz e sai para trás do balcão, vai até um dos corredores e depois volta acompanhada de um garoto de estatura mediana, mas bem constituído, de pele negra em tom cremoso de cappuccino, e rosto anguloso, de expressão calma e amigável. aparência. . Os dois se aproximam de mim.
- Erika, este é David Thomas, David, esta é Erika Lancaster. Hum, novo aqui. Mas hoje basta olhar para alguns arquitetos e como eles trabalham. E você sabe como as pessoas são aqui, elas não falam com ninguém. Então pensei que poderia te ajudar, o que você acha? - Ele diz formalmente, mas depois começa a rir e David começa a rir também, eles riem tanto que os outros funcionários olham para eles tortos e dizem "Shh" em uníssono. Christine faz um gesto vulgar para eles e David os ignora completamente. São meus. - Ok, chega de papelada, ajude-a rapidamente. - Volte para o balcão.
Acho que gostei deles.
- Então, Erika, venha comigo. - Ele diz, ainda rindo. - Quantos anos tens?
- Dezoito. E você?
- Vinte e um. - Ele me olha com um sorriso, que depois fica ainda maior.
- O que aconteceu?