CAPÍTULO 1
Cinco meses e duas semanas depois.
Dias atuais…
RAUL
—Não sou babá, Théo. Sou um piloto conceituado e sem paciência para adolescentes mimadas.
—Eu sei, cara. Você é meu melhor amigo e só confio em você para trazer minha irmã para casa em segurança. A fedelha é geniosa e meio maluca, mas já não é nenhuma adolescente, por favor, me quebra essa.
Bufo, revirando os olhos. Eu já ouvi isso dele antes. O babaca é especialista em me pedir favor e o engraçado é que sempre consegue o que quer.
—Onde está a droga do seu piloto particular?
—Papai o demitiu, ao que parece ele estava pegando a minha jovem madrasta. —Seu tom é sarcástico e resolvo não adentrar nesse assunto familiar.
—Tudo bem, eu a levo de volta para a Espanha, mas me envie a porra de um bom copiloto.
Ele rir do outro lado do telefone, satisfeito por conseguir o que queria.
—Obrigada, cara. Vou fazer a melhor despedida de solteiro para você. —Diz empolgado.
—Nada de exageros, você atrai escândalos e gosto da minha privacidade.
—Pode deixar. —Ele diz, não me deixando nenhum pouco confiante.
Rosno, sabendo que ele vai aprontar alguma nessa festa. Melhor deixar Gustavo organizar.
Isso, Théo está fora.
—Estou falando sério, seu bastardo. Gustavo vai te monitorar de perto, não apronte nada de surreal.
Ele passa a gargalhar alto.
—Cara, me dê algum crédito. Sou o seu melhor amigo e ninguém te conhece melhor.
—Tudo bem, mas ainda vou mandar Gustavo ficar de olho. —Digo, encerrando a ligação.
Procuro no celular o endereço que Stella me enviou mais cedo, ao que parece Helena já está me esperando para irmos ao tal estilista. Dei sorte de arranjar uma folga justamente no mesmo fim de semana que a mulher retornou a Veneza, da outra vez estava ocupado demais e não pude cumprir o cronograma que ela e minha noiva organizaram.
Cacete, não era só um terno?
Desço do carro e sigo para a casa, a fachada em tom areia tem o mesmo estilo das outras por aqui, embora pareça mais sofisticada que as demais. Aperto a campainha e espero pela mulher.
Encontrei Helena poucas vezes e em todas ela estava acompanhada do marido, um homem na faixa dos cinquenta e de aparência meio ranzinza. A maioria dos encontros foram reuniões sociais organizadas por Stella, mas eu nunca tive mais que quinze minutos de conversa com a mulher, no entanto, tenho ouvido muito dela desde que passei a namorar sua melhor amiga.
Aparentemente as duas se conheceram na adolescência e frequentavam a mesma escola, mesmo Helena sendo cinco anos mais velha que minha noiva, a interação entre as duas sempre foi de igual para igual, uma amizade bonita e que sobreviveu ao tempo, sempre lembro de mim e Théo quando as vejo juntas.
Aperto a campainha novamente, já duvidando que tenha alguém em casa, a temperatura parece aumentar a cada segundo e começo a ficar impaciente.
A porta se abre quando dou as costas para ir embora.
—Raul? —Uma voz feminina pergunta e me viro.
—Bom dia, Helena. Chego em uma hora ruim? Sinto muito, pensei que Stella tinha avisado que eu viria.
A mulher balança a cabeça, dando espaço para que eu entre. Aceito, adentrando a casa e me surpreendendo com a decoração refinada.
—Sim, ela avisou. Eu, que ando com a cabeça cheia, vou só pegar a bolsa. Quer algo para beber? Um suco, água, refrigerante...
—Água seria bom.
—Vou pedir para a empregada trazer, um minuto, querido. Fique à vontade. —Fala, adentrando um corredor longo.
Fico parado nos primeiros segundos, admirando alguns retratos na parede. Stella me contou algo sobre Helena ter duas filhas, naquela noite nós falávamos de como foi nossas infâncias, sou filho único, então a ideia de crescer com um irmão sempre me encheu os olhos.
—Você é o noivo bonitão da Dinda? —Uma voz infantil fala e olho direto para escada, uma menina com uma aparência de uma garota com dez anos no máximo me olha curiosa.
—Sua dinda?
—É, minha madrinha Stella.
A olho confuso, identificando os traços delicados com a da menina da foto.
—É você? —Pergunto, apontando com o queixo para foto.
Ela olha para onde mostro e faz careta.
—Não, essa é minha irmã com doze anos. —Diz, ainda encarando o retrato.
—Ah, você parece com ela.
—Se você diz. —A menina dá de ombros, fazendo uma cara de entediada.
Sorrio, ela parece uma garotinha excêntrica.
—Então, você é ele?
—Quem?
Ela revira os olhos, demostrando impaciência.
—O noivo da minha Dinda.
—Ah, sim. Sou o noivo da sua madrinha sim. Raul, prazer. —Falo, erguendo a mão para cumprimentá-la. —Seus olhos brilham, gostando do tratamento adulto que estou lhe dando.
—Briana, prazer. —Diz, apertando firme minha mão.
Sorrio pra ela.
—Com licença. —Uma jovem mulher aparece com um copo de água em uma bandeja e me entrega.
—Obrigada. —Digo.
—Algo mais, Senhor?
—Não, muito obrigada... —Pauso, esperando que me diga seu nome.
—Hellen. —Briana fala se adiantando.
—Bem, então, muito obrigada Hellen.
A moça sai, levando o copo vazio junto dela. Briana corre para pegar uma foto sua de quando era bebê, mas acaba trazendo muitas medalhas junto.
—Essa daqui foi quando ganhei o concurso de soletração da minha escola. —Diz, apontando para uma medalha pequena, dourada com o nome campeão entalhado na superfície lisa.
—Filha, você não está sufocando o Raul, está? —Helena fala, vindo para perto da escada, onde estou sentado junto de sua filha.
Sorrio para a mulher. —Não é incomodo, estou impressionado com sua filha. Ela tem muitas medalhas.
Os olhos da mãe brilham com meu comentário, deixando a amostra seu lado coruja.
—Sim, minhas filhas são muito inteligentes e centradas.
—Papai disse que Malu é rebelde. —A garota fala, arrancando uma cara de reprovação da mãe.
—BRIANA. —Ela fala.
—O quê? Papai que disse. —A menina se defende, recolhendo a medalha da minha mão e juntando as outras.
—Não escute tudo o que seu pai diz, então, às vezes ele fala sem pensar pelo calor do momento.
A mulher tenta consertar e me sinto desconfortável com a situação.
—Ela largou a faculdade. —A menina retruca e a mãe a fulmina com os olhos, prometendo um castigo só com o olhar.
—Desculpa, vou guardar essas coisas. —A mais nova murmura, recolhendo tudo que estava espalhado pelo chão e indo devolver ao lugar certo.
—Sinto muito, por isso. Minha filha mais nova ainda não sabe guardar a língua dentro da boca.
—Tudo bem. —Digo, realmente constrangido pela situação toda.
—A irmã, minha filha mais velha, largou a faculdade sem nenhum aviso e voltou para Itália. Esse é o motivo deu ter voltado esse fim de semana, a sina de toda mãe é colocar um pouco de juízo na cabeça dos filhos.
—Sinto muito. —Digo, sem saber muito o que dizer.
—Tudo bem, aquela garota adora testar minha paciência, mas sempre foi independente e nunca agiu com imprudência, o que acalma minha alma é saber que ela nunca faz nada sem ter um plano reserva. Só espero que seja um bom que o pai não surte como da última vez.
Ela fala e assinto, não deixando escapar que ela falou como da última vez, na certa, a garota é um desses adolescentes problemas que adoram causar dor de cabeça aos pais.
Deus me livre ter mais de que um filho.
Um é o suficiente, apenas para não falarem que sou um insensível desalmado.
—Vamos? —Briana fala, segurando a mão da mãe em expectativa.