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Capítulo Um - 3

Parte 3...

Infelizmente havia muita coisa em jogo para arriscar não meter o pé em algo assim. Não apenas a fortuna de seu avô, como também a propriedade medieval e seu título.

Valia a pena cometer essa loucura.

Ele tirou os óculos escuros para poder avaliar melhor. De um lado duas garotas fofocavam apontando para algo em um celular e na mesa ao lado, um casal de idosos conversavam sobre o cardápio. Excluiu as mesas de casais, as mesas com crianças e naquele lado do restaurante não viu possibilidade do homem estar ali o esperando.

Foi para o outro lado que estava menos cheio. Da mesma forma foi excluindo as mesas que não caberiam na descrição de um homem de negócios esperando por outro.

Enquanto ia caminhando pelo local, algumas cabeças se viravam para olhar para ele, curiosas. Nicolau chamava mesmo a atenção pela sua altura e pelo seu tom de pele, herdado de sua mãe espanhola.

Parou e colocou a haste dos óculos na boca, virando a cabeça devagar.

Viu um casal com um bebê no carrinho ao lado. Um rapaz muito jovem para ser o dono de uma agência de tal porte e que estava concentrado em seu notebook. Nem mesmo levantou a cabeça quando ele passou ao lado da mesa.

Do outro lado do salão ele notou uma mulher de costas, com a mão apoiando o queixo e olhando pela grande janela de vidro, vendo o movimento que passava lá fora na calçada do outro lado. O cabelo loiro escuro estava preso em uma trança longa que chegava até o meio da coluna.

Parecia bem distraída. Avançou mais um pouco e viu um homem em outra mesa, a cabeça baixa, lendo algo. Ele se aproximou e o homem levantou a cabeça, o encarando, mas logo depois voltou a baixar sem lhe dar a mínima atenção. Então não seria ele também o senhor Fussô.

Começava a achar que o homem havia ido embora devido o seu atraso, mas isso era de uma falta de educação enorme. Se não podia esperar por ele, que mandasse avisar para não perder tempo indo até ali.

Por outro lado, ele não poderia julgar. Quem sabe se o homem não estaria preso no trânsito, assim como aconteceu com ele e não teve como avisar? Ele poderia estar chegando ainda.

Poderia apenas ir embora e depois quando o homem ligasse ele diria a verdade. Não tinha todo o tempo do mundo para ficar aguardando.

Porém, decidiu esperar pelo menos quinze minutos. Passou por duas mesas e sentou em uma outra perto da janela também, ficando de frente para a loira que ainda estava atenta ao que acontecia lá fora. Parecia pensativa e até mesmo um pouco séria. Chamou o garçom e pediu que trouxesse uma bebida para esperar. Não ficaria de garganta seca.

Olhou o relógio de novo. Quinze minutos. Vinte no máximo e depois iria embora.

Deixou a pasta na cadeira ao lado e ficou batendo os dedos na mesa, esperando seu pedido. Quando o garçom trouxe e o serviu, ele agradeceu e teve a atenção voltada para a loira um pouco adiante.

Ela o encarava com olhos brilhantes. Achou estranho o modo sério como o fazia. Não parecia um flerte. Ele meneou a cabeça e deu um sorriso de leve, bebendo um pouco.

Voltou a olhar para a porta de entrada, esperando ver se algum homem entrava, também procurando por outra pessoa, o que indicaria que era o senhor Fussô.

Ao mexer a cabeça de novo, lá estava a loira o encarando, agora de braços cruzados. Ele franziu a testa. Ficou em dúvida se a conhecia ou não?

Procurou no pensamento por algum rosto parecido, mas nada veio até ele. Estava pensando no que fazer quando seu celular tocou. Ele viu o nome da agência na telinha e logo atendeu.

— Pode falar - atendeu esperando que não fosse um cancelamento.

— Você é Nicolau Menotti?

Ele franziu a testa e olhou para a frente. A loira se levantava e pegava a bolsa, ainda o encarando.

— Sim, aqui é Nicolau. Quem fala?

Ele ergueu o rosto para ver a mulher parar em sua frente.

— Eu sou Dominique Fussô... E você está atrasado!

Essa foi uma grande surpresa para Nicolau que ficou de boca entreaberta, sem acreditar que ela era ele. No caso, Dominique não era um homem.

— Mas você é uma mulher - ele exclamou.

Ela sorriu e desligou o celular. Nicolau ficou sem saber como aquela criatura teria o sorriso mais lindo que ele já tinha visto na vida. Deixaria qualquer candidata ao miss universo em segundo lugar.

Sem falar no tom de sua voz ao telefone, que deixou seu ouvido encantado com um leve sotaque. Se essa voz fosse de uma atendente de tele-sexo, ele gastaria sua fortuna ligando vinte e quatro horas sem parar, todos os dias da semana.

— Desde que eu nasci, senhor Menotti - ela estendeu a mão para ele — E você me deixou esperar. Detesto isso.

Ele piscou rápido e olhou para a mão fina e pequena com unhas pintadas de rosa claro. Delicada. Ele gostou disso. Apertou sua mão e sentiu sua pele suave.

— Peço desculpas, o trânsito estava péssimo.

— Vou aceitar a desculpa porque sei que realmente o trânsito em Paradiso está cada dia mais caótico.

Ela sorriu de novo e ele logo observou seus dentes brancos muito bonitos. Os caninos eram um pouco pronunciados, o que lhe dava um charme no sorriso, parecendo pequenas presas vampirescas.

Autora Ninha Cardoso

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