7: Nota 0
Josué
Meu coração dispara ao ver Nadja puxar o gatilho, mas a arma está travada e nada acontece.
— Você ficou até branco. — Ela sorri e me devolve a arma.
— Que porra foi essa? — Coloco a pistola na cintura.
— Eu testando o quanto você é bom na resposta rápida. Sua nota é 0. Precisa melhorar isso, ou não viverá por muito tempo. — Ela fecha o freezer e se senta numa cadeira.
— Eu vou dar conta de matar o Soares.
— Pode me escutar, por favor? — Ela cruza os braços.
— Posso. — Suspiro.
Ela arrasta uma cadeira e a coloca de frente para ela. Olha para mim e me sento na cadeira.
— Não faz pouco caso de algo tão sério. Está subestimando demais o Soares.
— O que quer que eu faça? — Entro no seu jogo apenas para que esse assunto acabe logo e ela me deixe em paz.
— Pode começar aprimorando as suas habilidades. — Ela dá um tapa fraco no meu rosto. — Viu? Você é muito lento. É muito fácil te matar. Precisa melhorar os seus reflexos e sua visão periférica. De 0 a 5, como você se avalia como atirador? Considere a distância do alvo, os tiros acertados e errados, o tipo de arma e…
— Tá de brincadeira, né? — Bufo. — Para que isso tudo, mulher? Eu sou um 4.
Todo mundo que eu já tentei matar morreu. Errei alguns tiros, mas isso é a coisa mais normal do mundo, não é? Até a polícia erra. Por que eu não posso errar? Só não me dou um 5 porque ela ia me achar metido.
— Já se alistou?
— Não. Eu nunca fiz minha inscrição.
— Então eu te dou nota 1 por saber apenas o básico: apontar e atirar. Que tal começar a treinar?
Só faltava essa! Dou um sorriso de deboche e nego com a cabeça.
— Você sabe atirar? — pergunto.
— Sei. Aprendi legalmente.
— E tem técnicas?
— Claro. Infelizmente eu não posso te ensinar. Não possuo tempo.
Essa mulher é tão metida quanto as piranhas que empinam a bunda grande quando uma magrela passa.
— E você tá fazendo o que agora? Pode me ensinar. Mostra o que você sabe.
— E o baile, meu bem? Você não ia para lá?
— Vou não. Quero saber as técnicas.
— E a minha fome?
— Pede um delivery. Eu vou pagar. — Reviro os olhos…
Fomos para o terraço. Venta muito aqui em cima e é frio, mas a vista da favela é incrível.
— E agora? — pergunto.
— Primeiro tira a sua camisa.
— Para quê? Tá um frio do caralho. Cê tá doida?
— Faz parte do treino. Depois eu te explico.
Vou tirar, mas não vou fingir que acredito nessa.
Retiro a blusa e a jogo num canto no chão. Nadja estende a mão e eu a entrego a minha arma. Ela tira a munição, coloca na sua bolsa e me devolve a arma.
— Aponta a pistola para a minha cabeça.
Com uma mão, aponto para a testa dela, quase tocando na sua pele. Ela tira a arma da minha mão tão rápido que mal percebo o que ela fez.
— Há uma distância que você deve ficar para que eu não tenha chance de roubar sua arma e sua forma de pegar nela não é a melhor. Segure-a com as duas mãos. Faça como um policial.
O vento fica mais forte e sinto uma onda de frio passar pelo meu corpo.
— Posso colocar minha blusa?
— Não. — Ela me devolve a arma. — Se distancie até onde eu não consiga pegá-la.
— Como?
— Fique a um braço de distância de mim.
Aponto a arma para ela com as duas mãos e dou um longo passo para trás.
— Tá bom?
— Sim, senhor. — Ela coloca as mãos para trás. — Antes de o ensinar mais coisas, posso medir sua força e agilidade?
— Pode, mas como?
— Pegue a carregador da arma na minha bolsa e coloque na pistola. Prometo que não vou te machucar, apenas me defender.
— Você luta alguma coisa?
— Não, mas eu já fui uma mulher arisca e briguenta. Também vi alguns vídeos de luta na internet.
Coloco a arma na minha cintura e tento pegar a sua bolsa, ela desvia apenas a bolsa e consigo agarrar o seu corpo. Ela passa uma das pernas por trás da minha e consegue me derrubar, mas cai em cima de mim.
— Você disse que não ia me machucar. — Respiro fundo tentando suportar a dor nas costas enquanto a aperto.
— Ah, eu errei. Eu deveria ter dito que não ia te machucar diretamente.
Ela coloca as mãos no chão. Uma de cada lado do meu rosto e olha nos meus olhos com um sorriso de boca fechada.
Seguro sua cintura com apenas um braço e tento pegar sua bolsa, mas falho e ela se senta na minha barriga. Essa merda é magra, mas pesa mais que uma vaca.
— Tá me machucando! — Tento tirá-la de cima de mim, mas não consigo. Ela segura os meus braços e tira o seu peso da minha barriga. Forço os meus braços enquanto ela tenta os prender no chão, acima da minha cabeça. Ela não tem força o suficiente para isso e já está ficando ofegante. — Até que você é forte, mas não é tanto quanto eu.
— Você tem sorte que eu sou uma mulher recatada e não uso as minhas habilidades femininas.
— Nossa, seu sobrenome deve ser Recatada, né? — Dou um riso.
Ela inclina mais o seu corpo para frente e, usando o peso do seu corpo, consegue colocar meus braços no chão. Seu cabelo cai no meu rosto e ela joga o cabeça para o lado.
— Não vai fazer nada, Josué? — Ela molha os lábios e isso me faz suspirar. Lembro da voz dela dizendo o meu nome e isso faz meu corpo esquentar. Qual o problema dela? Por que ela não me chama pelo apelido?
Olho para o seu vestido. Ela não usa decote e só consigo ver suas pernas porque o vestido franziu ao se ajoelhar em cima de mim. Nadja conseguiu me deixar mais atiçado que uma mulher pelada.
— Cê é um filé, sabia?
— Não entendi. — Ela dá um risinho gostoso de ver.
— Você é gostosa.
— Eu não sabia que você é canibal e, mesmo que fosse, nunca me provou. Como pode dizer que eu sou gostosa? Isso é impossível.
— Gostosa, inteligente, mas muito estraga clima.
— Estragar o clima? Não tem como estragar o clima, mas há como mudá-lo. Muitas coisas que os seres humanos fazem contribuem para a mudança de clima. Já ouviu falar no Efeito Estufa? — Ela me solta e começa a falar sobre gás carbônico. Eu a empurro para o lado, tirando ela de cima de mim. Deixo ela falando sozinha, pego a minha camisa e a visto de novo. — Mas nós nem terminamos, Josué. Por que vestiu a camisa? — Ela coloca as mãos na cintura.
Nadja podia ter me dado um fora como uma mulher normal, mas não. Ela fez os Países Baixos se encolherem de tanto asco por esse assunto nerd.