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Trancafiada - Parte 1

Me chamo Victória sou morena clara e de olhos verdes, tenho 22 anos e nunca fui do tipo boa moça ou menina exemplo a seguir e desde bem cedo buscava uma oportunidade de trabalho sem sucesso quase que a qualquer custo.

Apesar de não me faltar nada financeiramente, eu sempre quis morar sozinha e me livrar da tirania do meu pai que quer me ver para sempre sob seu domínio naquela casa onde ele pensava dar as cartas, mas no fim sempre a última palavra era da bruxa da esposa dele.

Moro no bairro do Leme, situado no Zona Sul da cidade a um pulo da praia de Copacabana e me chamam de privilegiada. Eu sou obrigada a concordar com isso, ainda que preferisse ter paz de espírito e morar bem longe daqui por tudo o que esse lugar representa para mim.

Aline é minha amiga desde o colégio, ela é ainda mais vida louca que eu...sempre envolvida com caras bem barra pesada.

Por telefone:

Aline - Fala princesinha do Leme, ainda tem tempo de trocar uma ideia com sua amiga?

Victória - Deixa de caô! Anda fala o que você quer?

Aline - Como assim o que eu quero? Assim fica parecendo que eu passo a vida inteira a te pedir favores!

Victória - E não é?

Ela gargalhou do outro lado da linha, continuei com o pé pendurado a cama e pintando as unhas de rosa, enquanto segurava o celular entre a cabeça e o ombro.

Aline - Eu quero que saia essa noite comigo e Felipe.

Victória - Felipe não e o cara que te largou por na festa semana passada?

Aline - Ele disse que a mãe dele teve um imprevisto.

Victória - Ah sim, claro. Mas eu sei que ele é usuário e você anda nessa também, mesmo com milhões de conselhos que vivo te dando...imagina se meu pai sonha? Nunca mais me deixa falar contigo.

Aline - Deixa de onda, ele me prometeu que vai parar e além disso é uma festa tranquila perto do Morro da Babilônia...vamos?

Victória - Não quero ficar de vela para vocês.

Aline - E não vai ficar, ele prometeu que alguns amigos dele irão também.

Sussurrei, não sei por que, mas aquilo pela primeira vez ativou dentro de mim um sinal de alerta...mas ainda assim eu concordei.

Victória - Sim, mas se eu achar algo de errado nessa festa eu pego um Uber e vou embora!

Aline - Isso garota, assim que eu gosto. Passamos ai às 23:00, esteja bem gostosa.

Desliguei o telefone e continuei fazendo as unhas, minha madrasta como sempre entrou no meu quarto sem bater.

Camila - Como sempre atoa, por que não lavou a louça? Acha que tem empregada ou que a pia tem mão?

Victória - Se não percebeu lá embaixo, eu limpei toda a casa...acho que lavar uns pratos um dia não te fará cair a mão!

Camila - Olha lá como fala comigo sua moleca.

Victória - Ou vai fazer o que? Contar tudo para o meu pai? poupe-se do trabalho...ele te dá razão sem nem mesmo saber o que eu fiz.

Camila - Se já sabe que é caso perdido, por que me desafia?

Victória - Por que cada vez que cada vez que me inferniza, eu busco mais forças para sair desse inferno de casa.

Camila - Me avise, o dia dessa grande benção!

Mostrei o dedo do meio, pintado de rosa e ela saiu bufando de raiva feito um touro...dane-se o que ela diria ao velho Nestor, dane-se ele e dane-se ela! E eu queria mais era sumir daquela casa, ainda que fosse para aquela festa maluca de Aline.

Passei a tarde trancada arrumando os cabelos e escolhendo uma roupa legal para sair, joguei quase todas as peças que eu tinha sobre a cama. Provei oito vestidos, até me agradar do que eu sabia desde o início que iria escolher.

Um pretinho básico, modelo tubinho...pouco acima do joelho pois era muito justo para ainda ser curto. Às 21:00 meu pai chegou do trabalho e eu ouvia tudo o que a megera dizia para ele no quarto ao lado.

Camila - Sua filha não me respeita, vive a me desafiar! Além de tudo não quer ajudar em casa.

Nestor - Não sei mais o que fazer com essa garota, desde que a mãe morreu parece que perdeu o rumo!

Camila - Isso não é desculpa nenhuma para agir assim, ela tem que arrumar um emprego isso sim.

Chutei a cama...Deus, como se eu não procurasse!

Nestor - Vou mandar ela para Portugal, com meu irmão eu sei que ela vai andar na linha e fora que lá existem boas faculdades...

Camila - Vai pagar faculdade para ela?

Nestor - É minha filha.

Camila - Mas tem dois braços e duas pernas, pode muito bem trabalhar e pagar o curso como o resto do mundo.

Nestor - Está decidido...ela vai para Portugal!

Isso é o que veremos velho, se meu pai era um tirano...imagine meu tio? Policial aposentado, com todos os filhos criados e a vida por conta de mandar na dos outros ahhh isso nem a pau.

Minha madrasta era daquele tipo de mulher sanguessuga, 12 anos mais nova que meu pai. Compra tudo o quer e o bobo faz todas as suas vontades, afinal o que uma mulher como ela não consegue na cama? O pobre acha que a satisfaz na cama, deixa ele ver a surpresa enorme e vibratória que ela guarda gaveta debaixo do guarda-roupa, ele é careta demais para consentir que sua esposa use tal brinquedinho tendo o maçarico dele.

Eles não me deixariam sair assim toda arrumada, eu não queria mais uma briga naquela noite e liguei para Aline.

Victória - Mudança de planos...não me peguem aqui em casa o clima ficou tenso. Vou esperar na esquina!

Aline - Está bem.

Na hora marcada, eles já haviam ido se deitar e eu saí de fininho levando minha bolsa minúscula com o celular e ao cartão de crédito. Fiquei quinze minutos feito uma profissional da madrugada de bolsa de lado naquela esquina, até um carro preto chegar e Aline dar as caras.

Aline - Vamos gata!

Victória - Até que enfim.

Entrei naquele carro, vidros escuros e já havia um rapaz sentado no banco de trás.Era de pele morena, parecia fazer academia pois tinha braços fortes e definidos.

Aline - Se assuste não, esse é o David amigo de Felipe.

Victória - Boa noite!

David - Me chamo David.

Felipe me cumprimentou do banco do motorista e David também sorriu, era um rapaz bonito e tudo o que eu queria um entretenimento que me tirasse da realidade...como uma droga, mas não exatamente.

Algum tempo depois, chegamos ao Morro da Babilônia...percorremos algumas vielas estreitas e vimos crianças correndo na rua ainda que já fossem altas horas da noite. Onde estavam as mães desses moleques?

Felipe foi obrigado a frear bruscamente e quase bati o rosto no banco da frente.

Aline - O que foi?

Dois caras haviam nos dado uma fechada repentina, obrigando o carro a parar no meio da rua e nos apontaram duas armas...meu coração disparou e comecei a tremer.

Viola - Perdeu! abre a porta do carro, camarada...

Felipe - Ei vocês estão nos confundindo com alguém!

Gorila - Eu não te perguntei nada vagabund*, abre se não quiser levar chumbo.

Viola - Cadê a erva?

Aline - Que erva moço?

Victória - Abre logo essa porta!

Eu queria que desfizessem de uma vez aquele mal entendido e nos deixassem em paz, Felipe abriu a porta e um deles apontou a arma e fez um gesto com a cabeça para que ele se sentasse no banco detrás.

Gorila - Passa para o banco de trás, playboy.

Aquele cara se sentou no banco do motorista e o outro deu a volta se sentando ao lado de David, comecei a chorar desesperada e aquele homem tatuado e de cabelos descoloridos me olhava feito um predador, enquanto apontava a arma para todos nós.

Viola - Eu reconheceria essa tua cara de 171 até no inferno, o Frajola mandou a gente buscar o pagamento.

David - Eu juro que vou pagar, só pedi mais uns dias para conseguir a grana.

Gorila - Essa tua conversa mole não cola mais, ou passa os 10 "conto" ou hoje tu e tua galera amanhecem com a boca cheia de formiga!

David - Deixa eles irem...eu consigo esse dinheiro eu prometo.

Viola - Promete o cacete seu nóia!

Victória - Por favor, para onde estão me levando? Não temos nada a ver com isso.

Gorila - Relaxa patricinha "goxtosa", o chefia Frajola vai decidir o que fazemos com vocês.

Não posso acreditar que pagaríamos com a vida pela conta daquele maldito drogado, mesmo com aquela arma apontada para nossa cara eu tentei pegar minha bolsa e abrir para mandar uma mensagem no celular...tarde demais o carro parou em um beco escuro.

Gorila - Desce geral agora, vamo vamo vamo rápido!

Saímos do carro e eu estava tentando esconder o celular que tinha conseguido pegar com tanta dificuldade e medo.

Viola - Nada disso...me passem os celulares, todos!

Tivemos que entregar tudo, um deles foi na frente e entrou por um buraco no muro e outro atrás nos obrigando a segui-los.

Quanto mais entrávamos mais esquisito aquele lugar ficava, cheio de pichações com sinais que somente eles saberiam dizer o que significavam. Entramos em um barraco...tudo estava limpo apesar de que por fora, não parecia nada agradável.

Gorila - Os quatro sentadinhos aí!

Nos sentamos em um sofá, os dois nos olhavam sorrindo parece que sabiam qual era a pena que levaríamos apenas por estar junto com aquele caloteiro. Um deles tirou um celular do bolso...

Viola - Fala chefia, "pegamo" o meliante e mais três aqui....mas a galera "Boticário" parece que não é do bagulho! Sim senhor.

Gorila - E aí, metemo o ferro nos três?

Viola - Ainda não o Frajola foi buscar a verba na boca do 80 e e já vem decidir a vida desse pitelzinho aqui.

Ele tocou no meu queixo e eu me afastei rapidamente, ficamos uma eternidade sobre a mira daqueles dois e o pior de tudo eram os olhares imundos sobre mim e Aline. A porta se abriu e um homem alto, forte de olhos verdes e vestido em uma calça jeans de cor escura, camisa preta entrou...

Viola - Então chefia...aqui está a encomenda.

Não era nada do que eu esperava de um chefe de quadrilha, estava acostumada aos atores das novelas mostrando um biotipo bem diferente. Ele nos olhou...levantou David pelo pescoço e o obrigou a lhe encarar, o medo foi tão grande que ele urinou nas calças.

Frajola - Cadê tua dignidade de macho? Vai se acovardar na frente das damas?

David - Por favor cara...me dá mais um dia...

Frajola - Nada de mais um dia porr*!!! Te dei uma semana para me pagar e tu vacilou, agora me diz...o que eu faço?

Victória - Se matar ele, nunca vai conseguir receber.

Aquele homem jogou David no chão com força e veio com tudo para cima de mim, me levantando pelo braço e o encarei, ainda que assustada.

Frajola - Qual é teu nome boneca?

Victória - É Victória!

Ele me deu uma olhada de cima abaixo e eu não me intimidei.

Frajola - Tem razão...graças a você o verme aí vai conseguir mais um prazo.

David - Sim...juro por Deus que vou te pagar.

Frajola - Claro que eu acredito e para te dar um incentivo a gatinha aqui fica comigo até trazer os 10 mil!

Ele me deu um puxão e me envolveu pela cintura apontando a arma para eles.

Victória - Não, por favor não!

Frajola - E vocês, se voltarem aqui sem o meu dinheiro ou envolverem a polícia podem esquecer da patricinha...uma semana é tudo que dou para esse fodid*!

Levaram os três e eu fiquei nas garras daquele homem, eu chorava com a certeza de que não sairia mais viva daquele lugar e meu desejo de sumir de casa havia se realizado da maneira mais cruel possível.

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