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Parte II - Férias Perfeitas

Caminhei um bocado, estava cansada, com frio e com sede, ao meu redor só tinha areia e a água salgada do mar, eu não sabia que essa praia era tão grande, aliás, nem sabia que havia uma parte tão grande de praia sem ser turística, pois nesse caminho que eu estava à horas percorrendo, ainda não tinha avistado nenhuma barraca, nem mesmo vazia, e sei lá o que tinha acontecido com essas barracas, quando tinha vindo com o Cézar, eu tinha certeza que tinha visto várias pelo caminho e agora não tinha nenhuma, nenhumazinha pra contar história, e depois de caminhar mais de meia hora em círculos, estava na hora de admitir, eu estava perdida, assustada e incrivelmente cansada.

Sentei na areia e fiquei observando a imensidão azul escuro a minha frente, o mar era lindo, intenso e perigoso, no qual qualquer um que entrasse sem nenhum cuidado se afogaria e se perderia para sempre, assim era como se entregar a um grande amor, por isso eu sempre fugi dos homens, não queria que acontecesse comigo a mesma coisa que aconteceu com a minha mãe, que teve que me criar sozinha logo depois que meu pai a abandonou.

— Quem está aí? - Perguntei para a sombra gigantesca que se aproximava cada vez mais de mim, era uma sombra negra corcunda, que mais se parecia com um lobisomem ou um monstro qualquer, dei um grito e saí correndo, e me desesperei quando o bicho começou a correr também atrás de mim.

— Não corra! Ou se perderá novamente e quem sabe se conseguirei encontrá-la! - Ouvi a mesma voz que havia falado ao meu favor com o Senhor Cézar, e quando me virei, encontrei um rapaz vestido em um short de tecido fino e uma regata laranja, a sombra que tinha visto semelhante a uma corcunda, se tratava de um violão pendurado em suas costas, e sinceramente eu não sabia chorava de medo ou de alívio.

— Poderia me levar para a vila por favor? - Perguntei com receio, afinal, não sabia o que aquele rapaz queria comigo.

— É claro! Eu estou aqui para isso! - Respondeu com um sorriso enorme, e quando o brilho da lua cheia finalmente resolveu sair de trás das nuvens no céu, e iluminou o seu rosto, eu pude constatar o quanto ele era lindo.

Sua pele bronzeada mais se assemelhava com um fim de tarde acalorado, e seus olhos eram tão azuis e intensos quanto o mar à nossa volta, e quanto ao seu sorriso perfeito, era melhor nem comentar.

— Obrigada! Eu perdi completamente o senso de direção! - respondi tentando arrumar meus cabelos que eu sabia que estavam super bagunçados, principalmente por causa do vento forte à beira mar.

— Sou Rodrigo Valente! Você é a Renata não é? O Caio apresentou você na roda mais cedo!

— Sim! Eu sinto muito não ter falado com vocês! É porque eu fiquei inconformada com a forma que o senhor Cézar me tratou! Como se eu fosse uma qualquer!

— Bem! Não é a primeira vez que ele traz garotas com quem ele faz passeio turístico! E todas sempre caíram no papo dele! Confesso que quando eu vi você chegando, pensei que seria mais uma dessas garotas! Sinto muito!

— Tudo bem! Eu não me importo! Tudo o que eu quero é apenas voltar pra esse maldito hotel! - Respondi derrotada, estava perdida em uma praia deserta com um garoto totalmente desconhecido, totalmente lindo também, mas desconhecido.

— Você está aqui para trabalho, né? O que irá fazer mais ou menos?

O restante do caminho fui contando todas as atividades que teria que realizar enquanto estivesse na ilha, Rodrigo ouvia tudo atentamente e se mostrava tão interessado que me senti aberta até mesmo para falar os reais motivos de estar ali, relativos ao cancelamento das minhas férias quinzenais mais que merecidas, até a minha aparição, seguida de desorientação na praia deserta.

— Bem! Eu também sou guia, sabe! Mas eu prefiro atender o público idoso, eles são mais adoráveis, e as senhoras são muito simpáticas, e não dão em cima de você!

— Não sou nenhuma idosa, mas garanto que minhas costas doem como se eu fosse uma! - assim que eu disse isso ele gargalhou, e eu nunca fui de acreditar nessas histórias de polisinese, mas essa gargalhada rouca dele me fez ouvir passarinhos cantando, passarinhos amarelos cantando e voando em um dia de sol.

E assim uma bela amizade começou entre Rodrigo e eu, em nenhum momento ele se mostrou desrespeitoso, eu pude contar com a sua grande ajuda para me apresentar todos os lugares, pontos turísticos, pontos não tão visitados, mas de história e importância condizente como tal, e me levou também até o local onde alguns homens realizavam atividades de pesca, tanto de peixes quanto de outros frutos do mar, e também me mostrou a sua pequena cabana bem humilde à beira da praia.

— Então todos os dias você acorda com o barulho dos pescadores? - perguntei sorridente.

— Na verdade eu acordo bem mais cedo! Porque eu também vou com eles para o mar! - me olhou bem nos olhos com a sua imensidão azul e me confessou: — Sou pescador!

— Mas você não é....

— Beca me desculpa! Eu só queria ficar mais tempo com você! Na verdade eu não.... - o loiro me confessou meio cabisbaixo, acredito que ele teria pensado que eu iria me zangar com ele, mas o que acontecia era que eu realmente lhe devia um favor, eu estava perdida com esse trabalho de olheiro turístico, provavelmente teria que optar pelo Caio no dia seguinte, mas Rodrigo realmente me estendeu a mão, e foi uma maravilhosa companhia.

Já fazia uma semana que eu estava na ilha e já estava com o meu trabalho praticamente concluído, só me restava fazer o relatório, pois graças ao loiro, o trabalho de campo já havia sido realizado, e de um jeito bem mais profissional que o senhor Cézar, em nenhum momento ele me faltou com respeito, e nem me encurralou com investidas baratas, Rodrigo sempre me deixou bem a vontade e confortável, realmente parecia um guia turístico e não um pescador, e por falar em pescadores, estes trabalhavam com afinco no meio do sol, o que me fez entender o porquê do seu bronzeado perfeito, e também perceber que ele já estava praticamente a uma semana sem trabalhar.

—Mesmo assim terei que pagar pelos seus serviços, é claro!

— Não mesmo mocinha! Foi cortesia da casa!

—Está sem trabalhar a uma semana por minha causa! Eu não vou aceitar um não como resposta! - respondi decidida.

— Já tá na hora de almoçar Beca! Que tal você conhecer meus dotes culinários?

Rodrigo me deixou sentada à sombra de uma árvore, tirou sua camiseta e pegou sua rede de pesca, depois foi em direção ao mar, pouco tempo depois o mesmo chegou com dois peixes enormes, mas o que mais me chamou atenção foi o seu peitoral bem definido e o seu tanquinho perfeito, poxa vida, que homem magnífico!

— Agora eu vou te apresentar a minha humilde residência! - disse pegando na minha mão e me levando até a sua cabana — Eu não preciso de muito Beca, eu mesmo pesco o meu sustento e meu alimento, estar com você esses dias, foi um momento mágico e único, e para mim não teve preço, por favor, não me ofenda querendo me oferecer pagamento por momentos tão especiais.

— Tudo bem desculpe! - Respondi olhando para baixo e juntando os dedinhos das mãos.

— Você é uma fofa, sabia? Experimente um pouco do meu peixe ao molho com arroz! - Disse me entregando um prato bem cheiroso com peixe e arroz, no qual nós havíamos preparado, quer dizer, ele havia preparado e eu na maioria do tempo o atrapalhei, e devo dizer que, realmente estava uma delícia.

— É uma delícia dupla! Comer esse tempero maravilhoso e apreciar essa vista do mar! - disse enquanto fitava o mar calmo e sereno à nossa frente.

— Não me cansarei disso nunca Beca! Juro pra você!

— E seus pais, onde estão? - Não conseguia mais esconder a minha curiosidade, Rodrigo não parecia ter mais do que vinte anos.

— Morreram em um acidente de carro em Salvador quando eu tinha quinze anos! Eles estavam indo conhecer uma escola para eu estudar no ensino médio e essa tragédia aconteceu! Desde então eu nunca mais pisei em uma escola! - Era impossível não perceber o seu tom magoado.

— Eu sinto muito! - Respondi com pesar.

— Tudo bem! Já faz cinco anos! - Me disse sorrindo, como se assim fosse me compensar por ter presenciado o seu momento de tristeza. — E você? Me parece bem independente!

— Deixei minha casa aos dezessete quando fui fazer faculdade de direito, que na verdade era a vontade dos meus pais, mas nunca consegui me encaixar na profissão! E ganho a vida como secretária! O que me faz ser uma completa ovelha negra em uma família de advogados! Resumindo! Não convivo muito com eles! Pois evito os discursos sobre eu não honrar o sobrenome que tenho, ter quase trinta anos e ainda não ter encontrado ninguém, coisas do tipo.

— Que barra! Porque você não abandona tudo e vem morar comigo? - Perguntou me olhando fundo nos olhos e depois nós dois sorrimos, por um momento eu até acreditei em seu semblante e tom de voz, por um momento eu até cogitei em realmente fazer o que ele estava me pedindo.

O resto do dia foi muito divertido! Tomei banho de mar com o Rodrigo, e quase consegui conquistar um bronzeado tão perfeito quanto o dele, só quase, porque segundo o loiro, eu teria que morar na cabana com ele pra ficar com a pele tão perfeita quanto a sua.

E quando começou o pôr do sol, Rodrigo pegou seu violão e acendeu uma fogueira, o Lual daquele dia seria particular, e os únicos integrantes éramos ele e eu. E com a linda visão do sol beijando o mar deixando para trás seu rastro alaranjado, Rodrigo cantava lindamente.

Eu sei, tudo pode acontecer

Eu sei, nosso amor não vai morrer

Vou pedir aos céus, você aqui comigo

Vou jogar, no mar, flores pra te encontrar

Não sei por que você disse adeus

Guardei o beijo que você me deu

Vou pedir aos céus, você aqui comigo

Vou jogar, no mar, flores pra te encontrar

E assim que o sol se pôs completamente, e deixou tudo escurecido, eu tive a coragem de aproximar meu rosto do dele e tocar nossos lábios com um beijo calmo e tranquilo no início, que aos poucos foi se tornando necessitado e desesperado, demonstrando todo o desejo que aos poucos fomos começando a sentir um pelo outro durante a semana que havia se passado, e foi na areia da praia, e na companhia das estrelas no céu que nós fizemos amor.

A segunda e última semana que se passou foi perfeita! Com certeza foi a semana mais perfeita que tive em todos os meus trinta anos de vida fodidos, Rodrigo tentou sem sucesso me ensinar a pescar, fizemos castelos de areia, fui apresentada aos seus amigos, os mesmo que estavam na roda do Lual que fui no meu primeiro dia de estadia na ilha, e descobri que os mesmos eram muito legais e que não aprovaram em nada do que o Caio Cézar fez comigo, pois se não tivesse sido o Rodrigo, nem sei o que teria acontecido comigo perdida na praia, por isso os mesmo se afastaram do senhor Cézar.

Eu praticamente quase não andava mais no hotel, dormir na cabana simples, mas porém confortável e muito bem arrumada do Rodrigo se transformou quase num hábito, nós andávamos de mãos dadas, era como se fôssemos um recém casal curtindo a sua felicidade. Mas como nada é para sempre, o dia da minha partida havia chegado.

— No fim eu fui o seu amor de verão? Me diga Beca! Pelos menos isso! Diga que se apaixonou por mim, da mesma maneira que eu me apaixonei por você! - pediu Rodrigo com os olhos vermelhos, sua expressão triste estava tornando a situação bem pior e quebrando ainda mais o meu coração.

— Eu quase não sei sobre o amor Rodrigo! Mas tenho certeza de que é algo bem parecido com o que eu estou sentindo agora! - respondi com lágrimas nos olhos, lágrimas essas que foram secas pela mão calejada do loiro, antes de me puxar para o nosso beijo de despedida.

— Eu tenho uma coisa pra você! Prometa que só vai abrir quando chegar em sua casa! - Rodrigo me disse entregando uma caixinha pequena, e depois disso, após um abraço apertado, me ajudou a entrar na lancha.

Conforme a embarcação ia se afastando e sua silhueta ia ficando mais distante, meu coração se apertava mais e mais, era como se tivesse um bolo na minha garganta, e um peso enorme no fundo do meu ser, cortando e me dilacerando por dentro, e quando sua imagem desapareceu completamente, deixando para trás apenas o horizonte azul, me desabei profundamente em um choro sem fim, naquele instante eu tive duas certezas, a primeira era que amava o Rodrigo com todas as minhas forças, e a segunda era que havia deixado um pedaço meu com ele, o pedaço que era responsável pelo meu sorriso e pela minha felicidade.

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