Parte I - Férias Perfeitas
Rebeca
Ódio! Ódio! Ódio! É a palavra que me define no momento! Motivo? Ter sido tirada do conforto do meu lar, no qual eu ficaria as próximas duas semanas trancada, seriam as férias de verão mais perfeitas que alguém como eu poderia imaginar, sem ter contato com o mundo exterior, um cobertor super grosso, comida estocada o suficiente, internet em dias, e a minha televisão gigante para eu assistir todos os episódios atrasados da minha série favorita.
Me julguem se quiserem! Mas eu sou uma romântica incorrigível e não nego! O fato de eu estar solteira no auge dos meus trinta anos não quer dizer que eu não seja apreciadora de um grande e lindo amor, não que eu já tenha vivido algum amor nem nada, mas eu adoro ler e assistir um bom e adocicado romance.
Mas enfim, fui privada do meus maravilhosos quinzes dias tranquilos de solidão e felicidade, simplesmente porque a esposa do meu chefe desistiu na última hora de viajar com ele para as férias quinzenais em Paris, e no lugar dela, quem ele levou? A sua amante e responsável pelo departamento turístico da nossa empresa Cibele.
Ok! Ok! Deixe-me explicar desde o início! Eu sou Rebeca Honara, adoraria dizer que tenho trinta anos muito bem vividos, mas se bem vividos que dizer que eu passei metade deles, afundada no trabalho enquanto todas as minhas amigas saíam para as baladas, curtiam a "night" e conseguiam arrumar namorados, que atualmente são seus maridos, pois sim, meus trintas anos foram muito bem vividos, "é nóis".
Tá, voltando aqui! Trabalho como secretária do senhor Madson Oliver nas Empresas Oliver’s, e como ele tirou os quinzes dias de férias para viajar com sua esposa significava que eu teria meus quinzes perfeitos dias de férias também, mas, infelizmente algo deve ter acontecido e a senhora Oliver não pode viajar, o que acarretou na ida da sua amante Cibele, e na minha deslocação para ter que substituí-la em sua viagem para o "Morro de São Paulo - Salvador BA" , Cibele teria que visitar o lugar por quinzes dias, conversar com os comerciantes, conhecer os vendedores ambulantes, observar a movimentação turística, as famílias ribeirinhas e seus sustentos, e fazer um relatório gigante para decidirmos se vale a pena ou não construímos um Resort no local, e todo esse trabalho que minha colega teria virou tarefa de quem? Advinha? Sim, da senhorita "Escrava Honara".
E lá estava eu, descendo do avião a pedido do meu feche, indo pegar uma barca, para fazer um trajeto de mais ou menos 45 minutos até uma ilha que fica próxima à Salvador, e porque eu estava fazendo aquilo? Porque simplesmente não queria perder o meu emprego, porque em vez de procurar homens, sempre estive focada no meu trabalho, para quê? Para espertinhas como a Cibele se darem bem e contarem vantagem em cima de pessoas como eu, e pessoas como a mulher do meu chefe.
— Bom dia! Imagino que a senhora deve ser a senhorita Honara! Eu sou Caio Cézar, guia de viagem! - disse o jovem moreno e forte, e também bonitão, e também com cara de safado, meu alerta vermelho para homens sem vergonha piscou alto assim que me deparei com seus olhos castanhos.
— Bom dia! Sim! Obrigada senhor Cézar! Será um prazer tê-lo como acompanhante! - Respondi tentando parecer o mais profissional possível, a minha segunda maior habilidade é ser secretária do senhor Oliver, a minha primeira melhor habilidade é ser uma completa espantadora de homens.
Mas o moreno pareceu não entender o nosso nível de profissionalismo, pois a cada vez que eu procurava me esquivar, ele buscava se aproximar mais de mim, e ficava falando sobre a vida na ilha durante a longa viagem de ônibus até chegarmos em mais um porto, onde finalmente pegaríamos uma lancha e iríamos até o morro de São Paulo, eu nunca imaginei que uma ilha ficasse tão longe assim, mas enfim é uma ilha né, um pedaço de terra no meio do mar, lógico que ficaria longe.
— Está gostando do passeio senhorita Honara? - Perguntou o moreno assim que desembarcamos na ilha.
— Sim! Só estou um pouco enjoada! Gostaria logo de chegar ao hotel! Preciso descansar um pouco antes de começar com o passeio! - respondi com a voz um pouco fraca, realmente os passeios de lancha não eram o meu forte.
— Ah, tudo bem! Sem problemas! Logo mais a noite terá o Lual e você precisa descansar! Até mais Rebeca! - respondeu o César me dando um beijo no rosto com uma intimidade um pouco exagerada assim que terminei de fazer o chek-in no hotel, e eu dei graças a Deus quando ele foi embora e finalmente pude descansar.
Faltando dez para as nove, meu celular despertou! Fui para o banho e depois escolhi um vestidinho leve com estampas floridas, por enquanto era o que eu tinha de melhor que se parecesse com um lual de praia, calcei uma sandália de dedo e esperei o senhor Cézar vir me buscar, parece que o meu expediente de trabalho estava acabando de começar.
A praia no qual o senhor Cézar me levou era simplesmente linda! Tinha uma galera com uma vibe bem tranquila, ao redor de uma fogueira, tocando violão e cantando várias músicas bem legais, eu só achei a quantidade de pessoas um pouco baixa para um evento de negócios, aliás, mais parecia uma turminha de amigos.
— Boa noite pessoal! - Disse Cézar segurando na minha mão e me convidando pra sentar na rodinha de amigos — Essa é a Rebeca! Uma amiga minha!
— Mais uma das suas amiguinhas Cézar? Nos poupe! - perguntou uma ruiva me olhando de cima a baixo com desdém, o que eu achei uma tremenda falta de respeito.
— Não é da sua conta Karin! Não se toca que eu não quero mais nada com você! - A ruiva fez bico parecendo que iria chorar.
— Um momento! Senhor Cézar, esse Lual tem algo a ver com os programas das Empresas Oliver’s? - Perguntei indignada, não acredito que o senhor Cézar me tirou da tranquilidade da minha cama no quarto do hotel para me trazer em um encontro particular e isso sem pedir a minha opinião.
— Meus serviços como seu guia turístico acabaram assim que você deu entrada no hotel! Eu imaginei que você quisesse sair comigo, que assim como eu, você também estivesse querendo algo a mais! - O moreno metido puxava minha cintura, e sem nem pensar duas vezes lhe dei o maior empurrão.
— Em nenhum momento lhe disse que queria sair com você! O senhor me dê licença! Estou aqui para trabalho! Agora me leva de volta por favor!
— Já que é assim então vá sozinha! - O Cézar riu debochado e se sentou, sem nenhum indício de que iria fazer o que eu estava pedindo.
— Não seja idiota Cézar! Vá deixar a garota! - Ouvi uma voz rouca e estridente falar às minhas costas, isso mesmo, porque eu já tinha dado meia volta e estava percorrendo o mesmo caminho no qual eu tinha vindo antes, e a única coisa que eu ainda ouvi da turma atrás de mim, foi as risadas juntamente com a voz de Cézar se negando a me levar de volta.