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VI

Naquela noite.

Embora os alunos do EM no Delphine fossem forçados a usar uniformes, o mesmo não se aplicava aos estudantes dos cursos técnicos e isso permitia que as garotas transformassem a escola em uma passarela de desfile de moda.

Quando Isadora virara a esquina junto de Leonard e Katie, o portão principal já estava aberto, mas dezenas de alunos continuavam do lado de fora fumando, namorando, estudando ou apenas jogando conversa fora enquanto o sinal para o início das aulas não os forçava a entrar.

Sendo o Delphine um dos colégios mais caros e conceituados de San Dimas, a maioria dos alunos eram nerds assumidos, mas fora das salas de aulas eram jovens normais, os rapazes ostentando carros e motos e as garotas exibindo roupas, penteados e reparando umas nas outras.

Isadora era como uma ônix em meio a um par de pérolas, considerando sua pele de cor do ébano comparada à pele branca como leite dos dois amigos que sempre a acompanhavam. Nessa noite a garota vestia uma camiseta branca sob a jaqueta jeans da Hard Rock Café, além de calças jeans justas e botas que iam até quase os joelhos, como gostava.

O vento, indicando as chuvas que cairiam em breve, balançava as copas das árvores da mesma forma que esvoaçava os cabelos de Isadora, deixando em destaque os grande brincos de argolas finas e douradas que usava. A completa ausência de maquiagem e os óculos entregavam a nerd logo de cara.

Katie estava ao seu lado, vestia uma jaqueta jeans duo com mangas brancas de moletom e calças legging pretas com botinhas marrons que lhe cobriam até pouco acima dos tornozelos. Diferente da colega, a loira amava maquiagens que se destacavam em sua pele clara, com lápis escuros nos olhos verdes e batom vermelho que realçava seu sorriso à distância.

Os cabelos dourados desciam lisos até pouco abaixo dos ombros e Katie os jogava com o vento como quem está desfilando para uma plateia. De certa forma era como ela se sentia.

—Então – sussurrara ao ouvido da amiga – Hoje é o dia que minha princesa se declara e domina o coração de um garanhão selvagem…

—Não sou princesa e nem vou domar garanhão selvagem nenhum, relaxa, Barbie – respondera a garota enquanto conferia os alunos que se amontoavam pelos cantos à procura do sujeito.

—Hum… – Leonard esboçara um sorriso do outro lado exibindo os dentes brancos e perfeitos – Então a gata borralheira coloca as unhas de fora.

—Gente, menos pressão, lembram? Disseram que não ia ter pressão…

Katherine e Leon se inclinaram para frente a fim de se encararem. Isadora, no meio do trio, observara a expressão no olhar de ambos. Aqueles sorrisos maléficos não eram sinal de que a deixariam em paz facilmente.

Por fim, o grupo entrara para o colégio, parando junto às mesas do amplo refeitório. Na mesa ao lado duas outras alunas do curso de TI falavam sobre os rapazes mais desejados do colégio e como não poderia faltar, Leonel era um dos nomes comentados.

De acordo com elas, o sujeito estava na rede de uma das amigas. Isadora e a dupla de amigos apenas ouviam, nada concreto, apenas fofocas. Mas sendo as garotas que falavam Phoebe P. Dawn e Sharon Carter, o trio podia imaginar quem era a outra citada na conversa, afinal, as duas eram tietes de uma aluna também do curso de TI, a mais conhecida aluna do colégio.

—Meninas, vamos dar uma voltinha lá fora antes que o sinal da aula toque – dissera Leon se levantando – Estou sentindo um cheiro de peixe por aqui, acho que vão servir piranha na lanchonete hoje…

Isadora e a amiga se encararam quase ao mesmo tempo em que Phoebe na mesa ao lado, voltava o olhar para o rapaz. Leonard adorava provocar. A morena de olhos verdes apenas torcera os lábios se virando para a amiga com descaso pelo comentário, mas Leon sabia que as atingia e adorava isso.

—Piranhas... – sussurrara, já saindo ao lado de Isa e Katie em direção ao portão.

Logo que saíram para a calçada diante do portão de entrada novamente, Isa e os outros viram quando o Camaro Cupê SS 2019 Black Gold estacionou. Era um dos carros do pai de Leonel e raramente o sujeito ia com ele para a aula.

Quando a porta se abriu, o som do interior preencheu o lado de fora.

♫♪ Back in black

♫♪ I hit the sack

♫♪ I've been too long I'm glad to be back

♫♪ Yes, I'm let loose

♫♪ From the noose

♫♪ That's kept me hanging about

♫♪ I've been looking at the sky

♫♪ 'Cause it's gettin' me high

♫♪ Forget the hearse 'cause I never die

♫♪ I got nine lives

♫♪ Cat's eyes

♫♪ Abusin' every one of them and running wild

Leonel saíra e pressionando um botão no controle o som parou. Todos por perto disfarçavam não estarem babando na presença que aquele carro causava. O sujeito acenara para Isa e os amigos do curso e dera a volta no carro, indo abrir a porta do lado do passageiro.

O sinal para a primeira aula soara ao mesmo tempo em que o rapaz ajudava uma linda loira de olhos azuis a sair do carro. Isadora ficara muda, em um piscar de olhos as palavras ensaiadas para aquela noite tinham ficado perdidas em algum lugar de sua mente confusa.

Leon e Katherine estavam boquiabertos, as fofocas das vadias estavam certas. Trixie St. Luna, a rainha das patricinhas e piranhas do colégio Delphine's de acordo com o rapaz, havia lançado a rede sobre o garanhão indomável. E ele aparentemente tinha sido dominado.

—Novo plano – sussurrara Leon ao ouvido de Katie – Vamos ter de espantar algumas vacas para nossa princesa sambar na passarela, se é que me entende.

—Entendo perfeitamente – respondera a loira com outro sussurro.

Trixie era aquela combinação perfeita para vilã de contos de fadas. Nascida em uma família rica e carregada de influências, ela tinha dinheiro e charme, além de ser linda e extremamente inteligente, se equiparando à Isadora nas aulas.

Era surpresa que Trixie e Leonel ainda não tivessem assumido uma relação mais séria, afinal, ambos já haviam sido vistos juntos em outras ocasiões e suas posições na sociedade somado aos nomes de suas famílias faziam deles o tipo de casal ideal.

Tão logo saíra do carro, Trixie enlaçara seu braço ao de Leonel. Quando os dois passaram por Isadora, a loira sorrira e acenara para a menina. Isa ficara apenas imaginando se o colar de pérolas, brincos e anéis que Trixie usava eram cópias ou autênticos. Tudo naquela garota parecia brilhar. Não seria surpresa se seu pai a fizesse ser vigiada por seguranças vinte e quatro horas por dia.

No entanto, havia coisas que a nerd sabia serem imensamente falsas. O sorriso e o cumprimento estavam no topo da lista. Trixie não aceitava ninguém que não a idolatrasse e qualquer um fora do círculo de patricinhas que andava não estava incluso nas amizades.

Mas assim como o pai, bancário, Trixie sabia que diante do público, a melhor atuação era a de carisma e simpatia por todos.

Logo que o casal passara, o trio de amigos seguira enquanto o zelador já começava a fechar o portão. Phoebe, que notara como Isadora e Katie olhavam para o casal, fitara a garota de frente.

—Nunca viram um casal feliz antes? – indagara em tom de deboche.

Leon olhara para Isadora como quem pede uma autorização não verbal e antes que a menina dissesse qualquer coisa, o amigo se voltara para a morena arrogante a fim de iniciar uma discussão. Isa, no entanto, o tomara pelo braço, fazendo com que o mesmo a encarasse.

—Não vale a pena. Sabe como funciona o colégio – sussurrara – Não vamos começar algo que irá prejudicar a todos. Além de quê, Leonel é livre. Trixie e ele não fizeram nada de errado, temos de aceitar os fatos.

—Mas essa deveria ser a sua noite, meu anjo. Não diga que está pensando em deixar barato. Porque eu não estou! – sussurrou Leonard em resposta, se alterando no final, com as mãos na cintura.

—Não disse que estava desistindo de nada – dissera Isadora – Apenas não é a melhor hora, nem lugar. Somos mais inteligentes que isso, melhores que isso.

O rapaz suspirara, se recompondo.

—Tem razão, pego ela na saída.

—Não pega não – emendara a garota.

—Ah, capricornianas, sempre tão chatas no melhor da festa…

—Arianos, tão explosivos e bobinhos – comentara Isadora, tomando o amigo pela mão e o puxando enquanto Phoebe continuava ao lado de Sharon – Mas devo dizer que os amo. Vamos logo para a sala.

Katie erguera as sobrancelhas e suspirara fitando Leonard.

—Ela tem razão. Temos de ser sensatos, mas apenas para ficar registrado, teria ajudado a dar uns bons socos naquelas cadelas – dissera abraçando Isa pela cintura e seguindo com os dois.

—Eu sei, querida – respondera Leon para a loira, balançando a cabeça em tom inconformado – Um dia ainda iremos convencer nossa princesa a se divertir no nosso ritmo.

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