V – Piranhas
Isadora estava com o olhar fixo na tela central do computador em sua mesa. Ter um pai apaixonado por tecnologia era um grande ponto a favor quando essa era também sua grande paixão. A enorme mesa de escritório posicionada no lado direito da janela tinha três monitores ligados à CPU e a garota raramente se via programando uma coisa só.
Além disso, quando estava sozinha um dos monitores estava sempre com pornografia na tela. Naquela tarde o problema não eram as linhas de códigos que não funcionavam e sim sua mente trabalhando distante dali, distraída com coisas irrelevantes naquele caso.
E com coisas irrelevantes a garota se referia a sexo.
Já fazia uma semana desde o ocorrido com Leonel embaixo da ponte. Nada de novo acontecera desde então, o clima entre ambos voltara ao normal, onde ele só pensava em estudar e concluir tudo primeiro que ela nas aulas.
Como se já não fosse demais ser chamada de a segunda da turma por ter as mesmas notas, o mesmo potencial, mas não a mesma velocidade na hora de programar, agora tinha de ouvir dia e noite Katie e Leon lhe dizendo sobre como ela estava perdendo tempo não avançando a relação com aquele sujeito.
Mesmo sendo gostoso, bonito, inteligente, dotado e um dos homens mais desejados do colégio, Isadora ainda não conseguia simpatizar completamente com o rapaz. Lembrara-se do mesmo a interrompendo durante um debate com o professor em uma aula de C e a corrigindo na frente de todos.
O pior de tudo? Ela estava errada!
Nem tivera como argumentar e seguindo um dos milhares de conselhos que sempre ouvira do pai, reconhecera o erro e agradecera, mas por dentro, tudo que queria era poder o enforcar.
Ela era uma mulher, havia tido um momento de intimidade com ele. Havia o deixado gozar em sua boca! Ele não poderia ser mais delicado com ela?
Sempre pensara que entendia tudo sobre sexo, que teria o controle quando acontecesse e tudo ocorreria da forma que desejasse, mas ao contrário disso, a cena em que estivera com Leonel não saía de sua cabeça, queria mais e não sabia como lhe dizer isso sem parecer uma completa oferecida. E o sujeito parecia não se importar. Isa sentia que para ele, era como se ambos tivessem saído para tomar um sorvete e nada mais.
Não, sorvete não.
Pensar em Leonel e em sorvete já a fazia imaginar sua boca e sua língua em ação novamente com o rapaz. E lá estava ela com a calcinha encharcada de novo. Tinha que descobrir uma forma de resolver aquilo.
—Planeta terra chamando Isadora DJ – Leon sempre abreviava as iniciais do sobrenome da menina e os pronunciava juntos para chamar sua atenção – Por acaso ainda estamos no mesmo universo, meu bombom?
Os olhos negros da garota voltaram-se para sua esquerda onde o rapaz se inclinava olhando para ela. Só então se dera conta de que estava com as mãos paradas sobre o teclado, sem digitar nada.
Retirou os óculos e limpou os olhos tentando se lembrar a quanto tempo se encontrava distraída daquele jeito. Finalmente torceu os lábios com um esboço de sorriso num canto, encarando o amigo.
—Há quanto tempo eu estava dormindo acordada? – sussurrou.
—Precisos e extremamente longos doze minutos – dissera o rapaz erguendo uma sobrancelha – Sabia que o tempo corre em ritmo diferente para quem está dormindo e quem está esperando? – comentara sarcástico – Em um instante estava falando sobre seu programa de segurança para o shopping e no seguinte ficou congelada, presa em outro mundo… – colocando uma das mãos na cintura, Leonard levara o indicador da outra até o queixo – deixe-me adivinhar, sonhando com um certo amigo dotado que temos em comum.
—Não é que eu queira…
—Girl, é claro que você quer! – Leon adorava interromper as divagações de Isadora, mesmo sabendo que ela odiava – Você conferiu ao vivo, muito vivo, por sinal, ativo e em cores o maravilhoso dote enorme de Leonel Del’Aventura, um dos bofes que a maioria pagaria para sair. Não finja que já o esqueceu.
—É claro que não me esqueci, só queria não pensar tanto nisso…
Leonard colocara as duas mãos dos lados da cintura, ambos polegares nos bolsos da calça preta justíssima e suspirara. O rapaz de vinte anos tinha um metro e setenta e cinco e pesava sessenta e cinco quilos, causando inveja para Isadora e Katie, que sonhavam com aquele corpo.
Não bastasse apenas ser alto e magro, o sujeito tinha a pele branca como a neve, lisa e macia como um pêssego. Os lábios naturalmente rosados pareciam estar sempre cobertos por uma camada de batom que nunca desaparecia. Tinha olhos tão negros quanto os de Isa e seus cabelos eram escuros e lisos, com um tom azulado quando estavam molhados.
Puxara uma das cadeiras de escritório e se sentara bem ao lado de Isadora, encarando a amiga nos olhos. Esticara as mãos e segurara ambas da menina, a puxando para mais perto de si. Os óculos da garota escorregaram, parando na ponta de seu nariz, mas ela não soltou as mãos do rapaz para os arrumar.
—Veja bem, meu anjo – dissera Leon, parecendo mais calmo, como quem fala com uma criança – Conheço um escritor que costuma dizer o seguinte: no nosso mundo existem dois tipos de pessoas, as que vivem plenamente com sua sexualidade, satisfeitos e gozando sempre mais, explorando novidades e opções e aqueles cuja vida sexual frustrada se reflete em sua indecisão e falta de foco em todos os projetos sociais que executa.
—O que quer dizer? Que estou me tornando a segunda opção? – Isa ficara surpresa com as palavras um tanto diretas. Leon costumava falar sobre tudo em tom de brincadeira.
—Não, amor, quer dizer que todas as pessoas, sem exceções, são sempre movidas por desejos sexuais. Alguns colocam o sexo como prioridade e acabam ferrando tudo porque se esquecem que sexo é um complemento para tornar a vida mais gostosa. Sexo é a cereja no bolo, aquele detalhe que você anseia em saborear por último porque sabe que vai valer a pena. Já outros esquecem a importância que o sexo tem e sem perceber acabam frustrados sem conseguir gozar outras realizações porque, afinal de contas, sexo é o grande prêmio em tudo que sonhamos.
—Bem confuso.
—Vamos simplificar então. Entenda assim. Você já pensava em sexo vinte e quatro horas por dia e nós sabemos disso – a garota ruborizara – A diferença era que sabia se satisfazer sozinha, tinha tudo sob controle. Agora, mesmo que saiba que pode gozar sozinha, você quer gozar com o gostosão da sala – esse sim se parecia com Leon falando – Mas não disse isso para ele, não deu dicas e… é triste dizer isso, mas acho o Leo meio devagar. Sabe como dizem por aí, cérebro e músculos não combinam e Leonel tem os dois, mas não sabe usar do jeito certo, ao que percebemos.
—Vai se irritar se eu disser que continua confuso? – Isadora rira torcendo os lábios.
Leonard torcera os lábios ao mesmo tempo que ela e ambos se encararam nos olhos por alguns segundos sem dizer nada.
—Não há nada de errado com você em querer transar, girl, vamos dizer que o único problema está na comunicação. Você tem um bofe perfeito que está na sua, mas vocês são dois nerds incorrigíveis que não sabem abrir o jogo um com o outro. Ele provavelmente está nesse exato minuto perdido tentando programar algo também. E eu não vou deixar minha melhor amiga frustrada logo com sua primeira transa. O que você precisa é tomar a iniciativa e por sorte tem o amigo perfeito para te ajudar com isso.
—Vou conseguir me concentrar nos estudos depois disso? – indagara ela.
—Você não ouviu nada do que eu disse antes? Uma vida sexual plena é a chave para o controle e sucesso em tudo. Você já é perfeita, não tem com o que se preocupar – respondera o rapaz puxando a menina e a beijando nos lábios.
Após o selinho, Isadora contemplara a expressão no olhar de Leon, uma das sobrancelhas finas arqueadas e o sorriso peralta nos lábios. Era difícil confiar, pois Leon era o tipo que não se importava em ganhar ou perder, sempre dava a volta por cima e virava as coisas a seu favor, a qualquer custo.
—Quer saber? – comentara – Dei tempo demais para ele se manifestar. Se esse é o único jeito, vamos tentar. O que tenho a perder?
Além do meu orgulho e dignidade? – pensou sem dizer em voz alta.