Babilônia (II)
Fui encontrar meu amigo, que seguia dançando sozinho entre a multidão. E não foi difícil encontrar um rapaz magro, não muito alto, com blazer vermelho com xadrez, calça azul brilhante e botinas militares pretas e um lindo chapéu na cabeça. Os longos cabelos cor de mel, trançados, se mexiam conforme ele dançava no ritmo da música.
O abracei por trás. Ele virou-se e começamos a pular, grudados um no outro.
- Isso aqui é simplesmente perfeito, Babi.
- Tanto quanto as bebidas... Eu bebi chopp de chocolate com pimenta... Tem noção?
Ele beijou meus lábios:
- Não tem gosto de chocolate com pimenta.
- Porque o último foi de menta. – comecei a rir. – Sinta. – Beijei-o novamente, deixando-o sentir o gosto na minha língua.
- Está adocicado. – apertou os olhos, fazendo careta.
- Você precisa provar, Ben.
- Lá no bar ou nos seus lábios, Babi? – riu sarcasticamente.
- No bar, seu bobo.
Ele demorou um pouco para voltar. Eu continuei dançando. As músicas eram agradáveis e o ambiente perfeito. Logo Ben voltou e começamos a dançar sensualmente, como fazíamos em casa para nos divertirmos. Em pouco tempo, juntaram algumas pessoas ao nosso redor, curiosos com nossa dança.
Jamais imaginei que nossa coreografia de quem não tinha nada para fazer nos finais de semana à noite fosse fazer tanto sucesso. E quando vi, meu amigo foi surpreendido por um homem de quase dois metros, puro músculos, que o beijou sem pedir licença.
Nossa, ele destruiria meu Ben. Tinha no mínimo quarenta centímetros a mais que ele. E se o seu pau fosse proporcional à altura... Ben estava literalmente fodido.
Em pouco tempo meu amigo desapareceu na multidão. Fumaça artificial tomou conta do lugar e as dançarinas entraram nas caixas transparentes, ovacionadas pelo público enlouquecido. Uma nova música começou. As luzes ficaram em cores diferentes e refletores claríssimos ficaram fixos em cada uma delas, que começaram a dançar conforme o ritmo.
Elas usavam espécies de panos brancos estreitos que cobriam parte de seus corpos, completamente brilhantes em dourado. Como se estivessem cheias de esparadrapos. Aquilo tinha um nome? Se tivesse, certamente era resto de tecido ou algo parecido. Reconheci minha amiga Salma, dançando lindamente na lateral.
Elas dançaram em torno de cinco minutos e o público não parou de gritar e aplaudir nunca. Realmente eram perfeitas, tanto na coreografia quanto na roupa.
De repente, escuridão completa. Sirenes, como se fossem de polícia e as luzes vermelhas piscante fizeram-se presentes. Ficou tudo assim, em torno de cinco minutos.
Então as luzes se acenderam, iluminando completamente o local. E um palco desceu do alto, com três postes de pole dance. Três mulheres simplesmente maravilhosas, com roupas iguais, brilhosas e grudadas ao corpo, tomaram seus lugares e começaram um show que particularmente, nunca vi nada igual.
Enquanto elas seguiam o ritmo da música, dançando linda e sincronizadamente, uma das caixas recebeu um homem, vestindo somente uma calça colada ao corpo, preta, mostrando os músculos enrijecidos enquanto dançava.
A gritaria foi geral. E sinceramente, eu não sabia para onde olhar. O homem era perfeito, mas o show das mulheres não deixava a desejar.
A do meio me chamou a atenção. Além de parecer saber mais do que as outras e mostrar ser absolutamente habilidosa no que fazia, ela tinha muita segurança. Era alta, magra e tinha longos cabelos loiros, que pareciam artificiais, amarrados num rabo de cavalo no topo da cabeça.
Logo a música acabou e elas se foram, deixando o público completamente enlouquecido. Um tempo depois e as outras garotas voltaram para suas caixas transparentes, inclusive minha amiga Salma.
Era tudo muito rápido e excitante. Mas minha cabeça logo começou a girar e minha bexiga pedia para ser esvaziada imediatamente.
Saí dali, com as luzes em excesso ofuscando meus olhos. Tinha tanta gente... Todo mundo batia em mim, sem querer. Vi a placa luminosa indicando os sanitários ao longe e cambaleei um pouco.
Parei, incerta se conseguiria chegar até lá. Bem que o barman me disse que eu ficaria completamente bêbada.
Olhei para frente e vi uma placa: “PRIVADA – PROIBIDO A ENTRADA”. Será que era um sonho? Ou estava tão bêbada que estava vendo coisas. Uma privada exclusiva para quem tivesse aquele cartãozinho mágico? Era perfeito aquele lugar. Até fazer xixi em paz a elite podia.
Acontece que assim que a porta se abriu e fechou automaticamente, eu percebi que não era um banheiro. Era a porra de uma escadaria estreita e que não tinha fim.
Tentei abrir a porta, que estava trancada. Por que não tinha como passar o cartão pelo lado de dentro? Onde estava a caixinha onde se botava o cartão mágico?
Subi rapidamente as escadas. Se não encontrasse um vaso sanitário eu faria xixi na roupa.
Por que uma placa dizendo “privada” não tinha privada? Que loucura. Sequer a música dava para escutar dali... Como se fosse à prova de som.
O final da escada deu num corredor em forma de T. E eu poderia escolher qualquer lado para ir, porque ambos eram absolutamente iguais. Fui pela direita. Porque de esquerda bastava eu e minha vida.
Ao final, mais um corredor. Aquilo era a porra de um labirinto? Não tinha uma alma viva para me ajudar.
E se eu ficasse perdida ali? Não era só uma boate? Porque tantos corredores e portas com cartões?
Ouvi alguns sons e segui até lá. Parei imediatamente quando vi um homem escorado na parede, com as calças abaixadas, enquanto uma mulher, de joelhos, o chupava enlouquecidamente... E era... A loira do meio do pole dance. Estava até com a mesma roupa. Que porra!
Os sons eram os gemidos dele. Ela estava quase nua e ele de olhos fechados. Tentei sair sem ser notada... Mas não consegui.
- Que porra você está fazendo aqui? – ele perguntou, incapaz de recolher seu pau para dentro da calça quando ela afastou a boca, levantando.
Fiquei olhando para a mulher, completamente desnorteada. E o pau dele ereto... Porra, porra, mil vezes porra!
- Desculpe... Eu... – tentei justificar o injustificável.
- Responda minha pergunta. – ele foi enfático e rude.
O homem tinha os olhos verdes e dos cabelos bem arrumados. A barba era bem-feita. Cabelos escuros, com a pele clara. Tão alto que talvez fosse uns trinta centímetros mais que eu.
- Poderia... Guardar... Seu... – apontei para o pênis.
Ele rapidamente puxou a calça, desnorteado.
- Responda agora. Perdeu a língua? – a loira perguntou.
- Eu só entrei no lugar errado. – Justifiquei.
- Você trabalha aqui? – ele perguntou.
- Não... Não trabalha. Então... Tem um cartão como? – ela me olhou.
- Eu... Não tenho um cartão. – escondi a mão para trás, apertando com força o cartão de Salma.
Se alguém descobrisse o que fez, eu sabia que ela teria problemas. E se minha melhor amiga perdesse o emprego pela minha tontice eu nunca me perdoaria. Mal conseguia arrumar emprego para mim, imagine ajudar ela a achar um.
- Que parte você não ouviu? Quero saber por que está aqui. Não leu na porta PRIVADO? Por acaso é analfabeta?
- Eu li... Privada... Seu... Desclassificado babaca. Não sou analfabeta... Eu só queria ir ao banheiro...