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A consciência pesa

Luna Alvez

Sua outra mão apoiou minha lombar quando desequilibrei tentando olhar melhor para o seu rosto, com essa luz do poste quase queimando. O reconheci na hora ficando desesperada, o chefe da máfia russa, aquele que lutei com unhas e dentes para salvar na mesa de cirurgia, não pelas ameaças que tiraram meu sono e o de Kalifa, mas porque meu coração dói ao perder uma vida na mesa cirúrgica.

Foda se não tenho nada a ver com o que ele faz da vida, sou uma profissional agindo conforme a ética.

Mas a minha consciência, é minha.

E eu lutei, estudei e me matei para fazer aquele juramento de salvar vidas.

Na minha mente alcoolizada verbalizei aquela pergunta, quando deveria ficar calada, perdendo a luta contra a minha própria língua.

— Sr. Vassillieva, não acredito que esteja aqui para conversar comigo sobre Alice no país das maravilhas.

Constatei o seu sorriso aumentar, e encarando esse olhar que deixaria uma geleira na calcinha se transformar em uma queda d’água.

Sonhava com uma transa quente, forte e bruta para saciar todos os diabinhos que ficam gritando na minha mente e um anjinho que acredito ser um demônio disfarçado dizendo que mereço aproveitar algumas coisas, pois sou nova demais para estar “presa”, mas não quero ser pau no cu e trair meu namorado.

Apesar dele fazer por onde, principalmente quando joga as minhas necessidades para escanteio pensando apenas nele mesmo, o que custa entrar em um consenso.

A regra é clara, quem não comparecer perde.

— Lembra de mim? — Mirei o sorriso enorme e os olhos brilhando, fazendo uma ruguinha aparecer perto das pálpebras, um charme que a leitora de age gap não consegue resistir, por isso suspiro.

Mas logo, tento me desvencilhar dos seus braços querendo colocar uma distância segura entre nós, mas ele parece decidido em fazer ao contrário, apenas soltando o braço esquerdo e continuando com a mão na minha lombar, é talvez eu realmente precise de apoio, percebendo que o mundo está girando um pouco mais que o normal.

Alguém prende esse homem, é muita gostosura.

Olhei para o lado e vi Kalifa irritada com o amigo do Sr. Olhos de gelo.

Por quê?

Vai saber… me preocupa mais ela estar viva. O amigo dele, parece interessado, além de ser lindo, acho que falei isso alto, mas pelo visto foi em português já que eles ficaram com cara de tacho e Kalifa revirou os olhos numa clara repreensão.

— Não falo português, pequena, mas você fala russo muito bem. — Encontrei o seu olhar me encarando curioso e os olhos me prendem como uma maldição.

Um fogo subiu pela minha coluna e puta que pariu queimei a língua.

— Olha aqui seu babaca, pequena é teu cu. — Falei num russo tão alto e claro que o loirinho soltou uma gargalhada tão alta que acabou soltando Kalifa e essa por sua vez saiu de perto, ele tentou se aproximar e a louca saiu correndo para praia.

Gritando em português para guardar sua bolsa que ela ia se livrar do russo. Atraindo vários olhares na nossa direção. Enquanto isso, o Sr. Idiota fechou a cara sério, estava começando a ficar com medo. Então, cruzei os braços em toda minha destreza alcoólica e bati o pé.

— Deveria ter cuidado com a sua língua, mas sei como ela pode ser útil. — Seu olhar duro carregado de segundas intenções fez um frio percorrer a minha barriga.

Esse homem precisa sair de perto de mim, uma bêbada com tesão só pensa besteira e para mim isso foi uma cantada.

— E você deveria ter mais educação e não sair por aí chamando alguém de baixinha, não te dei essa confiança e você não respondeu à pergunta. — Falei em uma bravata bufando com o homem atrapalhando a noite, e deixando minha buceta em uma situação vergonhosa.

Se concentra Luna, foco no teu boy que está em casa, ele te ama, você o ama, fé que ele vai desamarrar aquele pau, e ele ficará em pé o dia todo para poder sentar amanhã. Ou não né, filha

Consciência, filha da puta, se fuder.

Às vezes gostaria de ser um pouco mais louca, apesar de que aqui e agora conversando com o provável chefe da máfia Rússia já devo ter ultrapassado qualquer senso de autopreservação, acho que preciso voltar para terapia, o profissional da saúde tem que cuidar da própria saúde. E a louca bêbada, vulgo euzinha, já estou divagando para fugir do calor que o olhar dele transmite. É oficialmente para a contagem já estou cento e dez por cento fodida.

Lembro por um momento da visão do meu companheiro em casa

Atravessando o quarto parando na frente do guarda-roupa espelhado e procuro pelo meu macacão preto, se falta bunda vou pelo menos valorizar a cintura, coloco as botinhas de salto, rímel, óculos e batom vermelho, dinheiro do uber no bolso, é acho que não falta nada.

Passo pelo escritório e lá está ele, tento dar um beijinho antes de sair e recebo a reclamação de que estou atrapalhando… O JOGO

Claro que tudo vai bem na minha vida, preciso parar com essa mania de procurar problemas, querer mais do que preciso e esse fogo no rabo maior que o do charmander.

Moramos em um condomínio próximo ao hospital, nosso apartamento é pequeno, porém organizado com os móveis planejados deixando espaço suficiente na sala para a televisão de 40” e uma mesa de centro, algumas fotos espalhadas na casa em nossos melhores momentos como formatura, viagens e aniversários, passo pela bancada da cozinha parando para beber água antes de sair e agradecendo mais uma vez a Deus pela invenção desses batons com duração de 12h sem marcar.

Agora encarando esses olhos azuis tão intensos busco entender como estou ficando balançada por esse homem que não vejo a anos , quando tudo na minha vida parece perfeito é como se o destino estivesse querendo testar as minhas escolhas dos ultimos dez anos, mas principalmente jogar na minha cara o fato de ter entrado naquela sala cirurgica e dedicado horas para salvar um criminoso quando deveria estar me dedicando a salvar pessoas inocentes

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