Capítulo 2 - Raphaele - Cobrança
Parte 3...
— Esqueça-o.
— Fala como se fosse fácil.
— Comigo como amante será fácil.
Ela o olhou bem. Não era de se espantar que fosse tão presunçoso.
As roupas eram de grife e o relógio mostrava ser caríssimo. O cabelo preto era comprido até os ombros. Os lábios grandes e o nariz aquilino. Mas os olhos eram o mais marcante. Castanhos brilhantes, cor de âmbar.
— Está sendo ridículo e esnobe - ela franziu o nariz desaprovando.
Ele riu
— Apenas constatando uma verdade.
— Vá embora, por favor - coçou a testa. Uma dor de cabeça se aproximava.
— Preciso da sua resposta.
— Não sou prostituta. Isso é muito ofensivo - fez um bico com raiva.
— Não acho que seja - colocou a mão no joelho dela — E não quis ofender. Apenas quero fazer uma vontade minha.
— Mas ofendeu - bateu em sua mão — E não tenho que fazer nada para satisfazer você.
— Está nervosa, mas se pensar bem é a única saída do seu pai. E não se preocupe, eu satisfaço você - disse sendo abusado.
— Quero que vá embora - respirou fundo.
— E se eu não for, o que fará?
Ela pensou um pouco. Não podia chamar a polícia. Seria complicado explicar isso.
— Meu irmão está com William. Estão fazendo os acertos para o dinheiro que está em seu nome. Até eles acabarem eu espero a sua resposta.
A cabeça dela parecia que ia explodir. Amava os irmãos mais novos e sempre que podia estava com eles. A despeito da raiva que Diana nutria por ela, nenhuma das crianças se deixou influenciar.
Douglas tinha seis anos e Dália quatro. Nas poucas vezes que o pai aparecia, geralmente os trazia junto.
Realmente Diana logo acabaria com o que sobrasse, depois que William fosse preso. Quem sofreria mais seriam os pequenos. Deixou que uma lágrima solitária fugisse de seus olhos.
Mais uma vez sofreria as consequências dos atos do pai. Não era fácil viver ali e a mulher dele não era o único problema. Era difícil para trabalhar e estudar. Aliás, não teria condições de ir à faculdade aquela noite, mas não faria diferença, já que era seu último ano e estava mais do que aprovada.
O feriado começara bem, mas prometia mais tensão até o dia acabar. Saiu do quarto e foi até a cozinha sem fazer barulho. Os dois irmãos conversavam em um canto. O outro homem parado atrás de seu pai observava cada movimento que ele fazia no notebook. Encostou-se à parede e ficou ouvindo o que eles falavam.
— Quanto tempo mais?
— Estou finalizando a segunda parte - William disse — Mas não poderei fazer tudo agora.
— Vai ter que fazer - Raphaele ameaçou.
— Preciso de mais tempo - estava nervoso.
— Agora. Não está em condição de pedir nada.
O coração dela batia acelerado, mas quando ouviu seu nome prendeu a respiração.
— Eu dei mais tempo para que ela pensasse melhor - Raphaele disse.
— Quanto tempo? - seu pai perguntou.
— Até você acabar aqui.
William engoliu em seco.
— E se ela não aceitar?
— Bem, então você vai daqui direto pra uma delegacia.
— E de lá, para uma prisão - Paolo riu.
Melissa tapou a boca com a mão. Voltou depressa para o quarto e se jogou na cama. Queria que tudo fosse um sonho ruim.
***************
Bateram à porta. Ela levantou a cabeça. O quarto estava quase em total escuridão. O sol agora estava baixo no horizonte. Ela havia dormido depois de chorar, enquanto pensava em uma saída para tudo aquilo.
— Melissa, vou entrar - Raphaele avisou.
Ela se ajeitou e sentou na cama.
— Seu pai acabou de transferir os valores.
— Você é pervertido?
— O que? - ele deu uma risada.
— Maluco... Gosta de coisas estranhas no sexo, esse tipo esquisito de coisa que tem por aí.
— Hã... Não - riu — Acho que sou bem normal.
— Para onde eu iria? - ajeitou o cabelo assanhado do sono.
— Não sei... Algumas das minhas casas. Posso escolher depois.
— E sua esposa? - ergueu uma sobrancelha.
— Não sou casado - fechou a porta e se aproximou — Não faria essa proposta se fosse.
— Meu pai ficará livre mesmo? Digo, pra sempre?
— Sim. Se você cumprir sua parte.
— Que seria? - arqueou mais a sobrancelha, desconfiando.
— Me agradar na cama - foi direto.
Ela engoliu em seco e sentiu um arrepio.
— Por quanto tempo isso?
— Até que eu me enjoe de você.
"Nossa". Parecia mesmo um acordo de negócios. Só que não era. Ela seria tratada como uma qualquer, uma simples amante. Sabia disso.
— Vou poder ter minha liberdade ou serei uma amante exclusiva para o quarto? - fechou o semblante.
— Terá liberdade de ir e vir - sentou ao lado dela — Desde que eu saiba onde está, claro.
— Tem medo que eu fuja?
— Não. Se fugir coloco seu pai na cadeia.
Ela arregalou os olhos.
— Mas...
— Enquanto eu a quiser, ele ficará bem. Quando eu a dispensar, aí retiro todas as queixas.
— Então eu não posso deixá-lo?
— Não se preocupe, não irá querer - deu uma risadinha.
— Ah, você é tão prepotente - cruzou os braços — Não gosto disso.
— Acostume-se - mexeu o ombro.
Ela pensou um pouco, já tendo analisado antes tudo o que isso representava e respondeu:
— Sim - ela torceu a boca fazendo um bico — Serei sua amante.
Raphaele sentiu até um certo alívio ao ouvir sua resposta. Estava pensando que talvez ela não aceitasse e ele teria que inventar um outro modo de tê-la com ele, como sua amante.
Claro que ele estava ciente de que fazia uma coisa muito feia e se seus pais soubessem, iriam recriminar seu comportamento, mas foi a primeira coisa que veio em sua cabeça para aproveitar a chance.
Ela estava em uma posição difícil e ele como um homem de negócio, sabia quando estava diante de uma oportunidade única e não gostava de perder nada.