Capítulo 1 - O Começo
Parte 1...
— Mas que diabo de lugar longe é esse?
Paolo reclamou pela segunda vez desde que pegaram a estrada de terra. Isso sem contar o tempo de voo até a cidade. Estava impaciente.
— Estamos quase lá.
Raphaele também estava impaciente, mas a vontade de vingança era maior do que as horas perdidas e o cansaço para chegar ao destino.
— Tem certeza de que é aqui? - Paolo questionou o empregado que os acompanhava.
— Sim senhor. É o último endereço que temos.
— Até parece um esconderijo.
Raphaele olhou em volta. Apesar do mau humor do irmão, não podia deixar de ver que o lugar era muito bonito e tinha um certo charme. Os campos bem verdes e algumas vacas pastando. Era pitoresco.
Parecia uma paisagem de filmes de romance. Só faltava a trilha sonora "mamão com açúcar" para completar a cena. Mas eles não estavam ali para romance, e sim para acabar com uma dívida.
— Vamos parar em algum lugar e perguntar a alguém - ele disse aborrecido.
John fez uma curva fechada à direita e acabou em uma estradinha estreita, mas bem arborizada. Mais adiante eles viram uma cerca branca e a seguiram até pararem em um muro baixo de pedras.
— Tem uma pessoa ali - Paolo apontou.
— Eu vou descer e perguntar.
Raphaele queria esticar as pernas depois de tanta estrada. Desceu e foi até o portão de madeira. Viu uma garota ajoelhada, mexendo em flores.
— Olá! - ele disse alto para chamar sua atenção.
Ela levantou o rosto e virou em sua direção. Raphaele sentiu o coração bater forte.
— Será que pode nos ajudar? Creio que nos perdemos.
Ela levantou e retirou as luvas de jardinagem. Usava um short jeans e camiseta preta. Olhou para ele e para o carro. Se aproximou olhando com cuidado. A cada passo Raphaele sentia seu corpo pinicar.
— Oi - ela respondeu.
De perto ele pôde ver as pequenas sardas no rosto dela. O queixo tinha um pequeno furo marcado e o nariz arrebitado.
— O que procura? - ela ajeitou o chapéu de palha que cobria os cabelos castanhos claros e apertou os olhos, ofuscada pelo sol, para olhá-lo.
— Hã...
" Diga algo, ficou burro"
— Procuramos um endereço... Pela residência Marbella - os olhos dela eram azuis escuros, ele prestou atenção.
“Linda".
E por que raios ele quase não falou?
— Não está perdido - encostou-se ao portão — Continuem até o final. Não está longe - apontou a direção com o dedo.
— Graças a Deus! - Paolo estava impaciente no carro — Vamos Raphaele - gritou.
Paolo queria resolver essa pendência, mas queria voltar logo para casa também, porque tinha algo mais que o interessava e muito.
Desde que decidira ir até o local, Raphaele estava concentrado, nada o fez perder tempo, a não ser aquela visão que estava à sua frente. De algum modo suas pernas não queriam se mexer. Ele ficou meio lerdo.
— Raphaele... Vamos!
O irmão gritou de novo. Ele fez um gesto com a cabeça agradecendo e se afastou. Entrou no carro, mas não desviou o olhar, até que a imagem dela sumiu no retrovisor.
Foi algo bem estranho para ele, quase que como um aviso, um despertar. Algo assim.
Realmente estavam na direção certa e logo a casa apareceu para eles. A entrada era cheia de flores multicoloridas.
"Desde quando ele prestava atenção a isso?"
Balançou a cabeça focando no que interessa e indicou o lugar para que John parasse o carro.
— Chegamos - ele disse olhando para fora.
— Finalmente - Paolo desceu rápido — Já não era sem hora. John, me passe a pasta, por favor.
Ele tocou a campainha e uma senhora educada os recebeu e os guiou até uma sala, onde o objeto de sua vingança foi pego de surpresa. O homem se assustou ao vê-los em sua casa.
— Como... Como chegaram aqui? - ele levantou rápido.
— Demorou um pouco - Paolo respondeu — Mas não achou que tínhamos esquecido de você, achou? - deu uma risadinha.
— O que querem aqui?
Apesar do modo rude de falar, os irmãos riram.
— Não se faça de tonto William, por favor - Raphaele pegou a pasta e a jogou em cima da escrivaninha de madeira, fazendo barulho — Dentro da pasta estão os documentos que você forjou para dar o golpe em nosso pai. O que queremos é retratação imediata.
— Agradeça não termos trazido a polícia - Paolo o viu arregalar os olhos e sorriu — Por isso se esconde aqui? Longe de tudo e de todos? Você sai por aí, dá seu golpe e se esconde?
— Eu... Não me escondo - ele retrucou — Essa sempre foi a minha casa realmente.
— Não importa agora. Queremos a devolução de tudo o que roubou de nosso pai - Raphaele disse olhando-o de cara feia.
— E queremos agora - Paolo completou.
William andou pela sala, esfregando a nuca. Sabia que esse dia chegaria, mas achava que levaria anos para isso. As feições dos irmãos eram de ódio. Estava nervoso, não tinha como resolver tão rápido.