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Adriele narrando
O restante do nosso jantar tinha sido muito agradável, conversamos sobre tudo e ele também me contou um pouco dele, pela primeira vez eu me abri com um homem assim. A conversa foi fluindo, as perguntas também, a curiosidade e quando percebemos a gente já tinha tomado duas taças de vinho e falado sobre a nossa vida toda, o problema era que a gente não lembraria nem da metade amanhã.
- Acho que eles querem fechar o restaurante – eu falo.
- Você tem razão – ele fala – Vou pagar – ele diz se levantando e eu me levanto arrumando a minha bolsa.
Eu observo Amarildo que conversa com o garçom e faz o pagamento da conta, ele vem em minha direção e quando chega na minha frente, ele sorri.
- Vamos? – ele pergunta e eu assinto com a cabeça e saímos caminhando em direção ao hotel – Eu não consigo acreditar como uma pessoa pode ter te humilhado ou feito preconceito com você, você é incrível.
- Pessoas maldosas – eu falo – mas já aprendi a lidar com elas. Demorou, mas aprendi.
- Eu queria aprender muita coisa, principalmente lidar com os meus problemas – ele fala.
-Na empresa? – eu pergunto.
-Se fosse – ele diz – nos últimos tempo os problemas são de família mesmo, ex-mulher, tios, irmão – ele me olha – parece que tudo cai em cima de mim.
- Às vezes eu penso que precisamos desapegar da família – ele para e me olha – porque eles podem nos levar para o buraco em tão pouco tempo.
- Você tem razão – ele fala – se eu não tivesse algo muito importante para proteger na minha família – eu arqueio a sobrancelha – estou falando besteira, vamos continuar até o hotel – ele fala andando.
Vamos andando em silencio e fico com o que ele me disse na cabeça, então existia algo que ele precisava proteger da sua família.
Um segredo?
Um mistério?
Eu não conseguia tirar da minha cabeça que essa viagem dele de última hora era com intenção na loja da Vanessa, das ligações do seu tio.
(...)
O dia amanheceu lindo e passamos a manhã toda até a metade da tarde visitando às empresas, Amarildo dando treinamentos e ensinando seus funcionários, ele era um homem muito inteligente e admirável.
- Acredito que conseguimos visitar todas as empresas da lista – eu falo para ele – e foi bem positiva as suas visitas, todos falaram muito bem com quem eu conversei, elogiaram bastante os funcionários, os treinamentos que eles dão e a forma deles tratarem às pessoas.
- Bom saber disso, sinal de que todos estão fazendo o seu trabalho muito bom – ele fala. – Você me acompanha até a loja da Vanessa?
- Sim – eu respondo para ele.
-Obrigado – ele fala.
A loja não era muito longe e ele vai bem pensativo até ela, quando chegamos somos recepcionados por uma mulher alta, loira, do sorriso largo que quando vê Amarildo fica desconfortável.
- Como posso ajudar? – Ela pergunta olhando para nós.
-Eu e minha noiva queremos ver alguns vestidos – Amarildo fala e eu o encaro e ele me encara sorrindo, eu fico sem reação.
-Poderia nos ajudar? – eu pergunto.
-É claro – ela fala. – como vocês se chama?
- Alice e Guilherme – Ele fala.
-Prazer – ela fala.
- E o seu nome? – eu pergunto.
-Vanessa – ela responde e eu olho para Amarildo.
Olhamos alguns vestidos e Amarildo me faz vestir todos eles, experimentar, rodar, desfilar, eu queria já matar ele. Se o tio dele tinha essa mulher como amante, ele deveria ter algo muito mais que dinheiro porque a mulher era linda e a loja era muito bem reconhecida e existia a muitos anos.
Eu não conseguia entender o que está acontecendo aqui, mas Amarildo a observava em cada gesto dela e conseguia sentir Vanessa bem nervosa e ofegante quando falava comigo ou direcionava a palavra com ele.
Eu só conseguia pensar que eu me enfiei em uma emboscada enorme.
- Vamos levar esses que você provou – ele fala.
- Eu não – ele me interrompe.
-Presentes meu – ele fala – você ficou linda e quero que você use um deles essa noite – ele sorri me olhando, eu me prendo em seu sorriso e apenas assinto com a cabeça.
Amarildo faz o pagamento e saímos da loja.
- Você a conhece? – eu pergunto para ele.
-Não – ele responde.
- Ela é nova para o seu tio – eu falo – você acha que ela é amante?
- Pode ser filha – ele fala.
-Filha? – eu pergunto.
-Estou pensando alto, desculpa – ele fala meio transtornado e eu apenas assinto com a cabeça.
Ele vai em silêncio.