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Você se casará comigo e assim poderá ser a mãe legítima de seu filho

Eu sinto meu rosto pegar fogo de nervoso. Vou até ele e começo a socá-lo. Raed fica como uma parede, recebendo meus murros em seu peito. Aos poucos meus socos vão diminuindo e eu começo a chorar. Raed me abraça. Sinto seu estremecimento.

—Shiiiii.

Fecho meus olhos quando sinto o cheiro da roupa dele. Ela me lembra muito o de Zein e eu fico quieta em seus braços, sem força nenhuma, como se o próprio me abraçasse, mas por pouco tempo. Pois começo a sentir seu perfume amadeirado, de algum perfumista famoso, completamente diferente do meu amor. Logo me lembro quem é esse homem.

Meu inimigo. Ele quer tirar meu filho.

Eu o empurro com força e aperto meus passos e vou até o banheiro e me tranco. Parece ser uma atitude infantil, mas eu não me importo, melhor que desabar na frente dele. Sento-me no vaso sanitário e colocando o rosto entre minhas mãos, eu começo a chorar.

Infeliz, muito infeliz.

Quando me recomponho, lavo meu rosto e penteio meus cabelos castanhos avermelhados, iguais os da minha mãe. Olho para o meu rosto pálido com pequenas sardas, meus olhos verdes estão vermelhos ainda.

Depois de um tempo eu saio, mas Raed ainda está lá.

Allah!

—O que...?

O olhar que ele me dá me fez calar-me.

—Você já ama seu filho, não ama?

—Sim. Claro que amo. É fruto de amor.

Ele passa a mão nos cabelos com o semblante carregado, pensativo. Eu não gosto muito dessa energia que estou vendo nele. Ele então me encara sério.

—Eu tenho uma solução.

Meu coração se agita em esperança. Mas de repente a ideia de que esse homem não faz nada se não tiver um motivo me assalta.

—Você me ajudará a fugir? —Pergunto, acreditando em milagres.

Raed ri. Seu rosto se transforma, ele fica muito mais charmoso, mas eu só consigo pensar por que ele está rindo. Sinto uma pressão na cabeça de tanto pensar o que ele vai me propor.

—Não. Claro que não!

Eu aperto meus lábios.

—Se não vai me ajudar a sair daqui o que você tem a propor?

—Você se casará comigo e assim poderá ser a mãe legítima de seu filho.

—Mas eu sou a mãe! —Digo estupefata. Então me vem as palavras "casará comigo". Eu pisco aturdida quando assimilo isso. —Você disse casar-se?

—Sim. —Ele diz nada amistoso.

Eu respiro fundo. Passo a mão nos olhos.

—Mas você mesmo me falou que seu pai era contra meu relacionamento com seu irmão, por que ele aceitaria que você me desposasse?

—Porque eu não sou como meu irmão e ele sabe disso, quando eu decido uma coisa vou até o fim. Eu sou a ovelha negra dessa família.

Engulo em seco, tentando entender sua proposta.

—Por que se casaria comigo, se indispondo com a sua família?

—Porque eu vou reconhecer a paternidade da criança. Foi esse acordo que entrei com meu pai. Meu pai está para se aposentar, não tem forças para criar mais uma criança como um filho. E essa criança ficaria nas mãos de babás. Meu pai então me pressionará a me casar para dar uma mãe para seu filho. Então, por que não a mãe verdadeira?

—Então tudo isso é por causa da criança?

Raed acena um sim com a cabeça, sério.

—Exatamente.

—Mas e seus sentimentos? Como amar alguém?

—Allah! Você acha que eu acredito nisso?

Eu engulo em seco e instigo mais:

—Você não pensa como seu pai? Se casar com uma mulher como eu?

Ele me olha atentamente antes de responder:

—Eu não estou pensando em você, eu não estou pensando em mim. E sim, nessa criança. Eu cresci com babás. Eu sei o que é isso. Meu irmão teve mais sorte que eu.

Eu vejo uma dor enrustida em seus olhos.

—Eu não estou entendendo.

Ele funga.

—Eu sou filho do primeiro casamento do meu pai, minha mãe morreu quando eu tinha dois anos. Zein é meu meio-irmão.

Eu fico surpresa com as palavras dele.

—Praticamente não tive mãe. Meu pai se casou depois de um ano da morte dela, mas minha madrasta nunca me tratou como um filho. Entende agora?

Eu aceno um sim. Sei que deveria agradecê-lo, afinal é a chance de ficar com meu filho, mas não sinto essa vontade, pois quero a minha liberdade e vou consegui-la. É só eles baixarem a guarda que vou fugir, para bem longe daqui.

Raed parece muito prático agora, mas um dia ele pode se apaixonar e eu e meu filho seremos um peso na vida dele.

—Entendo.

Ele então se contrista.

—Você não precisa me responder agora. Você tem nove meses para tomar uma decisão.

— Então você não falará de sua proposta para o seu pai?

—Não, não quero me indispor com meu pai. Ele está arrasado, não é um bom momento agora. Quando você tiver uma resposta, então eu falo com ele.

—E agora que você já me despojou do meu documento? Posso andar pelo palácio livremente?

Raed que já estava deixando o palácio, para e se volta para mim.

—Meu pai está amargo, e minha madrasta abalada, afinal, ela perdeu seu único filho. — Vejo em seus olhos tanta dor, ela é tão densa que é como se eu pudesse tocá-la. —Então fique aqui, eu te aviso quando pode sair.

—Está certo. —Digo, desviando meus olhos dos seus, que de repente se tornam tão intensos nos meus.

Seus olhos passam pelo meu rosto por um tempo e ele acena com a cabeça numa despedida e sai do meu quarto. Carrega junto toda a tensão, e eu solto o ar aliviada.

Começo a pensar na nossa conversa. É difícil assimilar as palavras de Raed com relação a Zein.

Ele teria coragem de me deixar?

De me enganar, me trazendo para cá somente para se valer do direito de ficar com o nosso filho?

Limpo as lágrimas.

Sim, ele faria isso. Isso explica a sua partida repentina uma semana antes do combinado, sem me avisar. Ele já deveria estar em luta consigo mesmo.

Eu sou idiota mesmo, a mulher mais idiota do universo. Agora estou aqui, sem minha liberdade, minha dignidade ...

Tranquilizo minha respiração e me acalmo.

Águas passadas. Digo para mim mesma. Tenho que olhar para frente agora e tentar sair dessa de cabeça erguida.

Uma serva entra com um balde e uma vassoura na mão. Ela é jovem, tem uns quinze anos. Ela sempre me olha curiosa, acredito que não saiba o que está acontecendo.

E deve se perguntar que hóspede é essa?

Por que ela fica só no quarto?

O que ela está fazendo no palácio?

Eu dou um sorriso fraco para ela e para fugir de seus olhos resolvo ir até a sacada. Mas começo a me sentir mal, a minha vista turva e eu tento me apoiar em algo, mas tudo roda com a tontura forte.

Escuto então ela gritar: Allah!

Abro os olhos devagar e quando viro minha cabeça vejo Raed sentado ao meu lado.

—Você está se sentindo bem agora? —Ele diz passando a mão na minha testa, tirando a camada fina de suor frio. Eu engulo em seco quando dou com a intensidade de seus olhos nos meus.

Ele retira sua mão e eu me sento sobre os travesseiros.

—Sim, foi só um mal-estar. O Sheik não está estranhando sua atitude de toda hora vir no meu quarto?

O galante Raed dá um leve sorriso:

—Você não está no palácio dele e sim no meu.

Eu pisco, surpresa.

—No seu?

—Sim.

—Por...que no seu?

—Por que eu achei melhor assim. —Ele diz seco. —O clima está muito ruim lá. E você precisa de paz, tranquilidade.

—Você sabe onde eu encontraria tudo isso. Meu lugar não é aqui.

Seu rosto se petrifica.

—Por que insiste? Já conversamos sobre isso. Não quero ser rude com você, mas tem coisas que não há mais o que se discutir.

— Ridículo essa atitude de vocês. Manipulam as pessoas como se fossem peças num tabuleiro de xadrez.

—Não fui eu que fiz as leis! Nossa tradição é milenar e você ainda quer brigar contra isso?

—Você poderia dizer que eu perdi a criança.

Raed me olha, exasperado.

—Não há como fugir disso. Você precisa assumir as consequências e você está pensando só em você, e não em seu filho. Aqui ele terá tudo. E eu vou tratá-lo como se fosse meu filho.

Eu baixo meu rosto, envergonhada, pensando no que ele me disse. Lágrimas salpicam meu rosto.

Estou sendo egoísta? Pensando só em mim mesma?

— Que destino cruel, você amarrada a mim. —Raed diz de repente.

Eu ergo meu rosto e o encaro.

— Não é nada pessoal...

Ele ri amargo.

—Não? Está em seus olhos o quanto quer se ver livre de mim. — Ele diz, seco.

Ele me deixa constrangida, inibida...

—Bem, vou voltar ao trabalho, deixá-la livre da minha presença.

Ele se levanta e sai do quarto.

Allah! Que péssima mãe que eu sou.

Ele está certo. Não posso pensar em mim e sim no meu filho.

Que tipo de vida eu daria para ele? Minha tia adora ouvir um som alto. Toda hora leva um cara novo para o seu apartamento.

Morar sozinha? Como vou me sustentar agora? E se eu trabalhar ele terá que ficar numa creche.

Sim, ele no fundo está certo. Meu filho é que importa. Ele está sendo bem generoso em me assumir e se casar comigo. Já deixou claro que enfrentará sua família.

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