Revistem o quarto e encontrem o passaporte.
Eu fungo e me viro para ele. Lágrimas brilham em meus olhos.
—Eu entendo, mas creio que suas palavras sejam tardes demais.
Raed me estuda.
—Por que diz isso?
Limpo as lágrimas.
—Eu estou grávida de seu irmão. Ele está vindo para cá. Nós vamos falar a respeito disso. Inclusive ele saiu de lá agora.
Raed aperta os lábios.
—Entendo.
Eu solto o ar.
—Você não acha que fiz de propósito, acha?
Raed balança a cabeça de um lado para o outro.
—Minha missão acabou, agora é com vocês.
—E você? Se omitirá ou nos ajudará com seu pai?
Ele me olha por um tempo, parece desgostoso.
—Prefiro não responder a essa pergunta.
Uma batida na porta interrompe meus pensamentos e me faz voltar para o meu presente. Então uma serva me procura com os olhos no grande quarto e quando me avista diz solenemente:
—Vossa excelência, o príncipe Raed.
Eu caminho para o centro do quarto, mas então resolvo me sentar na cama, pois minhas pernas estão bambas, estou preocupada com o que ele tem a me dizer.
Respiro fundo quando vejo Raed.
—Salaam Aleikum.
—Alaikum As-Salaam.
Ele pega uma cadeira e coloca à frente da minha cama e se senta com a classe de um poderoso homem de negócios.
—Você deve estar se perguntando o que eu estou fazendo em seu quarto, e mais, o que você ainda está fazendo no palácio?
Solto o ar com angústia.
—Sim, me sinto uma prisioneira aqui. Eu gostaria de ir embora.
—Isso é impossível, visto que carrega um filho do meu irmão.
Eu estremeço com as palavras dele.
—Não usarei o meu filho para arrancar qualquer coisa de vocês. Sou independente, posso trabalhar.
—Trabalhar? Que tipo de vida você daria a essa criança? Você acha que meu pai aceitará isso? E eu me admiro que, sendo meio-árabe, você não saiba que o filho que carrega não te pertence, e sim a família do seu... —Ele aperta os lábios pois não acha uma palavra apropriada para o meu relacionamento com o irmão dele.
Eu baixaria a cabeça envergonhada por não ter mantido minhas pernas fechadas, mas não faço isso, pois o que me preocupa são suas palavras.
—Vocês não podem fazer isso com uma mãe. Eu vou carregá-lo durante nove meses, vou participar de todo o seu crescimento. Então não vou entregá-lo a vocês.
—Você acha que se meu irmão estivesse vivo, você teria um destino diferente? Meu pai o faria te trazer para cá, com a promessa de se casarem aqui. E então ele te teria nas mãos, pois as leis daqui são diferentes do seu país. Então, ele mandaria meu irmão para longe, e quando nascesse seu filho, ele o tiraria de você.
Eu o olho em choque, lágrimas começam a brotar dos meus olhos.
—Você está mentindo.
Ele dá aquele sorriso frio. Ele diz calmamente:
—Você acha mesmo que eu mentiria sobre esse assunto? Eu não preciso disso, você já está em nossas mãos. Sinto, mas não tem escolha.
—Sente? Você não sente nada! Se sentisse realmente, me deixaria ir.
Raed funga e se levanta.
—Entregue-me seu passaporte.
Eu fico pálida.
—Meu...
Começo a chorar.
—Allah!
—Dê-me seu Passaporte! —Ele diz entredentes.
—Eu não vou te entregar documento nenhum! —Digo, com o queixo erguido.
Raed sai do quarto e chama algumas servas.
—Revistem o quarto e encontrem o passaporte.
Eu pisco aturdida.
—Vocês não podem fazer isso.
Raed se aproxima de mim, ficando mais alto e ameaçador.
—Não vamos te tratar mal. Queremos que você tenha uma gravidez tranquila.
Eu sinto minhas lágrimas.
—Tranquila? Sabendo que depois de ter meu filho, vocês o tirarão de mim?
Raed desvia os olhos dos meus, parece incomodado com meu sofrimento. Ou irritado.
Vai saber!
—Achei. —Uma das servas diz e entrega meu documento para Raed.
Eu aperto meus lábios com raiva. Ele olha para mim.
—Se eu fosse você, se acalmaria. Fará mal a criança. e se sentirá culpada por mais essa morte.