Trajes nada atraentes.
Luke
Quando a vejo se afastar com minha filha sinto uma dor no peito por ela não ter uma pessoa para chamar de mãe. Eu me vejo um pouco nela, meu pai depois que perdeu minha mãe, nunca mais se casou. E Rosa assumiu esse papel.
Filho único com um pai de idade avançada, tive uma vida diferente de outras crianças. Minha infância foi sempre cercada de adultos e aulas particulares. Escola só com dez anos, quando fui para um colégio interno só para meninos. Só voltava nas férias para ficar com meu pai.
Então, quando vejo Catarina com a mesma vida que eu levei, eu me culpo. Tenho proporcionado a ela o mesmo destino que tive e que sempre condenei.
Tive que amadurecer cedo com a morte de meu pai aos meus 23 anos. Carrego comigo toda a responsabilidade de levar esse nobre título e deixar um homem, para ser o próximo Duque de Cornualha.
Gostaria de ter tido um irmão. Primos só tenho por parte de mãe. São pobres como ela era. Eles só sabem me pedir dinheiro. Não há dinheiro que chegue para essa família. Às vezes me sinto só, e cansado. Sou um rochedo, não transpareço o quanto às vezes me sinto fraco e perdido.
Essa candidatura à Câmera Baixa é uma ambição que tenho também. Meu desejo é ser primeiro Ministro, mas com a fama que carrego, acho difícil.
Por um momento, meu cérebro se escurece com a lembrança da mãe de Catarina, Bianca. E ele sempre me diz, uma hora vai acontecer de eu conhecer alguém e me apaixonar. Alguém que irá me enxergar mais que o título, mais que o material.
Volto meu olhar para Natália. Forço um sorriso para ela.
—Bem, vamos tomar café?
—Sua filha é muito linda.
Eu sorrio.
—Todos dizem que ela puxou ao pai.
Natália assente.
—Sim, ela tem muito do senhor.
Suas palavras me enchem de alegria e orgulho.
—Vem, vamos até a sala de jantar.
Relanceio meu olhar para ela. Natália tem o rosto bonito e novamente reparo em seus trajes nada atraentes.
Que coisa!
Natália
Enquanto ando ao lado dele fico olhando tudo abobada com a decoração pastel e marrom e sutis ornamentos dourado. Os lustres imensos pendem sobre a extensa mesa de madeira nobre, escura. Claro que eu esperava algo grandioso, mas mesmo assim não consigo deixar de me maravilhar com o espaço e a decoração.
—Gostou?
—Muito... —Digo e o encaro. Ele está me olhando com um sorriso torto, eu quase tropeço nos meus próprios pés.
—Quando ele está aberto para a visitação, as pessoas ficam exatamente assim.
Não duvido!
—De queixo caído?
—Exatamente. —Ele diz olhando tudo, orgulhoso.
—Quando ele fica aberto?
—Nos meses que coincidem com as férias escolares: julho e dezembro.
—E quando ele está aberto, o senhor fica no castelo?
—Por quê? Faço parte da atração?
Eu rio com o comentário dele.
—Não, claro que não. Só pensei que você mesmo fizesse as honras do Castelo.
—Sim, quando estou aqui faço questão mesmo, as recepciono com prazer, depois é por conta dos guias turísticos responsáveis para mostrar o castelo.
Ele puxa a cadeira pesada para mim, eu me sento nela.
—O castelo é enorme. As pessoas veem tudo? —Pergunto curiosa.
—Não. Tem os lugares certos para visitação. —Ele diz ocupando a cabeceira da mesa. Então coloca o guardanapo estendido no colo. Eu faço o mesmo.
Uma empregada uniformizada serve o café para ele e depois coloca o leite. Pelo jeito ela está familiarizada com o gosto do patrão.
Ela se aproxima de mim.
—Café? —Pergunta.
—Sim, por favor.
Ele enche minha xícara de porcelana. O jogo deve custar seis meses de aluguel do meu apartamento.
—Misturo com leite?
—Não, obrigada. Gosto puro.
Tomo um gole do café forte, encorpado.
—Então Rosa te conhece desde pequena? —Ouço ele dizer.
Eu procuro seus olhos.
—Sim, desde que nasci.
—Sabia que ela foi minha babá?
Eu assinto.
—Sim, mas ela sempre foi discreta quanto a isso. Nunca abriu nada para nós sobre a vida de seu pai ou a sua.
Luke ri.
—Por isso que ela deu tão certo conosco. Realmente, Rosa sempre foi discreta.
Tomamos café silenciosamente. Luke com um sorriso me ofereceu tudo que tinha na mesa, mas eu rejeitei. Quis apenas os amanteigados. Eles com o café amargo dão um sabor divino. Combina muito bem.
Arrisco um olhar na direção do Duque. Ele está me encarando fixamente. Suas pálpebras semicerradas. Os olhos negros brilham pela luminosidade natural que entra do grande janelão que fica em frente à mesa. Sinto imediatamente o domínio de sua beleza.
Eu desvio meus olhos dos dele e tomo um gole do meu café, o finalizando.
—Fale-me de você!
Ergo meu olhar para ele. Seus olhos fixos em mim.
— Sou organizada, discreta e pontual.
Ele dá um riso de canto de lábios.
—Uma boa característica se aqui fosse uma empresa, mas não como babá de minha filha.
Eu ofego, me sentindo nervosa.
—O que quer saber?
Ele me dá um sorriso.
—Você vai lidar com minha filha. Não é natural eu que eu queira saber mais de você no âmbito pessoal?
O ar fica denso para mim, quando seus olhos ficam pausados no meu rosto esperando eu contar minha história.
—Rose não te falou nada a meu respeito?
Ele me dá um novo sorriso.
—Eu quero saber de você. Tem medo de mim?
Eu coloco minhas mãos trêmulas debaixo da mesa.
—Não! Claro que não.
Ele ergue uma de suas sobrancelhas perfeitas.
—Então?
Eu respiro fundo.
—Sou filha única de mãe solteira. Ela nos sustentava fazendo salgados a para vender. Eu me dividia estudando e fazendo as entregas. Estudei até o ensino médio.
—Verdade? Então você dirige?
—Sim.
—Mas você não chegou de carro.
—Eu o vendi, ele estava me dando muito prejuízo. Toda hora quebrava.
Ele assente, me estuda.
—Entendo. E onde está a sua experiência com criança?
Eu ofego.
—Rose realmente não falou com você, não é?
—Ela me disse que conhecia uma garota de confiança, mas não me disse nada de sua experiência como babá.
Eu aliso minha saia num gesto nervoso.
—Eu nunca fui babá, mas cheguei a olhar uma garotinha de três anos quando os pais saiam. Eles eram meus vizinhos.
Luke sorri.
—Relaxe, você está muito nervosa.
Eu respiro fundo.
—É que preciso do emprego farei de tudo para dar certo.
—Claro. —O duque com um sorrisinho torto que não gosto, ele então completa: — O país está passando por uma crise há muitos desempregados. Não sei sabe, mas sou candidato à Câmera Baixa.
—Sim, eu sei. E quem não sabe? O senhor é muito popular.
Ele se reclina na cadeira e estuda meu rosto.
—Popular como?
Seu olhar perspicaz me deixa nervosa. Eu não sou mulher que me deixo intimidar, mas Luke consegue me desconcertar.
—Acho que não preciso falar sobre isso. Os paparazzi estão sempre te cercando.
—Você votaria em mim?
Eu engulo em seco.
—Eu...
Fico um momento calada.
Não! Não votaria nele. Ele poderia ser ator, mas não político.
Ele ri.
—Pensou muito. Acredito que não. Você é como uma maioria das pessoas, que me julgam inconsequente. Boa vida, mulherengo. Estou errado?
Eu me calo, me auto preservando. Sinto uma brisa suave que vem da janela aberta, com ela o cheiro da chuva que cai lá fora. Ainda bem, pois eu estou suando muito agora.
—Você perdeu sua mãe, há muito tempo? —Ele muda de assunto.
—Um ano.
—Desde então, tem se virado sozinha?
—Sim. —Afirmo, me sentindo de repente triste com isso.
Ele funga.
—No fundo somos parecidos, sabia?
Eu pisco com as falas dele. Parecidos?
—Ambos tivemos essa perda importante. Perdi meu pai há cinco anos e mesmo, depois desse tempo, não tem sido fácil.
Eu o olho com simpatia mais do que eu gostaria. Mas não digo nada, apenas aceno um sim com a cabeça, entendendo bem sua dor. Nunca é fácil a perda de pessoas queridas.
—Já terminou seu café?
—Sim.
—Bem. Então, não quero mais te segurar. —Ele se levanta e me ajuda com a cadeira. —Catarina é boazinha, não será difícil cuidar dela.
—Claro que não. Eu percebi. Tenho certeza que darei conta do recado. Então estou contratada?
— Sim, cuide dela como se ela fosse o bem mais precioso de todo esse castelo, pois ela é.
—Sim, senhor.
O Duque assente para mim. Andamos lado a lado até a sala de estar, que mais parece um salão de baile.
Conforme caminhamos, reparo na sua postura. Sua aparência forte, sua presença marcante, polida, que o faz parecer ainda mais masculino. Nunca me senti tão feminina ao lado de alguém como eu me sinto com ele. Todos os meus sentidos ficam aguçados.
Luke
Eu a observo de canto de olho. Apesar de meus melhores esforços, pouco consegui desses lábios atraentes. Não consegui tirar algo maior do que alguns detalhes de sua vida. Não sei o que ela tem, mas ela mexe comigo...