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5

Abro os olhos lentamente, sentindo as pálpebras pesando. Deitada de costas,  vejo resquícios do que aconteceu na noite anterior passando pela minha cabeça, vagamente.

Ao lembrar-me que vomitei em cima do Antonio penso em ficar reclusa dentro do meu apartamento para sempre. Provavelmente ele me xingará e humilhará quando estivermos cara a cara, não perderá essa oportunidade de certeza.

Passo os dedos pelas têmporas sentindo uma leve enxaqueca, a minha boca está com um gosto horrível. Ouço duas batidelas na porta antes desta ser aberta sem cerimónias, confusa, vejo a silhueta masculina mover-se dentro do quarto escuro, excepto por alguns raios de sol teimosos que adentravam pela fresta das persianas. Ele vai até a janela e abre-as, deixando que a luz invada completamente o quarto.

Eu semicerro os olhos, tentando acostumar-me àquela toda claridade. Pelos vistos eu não estava na minha penthouse como supus minutos atrás, mas era de se esperar, a minha roupa de cama não cheirava à lavanda.

__ Como está se sentindo?

Ele ocupou uma poltrona perto da cama, o seu olhar repreensor fez-me desviar os olhos para um quadro perto da porta.

__Eu estou desarrumada e ainda não lavei os dentes. Não quero que me veja desse jeito.

Passo os dedos pelos fios embaraçados, tentando torná-los mais apresentáveis.

__Fútil como sempre dolce* Savanah.

Eu senti o ar chegar-me aos pulmões com dificuldade ao ouvi-lo pronunciando lentamente o "doce Savanah", por instantes até esqueci-me que ele havia me chamado de fútil. O magnestismo sexual que eu sentia por Antonio começava a crescer cadenciadamente, e isso não me agradava de modo algum.

__ Lembra-se das besteiras que disse na noite retrasada?

O seu tom soara frio, eu naturalmente evitei olhar para o seu rosto, evitando um possível olhar de admoestação.

__Lembro-me apenas de eu ter me excedido na bebida e de ter vomitado em sua calça. Desculpe-me.

Olho para as minhas unhas pintadas com um esmalte vermelho-cereja que deveriam assemelhar-se a coloração das minhas bochechas nesse momento.

__Você disse que não se importaria de fazer amor comigo à frente dos meus amigos.

Eu revirei os olhos e engasguei-me com a minha própria saliva, incredula com a sua revelação.

__ Eu sou uma dama! Mesmo embriagada, nunca tê-lo-ia dito isso. Está aproveitando-se para caluniar-me. Como é baixo Antonio.

Levanto-me da cama possessa de raiva. Ao invés de revidar ele apenas analisa o meu corpo, que no momento encontrava-se coberto com uma camisola de cetim verde-esmeralda.

Rapidamente desviou o olhar e soltou um pigarro, mostrando o seu desconforto.

__ Não vai me dizer que essa camisola é de alguma das suas putas?

Dessa vez ele olha diretamente nos meus olhos.

__ Como se não bastasse todos os defeitos que possui ainda é uma boca suja. Como ousa intitular-se como uma dama?

Encaro-o desafiadoramente.

__Eu não me intitulo, sou uma dama. Fui criada e educada para tal. E não haja como se nunca tivesse pronunciado um palavrão em sua sordida vida.

Dou-lhe as costas e caminho até um espelho, colado à parede.

__Eu sou um homem e você uma senhorita. É bastante deselegante uma mulher ter a boca suja como a de um marinheiro ou bebado de buteco.

Sinto uma desenfreada vontade de mostrar-lhe o meu dedo do meio.

__ Você é um machista de merda.__sorriu para ele docilmente.__O que achou desse palavrão?

Antonio levanta-se da poltrona e ajeita o seu paletó.

__Merece que eu lhe dê algumas palmadas na bunda ou lave à sua boca com sabão piccola canaglia*. Arrume-se depressa para tomar o pequeno almoço.

Ele abandona o quarto sem olhar para trás. Fecho os olhos e respiro fundo antes de abrir a porta perto do guarda-roupa. Como supus era o banheiro.

O cómodo era bastante moderno. Retirei a camisola e joguei-a dentro do sesto de roupa suja, localizado atrás da porta. Fiz um coque desajeitado e entrei no box, ligando o chuveiro logo em seguida.

Foi bastante reconfortante sentir aquela água lavando toda a tensão que sentia sobre o meu corpo. Com a água na temperatura ideal entreguei-me ao prazer do banho, derramei o sabonete líquido com cheiro a pêssegos na esponja e massageei o corpo lentamente.

Quando terminei o banho envolvi-me em uma toalha branca felpuda. Lavei os dentes e voltei para o quarto na intenção de encontrar o meu vestido jogado em algum canto, mas acabei deparando-me com uma t-shirt branca simples e uma calça jeans igualmente comum. Torci o nariz e encarei a roupa por longos minutos.

Aquele estilo de roupa era muito diferente ao qual eu estava habituada. Fiquei um pouco irresoluta em vesti-las, mas acabei convencendo-me a usá-las, afinal já não tinha outra opção.

Quando olhei-me ao espelho quase chorei. Estava trajada em roupas simples e não tinha sequer um gloss cobrindo a minha boca ou um pó para cobrir as poucas sardas que preenchiam o meu rosto.

Abandonei o quarto sem saber ao certo para onde ir. Eu estava em um corredor repleto de portas e retratos à preto e branco colados a parede, segui até ao lance de escadas que dava ao térreo, descendo os degraus lentamente.

Eu conseguia ouvir o som de vozes a cada degrau que descia. Pelos vistos Antonio tinha mais companhia.

__Lá está ela.__ Antonio sorri para mim quando percebe a minha presença. Um sorriso incrivelmente forçado.__ Savanah, eu quero apresentar-lhe à Melissa Bennet, ela é uma colega do trabalho.

Reconheço a mulher como sendo a mesma de ontem.

__ Já fomos apresentadas ontem Antonio.

Eu digo-lhe, parando ao seu lado. Sorrio para mulher minimamente, e me pergunto o que faz ela a essa hora na casa do Antonio.

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