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Quando o carro parou diante da mansão do Senhor Carter eu abri à minha bolsa e peguei um espelho para ver se havia algo de errado com a minha maquiagem.
__ Julgo que a sombra não está boa.__ comento com uma careta no rosto.
__ Savanah, não me faça perder a paciência, não tenho tempo para o seu chilique de menina mimada e fútil.
Fito-o com desinteresse.
__ Comentei apenas, não é como se eu fosse refazer toda a maquiagem agora. Vou retocar apenas o batom e a minha máscara de cílios da L'Oreal.__ expliquei-lhe com um sorriso amarelo.
Antonio é um homem muito amargurado e rude, passar todo o trajeto do seu lado foi bastante tenso. Retoco o batom e a seguir aplico a máscara de cílios cuidadosamente para não borrar.
__Agora eu estou pronta. O rosto é o passaporte para o mundo, não posso apresentar-me as pessoas de qualquer jeito.__ completo ao ver a sua cara de repreensão.
__ Aprendeu essa baboseira nas aulas de "como aplicar golpes em homens ricos?".
Movida pela raiva tento esbofetear o seu rosto, mas os seus reflexos são mais rápidos, ele segura o meu braço e fuzila-me com o olhar.
__ Solte-me agora infeliz.
Puxo o meu braço do seu toque bruscamente.
__ Eu não vou mais acompanhá-lo a esse evento. Quero que me leve de volta ao meu apartamento, não faço questão de estar perto de uma pessoa que me desrespeita como você o faz.
Antonio fitou-me intensamente, naquele momento os seus olhos mostravam uma combinação de ira controlada e de ódio. Mas, eu não me deixei intimidar, sentia muita coisa por ele naquele momento, contudo o medo não constava dentre elas.
__ Eu trato-lhe como uma mulher do seu nível merece ser tratada.
Ele desceu do carro e o rodeou para abrir a porta para mim.
__ Eu já disse que não vou descer, não me pode obrigar.
Antonio fechou os olhos e inclinou a cabeça levemente para trás, puxando o ar fortemente de seguida. Ele era assustadoramente bonito, intimidantemente atraente e elegante. Era incrível o facto dele conseguir seduzir apenas com gestos corriqueiros.
__Desça logo mia cara, não me faça perder a porra da paciência.
Semicerro os olhos na sua direção.
__Eu vou acompanhar você, mas se continuar a dizer coisas feias para mim, eu vou jogar-lhe uma taça de champanhe à frente de todos os seus amigos. E se consinto em acompanhá-lo, não é por sua parca ameaça. Estou estonteante nesse vestido, não irei perder a oportunidade de exibir-me e mostrar o quão graciosa sou.
Ele revirou os olhos e ajudou-me a descer do carro, a seguir entrelaçou os nossos braços.
__ Não tinha um vestido mais curto?__ perguntou ironicamente enquanto caminhamos até a residência.
__ Eu disse sem insultos. Não acredito que vai reclamar até do meu vestido, parece uma criança briguenta. Por acaso é sadomasoquista? Parece que tem prazer em deixar-me desconfortável.
Antonio não responde. Enquanto caminhamos, eu rezo silenciosamente para que ele não me trate mal à frente dos seus amigos e das suas esposas.
...
Eu levo a taça de champanhe rosé à boca e fecho os olhos, sentindo o líquido borbulhante a deslizar-me pela garganta. Era a quarta taça da noite, estava aborrecida e via naquela bebida o meu único entretenimento.
Os homens vestidos de terno, sentados um pouco afastados conversavam sobre a bolsa de valores e boas estratégias nos negócios, enquanto as senhoras ao meu lado fofocavam sobre a vida alheia, falavam sobre viagens e moda. Eram os meus assuntos favoritos, mas eu só conseguia concentrar-me na única senhora que estava no círculo dos homens.
Ela era bonita, não tanto como eu, mas era. À sua beleza não era daquelas que intimidava, contudo, parecia ser muito inteligente. Os homens estavam intrigados e interessados em tudo o que saía da sua boca, inclusive o meu futuro marido.
Aliás, eles pareciam estar flertando sutilmente. Trocavam olhares furtivos e tocavam-se constantemente. Talvez Antonio estivesse interessado nela, e o facto de eu ter que me casar com ele atrapalhou os seus planos.
O caso era simples: após se aperceber de que estávamos prestes a perder tudo, à minha madrinha propôs entregar todas as suas ações do banco ao Antonio e em troca ele casava-se comigo, quitaria as nossas dívidas e sustentaria-nos. Ele como era bastante ambicioso não pensou duas vezes antes de aceitar já que tudo o que mais queria era recuperar as ações que o seu pai deixou para a minha madrinha, e eu como não estou disposta a viver na miséria também não hesitei em aceitei o acordo.
Mas, o Antonio sempre fez questão de deixar claro que não me suportava e que eu não fazia o seu tipo. Ele gostava de mulheres inteligentes, mulheres que entendiam de negócios, conheciam Epicuro de Samos, Immanuel Kant e que sabiam a diferença entre bolsas de valores e mercados financeiros.
Como aquela mulher parecia saber. Provavelmente ele não lhe diria no carro para se manter em silêncio o caminho todo e evitar falar o desnecessário à frente dos seus amigos para não envergonhá-lo.
__ Está bem Savanah?
Mrs. Smith perguntou com uma expressão preocupada. Eu assenti com um sorriso mínimo e bebi mais champanhe.
__ Eu estou ótima. Do que estavam a falar mesmo?
Ela piscou confusa e disse-me que estavam a comentar acerca do péssimo desempenho nas passarelas de uma modelo soviética que estava a ser apontada como a nova aposta do mundo da moda.
__Hoje em dia qualquer pessoa magra e alta com muitos seguidores nas redes sociais pode ser modelo.__uma das senhoras reclama, indignada.__ No meu tempo tinha que saber desfilar e ter carisma. Agora qualquer um pode virar celebridade com uma câmera.
Nós rimo-nos do seu tom lamuriento. Depois da sexta taça de champanhe eu já estava a rir-me de tudo o que as pessoas à minha volta diziam.
__ Posso saber quantas taças de champanhe tomou?
Antonio puxou-me para um canto e perguntou-me ao ouvido. Eu fechei os olhos e sorri ao inalar com satisfação o seu cheiro.
__ O suficiente para fazer amor com você à frente dessas pessoas sem me preocupar com as consequências.
Eu ri-me escandalosamente do que acabei de dizer, deixando-o irritado.
__Fica aqui, eu vou despedir-me do senhor Smith.
Eu puxo-o pela gravata quando ele faz menção de afastar-se.
__ Do Senhor Smith e da sua amante, não é? Se quiser pode chamar ela para a nossa noite, eu não me importo.
Outra risada escapa-me por entre os lábios.
__ Comporte-se Savanah.
Eu olho para o seu corpo forte sob o terno com desejo quando vejo-o afastando-se. Milhares de pensamentos libidinosos passam pela minha mente, eu adoraria percorrer todo ele com a ponta da minha língua. Fecho os olhos, sentindo a parte da minha anatomia coberta por uma fina calcinha preta pulsando.
__ Vamos.
Antonio segura o meu braço e guia-me às pressas até a saída. Eu sinto o ar gelado da noite arrefecendo gradativamente a minha pele quente.
__Eu quero dançar Antonio, vamos até a alguma boate. Se quiser posso fazer um belo striptease para você!
A minha sonora risada explode pelo carro. Antonio termina de ajeitar rapidamente o meu cinto de segurança e afasta-se, parecendo nervoso.
__ Cale à boca Savanah, não deveria ter bebido tanto.
Eu aproximo-me dele e com audácia passo de leve a língua pelos lábios.
__ Eu não me importaria se você me calasse com um beijo.
Um sorriso malicioso tomou-me conta da feição.
__Para mim você não passa de uma criança. Uma criança inconsequente e estúpida.
Eu abri a minha boca para respondê-lo, mas ao invés de palavras eu senti um gosto ácido na minha garganta antes de vomitar em cima das suas calças.
Essa foi a última lembrança que eu tive antes de desmaiar.