Faíscas
CAPÍTULO 4
Louis Davis
Fiquei com muita raiva quando entendi que aquela mulher era mais uma tentando conseguir algo de mim. Estou muito cansado disso, a cada dia que passa isso aumenta, e eu tenho ficado cada vez mais sozinho.
Eu não entendo o que há de errado comigo, sempre fiz de tudo para ajudar os outros, deixei de comprar coisas para mim mesmo, apenas para ver o sorriso no rosto daquelas crianças do orfanato, e sempre quando pude ajudei os que encontrava na rua, também.
A vida toda tratei bem as mulheres, pois acho que elas são as obras mais lindas que Deus criou, e nenhuma merece ser tratada de forma diferente do que eu trato, mas a verdade é que ultimamente tenho estado muito irritado porque todas elas têm tentado me passar para trás, e estou confuso.
Eu confesso que essa senhorita me surpreendeu, pensei que enfim havia encontrado alguém bacana, e que se entregou para mim sem reservas... alguém que não conhecia o meu sobrenome e nem a minha decadente tentativa de encontrar alguém que me amasse, achei que ela seria diferente, que estivesse com boas intenções e até estava disposto a tentar algo com ela, mas tive uma decepção muito grande ao saber que o interesse dela era apenas por um imóvel e por isso me irritei tanto e acabei falando merda para ela.
Na mesma hora em que ela me bateu, levei um choque de realidade e a puxei de volta para mim.
— Me desculpe, fui um idiota! — falei, e ela simplesmente paralisou me olhando e não disse nenhuma palavra. — Eu sinto muito, não sei porque me alterei tanto, eu não sou assim! Ultimamente não tem sido fácil.
— Me acusou de algo que eu não fiz e não vou te perdoar! — falou de forma seca, e puxou o braço com força, se afastando de mim.
— Então me diga o que aconteceu, eu só quero entender! — passei a mão pelos meus cabelos, tentando me manter calmo.
— Olha, eu estou bem estressada também, tá? Pensei que você tivesse notado que eu não estava bem, ontem! Eu só queria... — ela estava nervosa e ficou procurando palavras, parecia que evitava chorar, então eu lhe dei um lenço que guardava no bolso, mas ela ficou brava.
— EU NÃO VOU CHORAR, SE É ISSO QUE PENSA! A MINHA VIDA ESTÁ HORRÍVEL, A MINHA MÃE ESTÁ DOENTE, TENHO UM PAI ALCOÓLATRA QUE PRECISEI TIRAR DE DENTRO DE CASA COM A POLÍCIA, PORQUE O PEGUEI BATENDO NA MINHA MÃE, E AINDA DEPOIS VI ELE PERDER QUASE TUDO O QUE TEMOS EM JOGOS, DROGAS E BEBIDAS, E A ÚNICA COISA QUE EU QUERIA ERA A MINHA GALERIA DE DANÇA PARA PODER TRABALHAR! — ela gritou sem parar, parecia sem ar, estava vermelha e começou a chorar, então ficou de costas.
— Ei, calma! Eu posso te ajudar, se esse é o problema... não posso te vender a minha galeria, pois já investi muito lá, e temos peças caríssimas de vários lugares do mundo, transportar seria muito complicado, podemos procurar outro lugar! — ela balançou a cabeça.
— Não estou pedindo a sua ajuda, daqui a pouco vai dizer que eu estou querendo me vender, outra vez! — ela respondeu, e tentei tocá-la nos cabelos, mas ela tirou a minha mão.
— Não me toque!
— Eu já pedi desculpas. Mas, posso perguntar porque me pediu para prosseguir ontem? — fui um pouco mais perto, tentando algum contato.
— Isso é coisa minha! E, pare de se desculpar!
— Então já me desculpou? — tentei novamente me aproximar, e nem sei o motivo. Ultimamente tenho me sentido tão sozinho que acabo deixando essa carência me dominar. Sinto falta de uma mulher ao meu lado.
Uma mulher que me ame, me beije, me trate com respeito, e esteja presente na minha vida... Malu era mais virtual, às vezes ela me atendia, às vezes não... sei que nunca foi interesseira, mas também tem objetivos muito diferentes dos meus, e por isso não deu certo.
— Eu não sei... — segurei a sua mão, e ela me olhava torto, claramente não estava satisfeita.
Islanne não me disse o que eu realmente queria saber, mas não sei se sou muito burro, mas acreditei na história dela, e não vou conseguir ir embora sem ajudá-la com o imóvel.
— Então vamos fazer assim... você vem comigo, e se no final da noite não tiver me desculpado, prometo não te incomodar mais!
— E, se for o contrário? — perguntou me olhando seriamente.
— Bom... podemos ser amigos! — ela balançou a cabeça e desviou os olhos. — Isso é um “sim”?
— Tudo bem. Só preciso ligar para a minha mãe e ver se ela está bem...
Eu confirmei e ela começou a fazer uma ligação. Enquanto isso liguei para o meu assistente e pedi as chaves da galeria nova que comprei para dar uma olhada. Ela fica bem perto da outra, numa ótima localização e talvez a moça goste.
Ela entrou no meu carro, mas estava diferente hoje. Se parecia um pouco com a moça que conheci no trem, mas com um coração mais humano; eu via tristeza nos olhos dela, também.
— Que lugar é esse? — olhou tudo em volta.
— Fica a duas quadras do outro endereço, vamos ver se você gosta!
— Mas, e o dono? Como vamos... — mostrei a chave.
— O dono permitiu que olhemos o imóvel! — sorri pra ela, que suavizou a expressão.
Quando abri, ela começou a olhar maravilhada, e a dar voltas que parecia que ficaria tonta.
— Nossa, é lindo! Tem até espelhos, eu só preciso fazer poucos ajustes... — parou por um segundo e me olhou. — Deve ser muito caro! Como vou pagar um aluguel tão alto...
— Caro, seria quanto? — questionei.
— Há, uns cinco mil dólares por mês! — balançava a cabeça preocupada.
— Não é não!
— Não?
— O dono consegue fazer por mil dólares!
— Como sabe?
— É meu esse espaço! Eu alugo pra você; acho lindo, mas perto demais da outra. — arregalou os olhos.
— Sério? — assenti, e ela se jogou no meu colo como uma criança animada. — Ai, obrigada! Obrigada! — sorri satisfeito em ver a Islanne feliz. Ela me abraçou e o seu cheiro exótico estava ainda mais forte hoje, com o movimento dos seus cabelos cacheados, me deixou tonto.
Voltei a olhar para a sua linda pele, toda bronzeada, sem maquiagem e tão perfeita. Ela tem uma boca mais marcante, lábios grossos, e senti vontade de voltar a beijá-la, mas ela percebeu para onde eu olhava e se afastou.
— Não está fazendo isso por interesse, né? Porque o que aconteceu ontem, não vai se repetir! — senti um frio no estômago, e tive vontade de perguntar o motivo, mas não o fiz. Eu devo ter machucado ela ontem, e não gostou de estar comigo, ou algo do tipo.
— Não, eu apenas estou te ajudando! O que aconteceu ontem foi um acidente, eu sei disso! — falei firme e ela concordou.
— Então vou te mandar os dados para assinarmos o contrato, antes que mude de ideia!
— Pode mandar para o meu assistente, depois. Mas, não vou mudar nada, fique tranquila.
— Tudo bem...
— Então, vamos? — me olhou diferente.
— Para onde?
— Eu adoro Milk Sheik, se quiser me acompanhar, conheço um lugar ótimo!
— Tudo bem, ainda está cedo! — ela confirmou, e fiquei feliz com o novo passeio, estou gostando de estar com ela e ficarei feliz em tê-la como amiga...
Ela entrou no carro, e agora estava descontraída, começou a me fazer perguntas sobre a galeria, e eu sobre a sua mãe, para ver se podia ajudar.
Levei ela num lugar muito bonito, o maior de Washington, e ela parecia deslumbrada.
— Acho que não estou vestida a altura! — falou preocupada.
— Está linda, não se preocupe! — ela olhou para a própria roupa e depois a sua volta e ficou paralisada quando olhou para um grupo de homens logo a frente.
— O que foi?
— O meu ex está aqui! — abaixou a cabeça, e me aproximei a erguendo novamente com um dedo só, a fazendo olhar para mim. Vi um deles mais isolado e vi que olhou pra ela.
— Eu não sei o que ele te fez, mas se te deixou é um babaca, porque você é mil vezes melhor do que ele! — ela ficou olhando fixamente para mim e não desviou mais.
— Você acha? Ele simplesmente me dispensou porque me achava muito sem graça, mas eu acho que teve algo a ver com a perda de dinheiro...
— Vamos fazer assim... nem olhe para ele, e segure na minha mão. Aposto que ele verá o mulherão que perdeu! Vamos deixá-lo refletir um pouco... — ergui a minha mão para que ela decidisse e ela segurou.
Beijei suavemente a sua testa enquanto ela ainda me olhava com aqueles olhos escuros como a noite, e decidi que esta noite faria aquela mulher feliz... mesmo que ela não sinta nada por mim, e nem eu por ela, existe algo entre nós que saí faíscas quando ficamos perto demais, e isso já era o suficiente.