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Capítulo 1

CORAÇÃO QUEBRADO, CICATRIZES DE ESPERANÇA 1

_Capítulo 1: O Peso do Silêncio

O sol mal havia nascido e tocava as cortinas puídas do pequeno quarto de Emma. Ela abriu os olhos, acordada do sono pelo som familiar de seus filhos, Mathis e Léa, brincando no corredor. Um sorriso frágil se formou em seus lábios enquanto ela ouvia suas vozes inocentes, um leve alívio da agitação constante de sua vida. Mas aquele sorriso desapareceu quase tão rapidamente quanto apareceu quando a dor na parte inferior das costelas o lembrou dos acontecimentos do dia anterior. Um novo argumento, uma nova marca.

Emma sentou-se lentamente, colocando a mão no lado dolorido. Ela não precisou se olhar no espelho para saber que sua pele apresentava outra marca escura. Não era a primeira vez e ela duvidava que fosse a última. Seu corpo havia se tornado um campo de batalha silencioso, um mapa da violência que Vincent infligia a ele toda vez que as coisas davam errado. E as coisas estavam indo mal com cada vez mais frequência.

Ela respirou fundo, tentando ignorar a dor. Vincent ainda estava dormindo. O silêncio no quarto deles era enganoso, uma calma inquietante antes da tempestade que acabaria por passar assim que ele abrisse os olhos. Todos os dias ela se levantava diante dele, preparava as crianças e esperava que a raiva dele não destruísse esse frágil equilíbrio.

As risadas de Mathis e Léa ecoaram pela casa, rompendo o pesado silêncio que a cercava. Emma levantou-se lentamente, puxando o cobertor em sua direção para se proteger do frio do quarto. Ela não podia deixar a dor paralisá-la. Seus filhos contavam com ela e, embora seu coração estivesse pesado e seu corpo machucado, ela precisava permanecer forte por eles.

Entrando na cozinha, ela os encontrou já arrumados. Mathis, seu filho de oito anos, estava sentado à mesa, com uma folha de papel à sua frente, concentrado em um desenho. Léa, de seis anos, subia em uma cadeira para pegar uma caixa de cereal que estava em cima do armário.

" Mãe ! Olha o que eu desenhei! » Mathis exclamou com entusiasmo, erguendo orgulhosamente seu desenho em direção a ela.

Emma se aproximou, sorrindo suavemente ao ver a imagem. Era um retrato da família deles, ou pelo menos a versão idealizada que Mathis tinha em mente. Três figuras sorridentes, ela, Vincent e ele, de mãos dadas, com Léa correndo alegremente na frente deles. Tudo estava emoldurado por um sol brilhante e nuvens brancas flutuando acima de um prado verde. Esse tipo de felicidade simples e pacífica lhe parecia tão distante, quase irreal.

“É lindo, meu querido”, ela respondeu suavemente, acariciando ternamente a cabeça do filho. “Parece que você trabalhou muito nisso.” »

Mathis assentiu, visivelmente orgulhoso de si mesmo. “Podemos ir ao parque neste fim de semana, como no meu desenho?” »

Emma sentiu seu coração apertar. O parque... já fazia muito tempo que não tinham um dia em família, sem gritar ou discutir. Desde que Vincent perdeu o emprego, a sua raiva tornou-se mais frequente, mais violenta. Já não tinha paciência para passeios, para risos, para a simples alegria de estar com eles.

“Veremos, querido”, ela respondeu suavemente. “Talvez se papai concordar, nós iremos.” »

Era uma mentira, ou melhor, uma meia verdade. Ela sabia que Vincent nunca concordaria com um passeio em família. Ele não via mais alegria nesses momentos, apenas tédio, cansaço e a frustração de não ser mais o pilar da casa. Emma o viu mudar gradualmente, tornando-se mais amargo, mais duro. Cada dia que passava parecia arrastá-lo ainda mais para uma espiral de ressentimento.

Ela se virou para terminar de preparar o café da manhã das crianças, derramando um pouco de leite no cereal de Léa. A cada movimento, ela sentia dor irradiando de suas costelas, mas tentava não deixar transparecer. As crianças não deveriam saber. Eles já estavam bastante estressados ​​com as constantes discussões e o humor imprevisível do pai.

O silêncio pesado na casa foi quebrado por um barulho surdo vindo do quarto. Emma congelou, a mão tremendo, o coração disparado no peito. Vicente acordou. Seus passos pesados ​​ecoaram pelo corredor, cada som aumentando a tensão no ar.

Ela se virou bem a tempo de ver a figura de VINCENT entrar na cozinha. Suas feições estavam contraídas, os olhos ainda velados pelo sono, mas sua expressão já era a de um homem irritado. Ele nem sequer olhou para ela enquanto caminhava em direção à cafeteira.

“Você fez o café?” — ele perguntou bruscamente, sua voz cortando a atmosfera tensa como uma faca.

Emma correu para servir o café quente em uma xícara, as mãos tremendo ligeiramente sob a pressão. Ela sabia que ele não tolerava erros, nem o menor passo em falso. Ela tinha que fazer tudo perfeitamente para evitar provocar sua raiva.

Vincent pegou a xícara com um grunhido, sem agradecer, e sentou-se pesadamente à mesa. O silêncio tornou-se ainda mais opressivo, como uma ameaça latente pairando no ar. Emma tentou ficar pequena, invisível, esperando que o momento passasse sem incidentes.

Mas nunca foi tão simples.

“Eu vi as contas esta manhã”, disse ele de repente, com a voz cheia de desprezo. “Eles se acumulam. Você ainda não encontrou um emprego, né? »

A pergunta a atingiu com força. Emma olhou para baixo, incapaz de encontrar seu olhar. Ela estava desesperada por um emprego, mas cada dia parecia um novo beco sem saída. Ela sabia que sua situação só estava deixando Vincent ainda mais frustrado, mas ela não tinha o poder de mudar as coisas tão rapidamente quanto ele exigia.

“Eu continuo procurando...” ela sussurrou, sua voz quase inaudível.

Vincent gemeu, seus dedos tamborilando nervosamente na mesa. “Pesquisar não é suficiente. Devemos agir. Não posso fazer tudo aqui. Você precisa encontrar algo e rapidamente. »

Ela não respondeu. Cada palavra que ela pudesse ter dito só teria alimentado sua raiva. Ela conhecia esse jogo, esse ciclo infernal onde qualquer tentativa de diálogo só piorava a situação. Não havia saída fácil. Apenas sobrevivência.

Vincent levantou-se abruptamente, jogando a xícara meio vazia na pia. O barulho ecoou pela sala, assustando Emma. Sem mais palavras, ele saiu da cozinha, deixando para trás uma atmosfera carregada de tensão não resolvida.

Emma ficou parada por um momento, ouvindo o som dos passos dele se afastando. Era apenas uma questão de tempo até que a tempestade explodisse novamente. Mas, por enquanto, ela conseguia respirar, mesmo que fosse por pouco tempo.

Ela se virou para a janela, olhando para o céu cinzento que se estendia sobre a vizinhança. Mais um dia sobrevivendo, esperando que talvez um dia tudo isso acabe.

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