02
Londres - Inglaterra
Dia do baile...
ANNABELLA
Desde o dia que ouvi as palavras do homem que me deu a vida, estou atormentada com tudo isso, desde então, sinto um misto de sensações ruins.
Medo! Pânico! Desespero!
Todos esses sentimentos apoderaram-se de todo o meu ser. E para completar, foram quatro dias de viagem, os quais me deixaram completamente exausta depois de sacolejar dentro de uma carruagem por estradas de terra. Quando chegamos a Londres, o dia estava ensolarado e a temperatura era agradável.
Contemplando a vista pela janela da carruagem, reparei nas inúmeras pessoas andando para lá e para cá, cuidando de suas rotinas diárias. Pedestres e carruagens se moviam pela rua, dividindo o mesmo espaço. Fiquei admirada com um tipo de charrete que abrigava várias pessoas e era puxada por três cavalos, parecia uma espécie de transporte público. Bem que diziam que Londres esbanjava prosperidade.
Naquele momento, a nossa carruagem seguia na direção da estrada que nos levaria a estalagem que iriamos ficar. Alguns minutos depois, quando chegamos ao nosso destino, os baús que estavam carregados, logo foram retirados enquanto adentrávamos o lugar.
Nas horas seguintes, aproveitei para um repouso antes do baile, mas não antes de novamente ouvir todo um sermão de como deveria me comportar no evento, ainda tentei argumentar, mas meu pai estava determinado e se não fosse pelo baile, de certo ele teria me agredido de novo. Deixei meus pensamentos de lado e com a ajuda de Betha, horas mais tarde, comecei os preparativos e passei o restante do tempo me arrumando.
Quando me olhei no espelho, fiquei admirada com o resultado, mas logo o sorriso no meu rosto se desfez ao ver o homem que se tornou a razão da minha agonia e do meu desespero, adentrando o cômodo. Ele me analisou e sua expressão era de agrado e satisfação. Eu tinha escolhido um modelo em tom marfim, com uma saia rodada, sobreposto sobre várias outras, no busto tinha delicadas flores bordadas com fios dourados, combinando com a barra do vestido que também tinha flores, só que um pouco maiores e ia subindo até certa altura. Ele marcava minha cintura com perfeição e atrás, uma espécie de calda, não muito grande deixando o modelo mais elegante. No cabelo, um coque solto, com alguns cachos caindo em volta do meu rosto e pescoço e como enfeite, uma pequena tiara de diamante. Depois de me despedir da minha mãezinha do coração, caminhamos para fora do quarto e em seguida, da estalagem.
Minutos depois, o meu pai instruiu o cocheiro e a carruagem entrou em movimento, afastando-se dos poucos pedestres que andavam pela rua. O veículo trepidava e balançava enquanto se movia pelas ruas: cada movimento era um sinal que a minha liberdade se distanciava e escapava diante dos meus próprios olhos. A minha vontade era levantar dali e sair em disparada para qualquer lugar onde pudesse ser feliz. A repentina tensão que se apoderou de todo o meu ser, aumentou a sensação de que hoje, algo mudaria a minha vida para sempre e a esperança em escapar se desvaneceu.
Saio do meu momento de devaneio quando a voz grave do meu pai se fez presente, me avisando que havíamos chegado. Ao descer da carruagem, senti a brisa refrescante da noite em minha pele. Ele entrelaçou o seu braço ao meu e juntos, seguimos em direção à entrada principal do palácio, assim que foi autorizada a nossa entrada, caminhamos em direção ao salão de Buckingham. Meus olhos ficaram em total admiração com tudo a minha volta. Em meio a tanta gente, o baile é uma fonte inesgotável de visões, sons e a deslumbrante variedade de tecidos, a multiplicidade de vozes que se misturavam com a música tocada, a combinação de aromas dos diversos perfumes tornava tudo perfeito, já que certamente todos os presentes deveriam ter feito um esforço e tomado um banho descente.
Papai começou a andar pelo hall e me conduziu consigo com grande habilidade. Seu olhar percorreu o ambiente em busca de rostos familiares. Meu pai localizou um grupo de conhecidos ali perto e seguimos naquela direção. Depois de dar alguns passos, ele se deteve, me forçando a parar de imediato.
Um cavalheiro baixo e trajado com elegância, o qual aparentava uns sessenta anos, bloqueou a nossa passagem, em seguida sua voz ecoou no cômodo.
— Lord Watson.
— Milorde Langston — meu pai o saudou em resposta.
O homem a minha frente me lançou um olhar malicioso e me analisou de cima a baixo como se eu fosse um prato de comida que ele estivesse pronto para degustar. Senti um forte embrulho em meu estômago, ao ver que meu pai, ao olhar o jeito como o homem me encarava, ainda tratou de aprofundar ainda mais a conversa entre eles.
— Acredito que ainda se lembre da minha filha Annabella? A trouxe para ser apresentada a sociedade.
— Como poderia esquecer um rosto tão bonito como da senhorita Watson. Desde o momento que vocês adentraram o ambiente que todos a seguem com o olhar, para um homem solteiro, assim como eu, uma mulher como a Lady Watson, sem dúvidas, é alguém que desejamos nós envolver e nos unir a ela.
O tom de intimidade da voz do velho asqueroso, que tem idade para ser o meu avô, não me passou despercebido, em seguida ele riu, e os convidados ao redor cravaram os olhos em nossa direção. O meu pai vendo o interesse do homem, começou a falar de várias qualidades minhas. Um grande nó se formou em minha garganta. Girando a cabeça e simulando interesse no ambiente para que pudesse me desviar da conversa dos dois homens a minha frente, meus olhos passearam em torno do ambiente até que alcançaram um canto do salão. Senti todo o meu corpo estremecer quando meu olhar ficou fixo nos dois homens que estavam a certa distância, virei um pouco obtendo uma melhor visão dos dois, ao mesmo tempo em que o meu coração começou a bater no ritmo alucinante. Nunca tinha visto um homem tão bonito na minha remota vida. Seus olhos são de um azul como se eu estivesse observando o mar. Minhas pernas estavam a ponto de fraquejar. Meu corpo reage de uma forma inusitada, nunca sentida antes por mim, mas assim que um deles se moveu e caminhou em minha direção. Engoli em seco, ficando completamente petrificada.
HENRICO
A noite estava agradável, com o céu claro e uma lua cheia proporcionava bastante iluminação. Assim que minha carruagem chegou a frente ao palácio de Buckingham, uma grande multidão se fazia presente. Minutos depois, quando adentrei o grande salão, atentamente, circulei em torno do ambiente, sintonizado nos movimentos das pessoas ao meu redor, não demorou muito, uma voz que eu reconheceria em qualquer ocasião se fez presente. Identificando a pessoa responsável, lancei um olhar rápido na direção do Lorde Bingham, que se aproximou.
— Duque de Gordon.
— Lorde Bingham.
— Todos estão surpresos com sua presença, após tantos anos vivendo isolado. Vossa Graça nos dá a honra de sua presença.
— De certo que todos esses anos não deva ter perdido nada de importante, pelo menos não tive o desprazer de ter que olhar para o rosto de certos desocupados. — Mesmo tentando disfarçar, eu sabia que a raiva estava o consumindo por dentro.
Esse infeliz acha mesmo que não sei que durante todo esse tempo que estive afastado, ele, assim como outros do seu nível, não parava de comentar tudo que aconteceu naquela maldita noite.
Nós minutos seguintes, além de ter que suportar a presença do infeliz, ele logo avistou o conde de Wiston e seu fiel puxa saco Halrod e os chamou, iniciando uma conversa que pouco me interessava. Ainda não entendia por qual motivo permanecia nesse lugar, cercado de pessoas que mais pareciam uns fantoches, porém, era como se uma força muito maior do que tudo que eu já tivesse sentindo, me forçasse a permanecer mesmo contra a minha vontade.
Não demorou muito, os dois cavalheiros se afastaram e assim que ia me livrar do idiota que permanecia ao meu lado, por uma questão de segundos, meus olhos foram na direção da mais bela imagem em forma de mulher. Nunca, nem mesmo aquela infeliz, foi capaz de mexer comigo de uma forma que não sei explicar. Os vislumbres do perfil dela somente atiçaram o meu desejo de vê-la debaixo de mim, me deliciando do seu delicioso e esculpido corpo. O contato visual me atingiu até o âmago, abalando profundamente meu coração, provocando uma reação primitiva, de suprir o meu desejo, independentemente do que ela quisesse. Sou arrancando dos meus devaneios quando vejo o desgraçado que até então estava ao meu lado, caminhando em sua direção. Senti um nó se formando em minha garganta e a raiva me queimando por dentro.
"Se esse infeliz, pensa que vai cruzar o meu caminho, está completando enganado".
Não importa qual será o preço ou o que eu deva fazer, ela será minha de qualquer maneira. E ao contrário do que aconteceu no passado, farei essa desconhecida saber quem é Henrico II, o duque de Gordon.