Capítulo 4 - Príncipe Florian
Apesar de todas as coisas estranhas que aconteceram no baile, ele foi um sucesso. Dancei a noite toda com a princesa Tiane e conversamos muito sobre nossos reinos. Diante a preocupação do meu pai sobre eu precisar me casar para tornar-me rei, acabei selando um compromisso com a princesa, mesmo sabendo que, talvez, estivesse sendo um pouco precipitado.
Não poderia amá-la da mesma forma que amei Branca de Neve, mas tentaria lhe fazer feliz. Por isso, nós combinamos de marcar nosso casamento.
— Filho, que bom que te encontrei ainda tomando seu café. — disse meu pai sentando-se do meu lado. — A princesa ainda não acordou? — tomou um gole de café.
— Ainda não, pai!
— Deixe-me te contar, filho. Sai para cavalgar cedo e encontrei o vizinho pelo caminho, conversamos um pouco. Ele me contou que a garota que perdeu o sapato na escadaria se perdeu na floresta, estão à procura dela. Disse que o príncipe Henry do reino Leste, descobriu que ela se chama Cinderella e está desesperado atrás dela. Também contou que a princesa Aurora está dormindo até agora, dizem que foi enfeitiçada. Que loucura tudo isso, não concorda?
— Pois é, pai. O baile foi há dois dias e isso que contou é preocupante — fiquei pensativo após terminar de comer.
— É sim, tanto que selecionei alguns guardas para ajudar na busca de Cinderella. Quanto a Aurora, não podemos fazer nada, eu soube que somente o seu grande amor pode quebrar esse feitiço, mas ninguém encontra o seu amado príncipe.
— Que triste isso! — me solidarizei com o destino cruel da princesa Aurora. — Pai, com sua licença, vou me trocar. Sairei com o Hos, vou até a vila resolver umas coisas. Se a princesa perguntar por mim, diz que volto logo. — Comuniquei indo para meu quarto.
O vulto havia dado uma trégua, mas sempre sentia alguém passar as mãos em meu cabelo durante a noite e ultimamente também estava ouvindo um choro, e mesmo procurando, não conseguia encontrar quem estava chorando ou de onde provinha esse choro lamentoso, isso me assustava bastante.
Terminei de me trocar e fui abrir a porta para esperar Hos na sala, foi quando senti um vento muito forte passar por mim e no mesmo instante ouvi alguém chorando dentro do quarto. Ao procurar pelo dono do choro notei que minha cama e o travesseiro estavam afundados, como se estivesse alguém dormindo ali. Assustado, abri a porta apressado e dei de cara com Hos.
— Alteza, tenha cuidado. Você está sempre com pressa, uma hora vai se machucar mesmo. — Disse Hos fechando a porta do quarto.
— Hos, você tá ouvindo esse choro? — perguntei parado na porta do quarto do lado de fora.
— Não ouço nada. — Respondeu tentando prestar atenção.
— Hos, dá uma olhada na minha cama, eu não deitei nela hoje, mas parece que tem alguém deitado, ou que alguém deitou ali. — Abri a porta devagar. Hos colocou a cabeça para dentro do quarto e logo voltou a me olhar.
— Sua cama está lisinha, não tem marca nenhuma nela.
— Como não? — perguntei olhando e realmente a cama estava lisinha. Na hora meu corpo arrepiou todinho. — Vamos sair daqui. — Resmunguei puxando o Hos pelo braço.
— Alteza, você tem visto aquela moça estranha que dançou com você?
— Não, nunca mais a vi, e nunca soube quem é ela. Você conseguiu falar com a Bruxa?
— Sim, eu falei que conseguiria convencê-la de te ver. Ela está a nossa espera.
— Não vejo a hora de descobrir se tem fantasma no castelo. — Saímos do castelo, entramos na carruagem e partimos para a vila. — Qual é o nome da bruxa? Você a conhece bem? — questionei para ter certeza que não perderia meu tempo.
— Quem não a conhece! É a bruxa mais malvada que existe, se chama Malévola, foi ela quem enfeitiçou a princesa Aurora. Então, por favor, não olhe nos olhos dela e muito menos peça alguma coisa, apenas pergunte o que quer saber e a trate muito bem, para não a ter como sua inimiga depois. — Avisou meu amigo ao chegarmos à vila.
A carruagem parou e fomos avisados que chegamos, agradecendo descemos e fomos a pé até a casa dessa tal bruxa. Entramos por um portão enorme e sombrio, o lugar dava muito medo. Sua casa parecia um castelo mal-assombrado, causava arrepios. Fomos anunciados a ela assim que chegamos à porta da sala pelos seus guardas. Logo em seguida nos mandaram entrar e esperar na sala. Não demorou muito, uma mulher muito charmosa apareceu nos cumprimentando. Ela usava uma coisa estranha na cabeça que até pareciam chifres. Tentei olhar o menos possível para não chamar sua atenção.
— Pela insistência do Hos em te receber, o assunto deve ser importante! Então me diga príncipe, você precisa de algo? Saiba que para mim, tudo tem um preço. — falou a bruxa, dando uma risada sinistra.
— Não preciso de nada, obrigada! Somente uma informação, meu amigo aqui, diz que você sabe de tudo e que é a melhor e a mais bonita. —Tentei agradá-la para não ter uma inimiga.
Ela deu outra gargalhada sinistra sem tirar os olhos de mim. Tentei a todo custo não olhar diretamente em seus olhos.
— Hos, tem toda razão! Sei de tudo, o que quer saber? — respondeu um pouco mais calma e de forma descontraída. Acho que a agradei.
— Em primeiro lugar, gostaria de dizer que anda acontecendo coisas estranhas no meu castelo, além disso, vejo vultos e ouço choros, mas nunca há alguém por perto, estou sempre e completamente sozinho. Você acha que pode ter um fantasma no castelo? — Preferi ir direto ao assunto.
— Pelo que está me dizendo, não tenho dúvida que seja um fantasma. No entanto, preciso saber se alguém morreu nesse castelo inesperadamente. Se existe mesmo um fantasma, está tentando se comunicar ou até mesmo voltar dos mortos, mas isso somente seria possível se tiver morrido há mais de um ano.
— Minha noiva morreu envenenada depois de comer uma maça no dia do nosso casamento há um ano.
— Uma morte tão cruel assim não deixaria sua alma descansar, ela está lutando para voltar à vida, deve estar sofrendo muito. Se ela estiver com raiva pode virar uma alma penada e viver para sempre no castelo assombrando você. Nunca terá paz, mas... — ela deu uma pausa, deixando-me muito nervoso e mais assustado ainda. Como assim a Branca de Neve está me assombrando e por que está fazendo isso?
— Mas... o que? E Porque ela estaria me assombrando? — perguntei muito preocupado.
— No entanto, se ela conseguir recobrar a consciência e tentar fazer algo bom, o feitiço da maça pode ser quebrado mesmo depois de anos e, assim, ela voltará à vida. Só não sabemos como ela voltará, pois, seu corpo físico não servira mais, poderá voltar em uma criança ou mesmo em um animal. Nunca saberemos, a não ser que ao voltar se lembre de quem é. Assim poderá ir até você. Quanto a estar te assombrando, isso significa que não aceitou sua morte e não quer que viva sem ela. Se ela continuar agindo assim, seu fim será de sofrimento, sua alma vagará no castelo, isso seria ruim para vocês, pois ela nunca terá paz.
— O que eu posso fazer para ajudá-la?
— Não muito. Apenas tente fazê-la recobrar a consciência, fazendo ela se lembrar de quem é. Sua alma está presa no castelo, ela não se lembra de que é a Branca de Neve, nem como morreu e muito menos porque está ali te assombrando. Ela apenas sente uma ligação muito forte entre vocês, por isso não te deixará em paz, a menos que você faça ela se lembrar do amor que sentia antes de morrer. Assim terá chance de voltar a viver. Isso é tudo que posso dizer a respeito.
— Obrigado, você me ajudou muito a entender o que estava acontecendo comigo. Cheguei a pensar que estava ficando louco.
— Acredite, não está louco, é mais real do que imagina. — disse levantado.
— Agradeço por nos receber. — Agradeci me encaminhado para porta.
— Espero que resolva seu problema. — disse nos dando as costas, entrando em um corredor e sumindo das nossas vistas. Então fomos embora.
Não podia acreditar que minha doce e amada Branca de Neve estava me assombrando. Como conversaria com um fantasma? Se alguém visse, pensaria que eu estava realmente ficando louco. Entretanto, não poderia deixá-la virar uma alma penada, eu não terei paz e nem ela.