Cap 2 - Cam
Estamos em fevereiro, início das aulas para os jovens, mas para mim é hora de procurar emprego. Por isso, hoje decidi entregar currículos por aí. Como meu pai é muito bom, ele pagou toda a faculdade para mim, e o agradeço todo santo dia por isso, já que meu antigo trabalho não me permitia arcar com essa despesa, óbvio. Fiz faculdade de Design por quatro anos e agora iniciei a faculdade de Medicina. Para me tornar uma médica especialista, sei que o caminho é longo e irei me formar aos 27 anos. Ainda sou nova e sei que consigo. Aos 18 anos fiz a faculdade de Design e consegui, agora, se fizer mais esse curso poderei ter minha casa dos sonhos, pois é com muito esforço que conseguimos realizar nossos objetivos.
Entrego meu currículo em vários lugares, pois em quase todo lugar precisa de um designer, e meus professores me disseram que sou muita boa nisso. Chegando em casa, tomo uma ducha fria, pois suei muito. Hoje, em Uberlândia, está um calor intenso. Após secar meus longos cabelos negros que batem na altura dos seios, resolvi checar meu celular. Recebi uma mensagem de Márcio:
[Amor, está em casa? Posso te ver?]
Decido responder de uma vez:
[Acabei de chegar.]
Ele manda um emoticon mandando beijo e diz que está vindo. Eu suspiro, pensando se falo logo de uma vez para ele sobre nós. Talvez dê certo. Coloco uma calça de malha comprida e uma blusa preta de alcinhas. Gosto de me vestir assim em casa, bem à vontade.
Faço um sanduíche para mim com ovos, bacon, muçarela, alface e tomate. Coloco ketchup e como, satisfeita. Sempre amei colocar ketchup em tudo, às vezes minha mãe, Suzian, fala que sou louca e isso me arranca diversas risadas.
Terminando de comer, lavo o prato, bebo água, escovo os dentes e escuto a campainha. Abro a porta e vejo Márcio. Ele está lindo, sem dúvidas. Sempre o admirei. Me afasto para ele entrar e, logo a seguir, fecho a porta, me virando para ele. O vejo sorrindo para mim, seu cabelo castanho está todo para trás e ele está arrumado com uma blusa de mangas e uma calça jeans azul escura.
— Oi amor, estava com saudades.
Mentira, pois nos vimos ontem. Eu sorrio, sem graça, para ele e indico para nos sentarmos no sofá. Ele pergunta, após se sentar ao meu lado:
— Como foi seu dia?
— Foi bom, e o seu?
— Bom também. A loja do meu pai está crescendo, estamos indo bem.
Márcio trabalha na loja do pai dele, que é bem popular aqui em Uberlândia. Fora a loja, o pai dele tem uma farmácia que é a mais barata que tem por aqui, por isso eles ganham muito dinheiro.
— Fico feliz por você, Márcio. A gente precisa conversar.
Sabe essa frase, “a gente precisa conversar”? Todo mundo tem medo dela pelo fato de as mães sempre falarem isso e logo a seguir nos darem um coro; ou quando fazemos uma coisa errada e sabemos que vamos ficar de castigo; ou também é usada quando alguém quer terminar o namoro. Sei que Márcio chegou a essa conclusão. Não quero ver ele sofrer, mas quero o bem para mim também, quero ser feliz, e nosso relacionamento não é mais como antes. Isso me deixa triste, mas é melhor assim do que nos magoar por mais tempo.
Márcio me olha, nervoso e diz:
— Pode falar.
Eu suspiro e começo.
— Bom, acho que você notou que nosso relacionamento tem esfriado ultimamente, não é mais o mesmo, estamos distantes e você tem tentando demais ir para a cama comigo. Sei que tem dois anos que namoramos e já era para ter acontecido, mas… eu não sinto vontade de fazer isso. Sinto muito, eu não quero te magoar mais, me dói ter que dizer isso, mas é melhor terminarmos.
— Dou uma pausa e digo, olhando em seus olhos que começam a lacrimejar.
— Vai ser melhor assim, Márcio. Sinto que não te amo como antes, não sei porque isso está acontecendo agora, mas decidi que era hora de falar logo. Me desculpa.
Eu me levanto e ele se levanta junto comigo, segura minhas mãos e diz:
— Por favor, Ana, não faz isso comigo.
— Sinto muito, mas é minha decisão final.
De repente, os olhos de Márcio mudam. Ele está furioso e me joga no sofá com violência dizendo:
— Então, vai terminar comigo e não vai nem me deixar provar seu corpo, sua vagabunda? Você deu para outro e está rompendo comigo, é isso? Você vai se ver comigo por ter feito isso.
Márcio começa a tirar minha blusa e tento impedi-lo, mas ele é mais forte do que eu. Como ele pode me mostrar esse seu lado só agora? Me xingando e me tratando assim, será esse o seu eu verdadeiro? Agressivo? Agora sei quem ele realmente é e tenho a certeza de que devia ter terminado bem antes.
Sinto seus lábios em meu pescoço e descendo para meus seios. Sua boca sugar meu seio e faço uma careta, só sinto repulsa e penso – “Agora é a hora!”. Eu soco sua cara e o empurro para longe de mim. Ele cai no chão, assustado, e eu pego uma vassoura que estava encostada na parede e digo alto:
— Sai daqui agora, seu filho da mãe! Se não, eu chamo a polícia! Anda logo, seu idiota.
Digo, cuspindo as palavras para ele. Estou com raiva, meu sangue está fervendo. Quem esse idiota acha que é para fazer isso comigo? Eu vou espancar ele se não sair daqui logo.
— O que está fazendo aí parado? Já mandei você ir embora.
Digo, avançando para cima dele, e Márcio sai da minha casa depressa. Eu tento me acalmar, jogo meus cabelos para trás e guardo a vassoura. Ainda bem que ela estava aqui na sala, graças a Deus.
Tranco a casa e tomo outro banho, mas agora bem demorado. Ensaboo bastante meu pescoço e seios. Se eu o encontrar novamente, vou denunciá-lo na hora. Por que Márcio fez isso comigo? Bem que eu queria saber. Ele é louco? É isso? Sinto meu corpo todo tremer, me sento no sofá e tento tirar a cena que presenciei a segundos atras, preciso me acalmar, meu coração bate que chega a doer.