CAPITULO 06
Capítulo 06
“O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé. O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços.” (Machado de Assis)
Algumas horas atrás...
Baran Celikkol
Dimitri havia me passado as informações exatas de onde a maldita estava. Eu tinha que reconhecer que foi um golpe de mestre se esconder em Wyoming, já que o pessoal liderado por Massimo, acreditando que ela não havia ido tão longe, descartou a possibilidade de procurá-la nos estados que ficam a oeste dos EUA.
Quando já estava prestes a deixar o meu escritório, Massimo surgiu em minha frente.
— Eu irei com você.
— Não! Você vai ficar, assim como não quero nenhum soldado comigo — falei taxativo. — A fera que habita dentro de mim, há muito tempo não participa de uma boa caçada, encurralando sua presa e hoje à noite, o predador vai saciar a sua fome.
— Mas e... — insistiu e eu o cortei.
— Assunto encerrado. Você deixou aquela infeliz escapar e não vou hesitar em acabar com a sua vida ou de qualquer outro, se cometerem o mesmo erro duas vezes — sua expressão mostrava que não gostou do que ouviu. — Portanto, para o seu próprio bem, é melhor que eu elimine logo o alvo.
Dito isso, caminhei para fora do ambiente e segui para pista de pouso particular que fica do lado esquerdo da minha mansão, já que a piscina ficava do lado direito. Uns dez minutos depois, já dentro do avião, enquanto fazia os procedimentos de segurança do jatinho, que já estava com os motores ligados, logo este começou a taxiar pela pista. Transcorrido tempo suficiente para ganhar velocidade, saiu do chão e começou a subir sem parar.
Escolhi viajar durante a noite, pois com tantos paparazzis à solta nesse país, era bem capaz de alguma informação sobre minha chegada em Wyoming, vazar; e aquela desgraçada escapar novamente.
Um carro já estava a minha espera assim que cheguei a Wheatland, uma pequena cidade do estado norte-americano, no condado de Platte, que tinha quase quatro mil habitantes.
Não demorou uma hora para chegar ao seu esconderijo. Antes de descer do veículo, olho ao redor, observando com atenção e calculando meu próximo passo. A casa simples, com pouca luminosidade não aparentava ter nenhuma segurança, seria muito fácil, sorrio cínico.
Salto do carro e um vento frio sopra suavemente, com a baixa temperatura, ajeito meu sobretudo e sigo em direção à porta.
Minha memória traz a tona, as caçadas que participei, fazendo meu sangue correr veloz pelo meu sistema, trazendo um calor bem-vindo nesse momento. Todavia, as lembranças desaparecem num estalar de dedos, quando a mulher que estava incrédula e até então tinha os olhos arregalados, com o medo brilhando dentro do par de olhos azulados, tentou escapar e, antes que ela chegasse até o corredor que dava acesso a outro cômodo, alcancei-a e minha mão direita se enroscou em seus longos cabelos que pareciam chamas de fogo, não dando tempo de ela imaginar o que estava por vir, girei-a de frente para mim e toda minha fúria ficou concentrada em seu pescoço, assim como minha mão esquerda.
— Podemos resolver essa situação do modo fácil e acabar logo com isso ou farei dos seus últimos minutos um verdadeiro inferno.
— Vai à merda, seu maldito! — diz num tom raivoso, o que só aumentou meu desejo em arrancar o seu coração, porém, quando seus lábios se movem, fecho uma de minhas mãos em punho e um soco duro e pesado é desferido contra seu rosto e imediatamente o sangue começa a escorrer pelos cantos da sua boca, em seguida, arremesso o seu corpo contra o chão, fazendo um gemido de dor e agonia preencher o ambiente ao meu redor, o que soa como música para os meus ouvidos. Enquanto ela se contorce aos pés, meus olhos vão direto para um porta retrato, onde havia a imagem de um casal e uma garota de beleza estonteante que deve ter por volta de uns quinze anos.
— Pelo visto, você tem um aliado, e será muito bom ter mais pessoas para participar da festa.
Um esboço de um sorriso aparece em seu rosto machucado.
— Você jamais terá o que tanto almeja.
Uma risada diabólica ecoa no ar, então me agacho para ficar perto de seu rosto e olhando em seus olhos, digo.
— Eu sempre tenho o que desejo, nem que eu tenha que conseguir da pior maneira.
— Achou mesmo, seu Devil, que eu seria tão idiota — passa as costas da mão no queixo para limpar o sangue que escorre. Afoita, continua. — A uma altura dessas, minha amiga Lisa já entregou às pessoas certas, as informações que o meu pai, hesitou em fazê-lo, e acabou tendo sua vida interrompida pelos seus homens.
O ódio inflama em minhas veias, minha mandíbula começa a se contrair, levanto-me e dou-lhes as costas, volto a ficar de frente ao ser desprezível em minha frente e um chute é dado em suas costelas, fazendo-a ir parar próximo da mesa. Quando eu estava prestes a avançar em sua direção, todos os meus sentidos ficam em alerta, lanço meu olhar em direção à porta quando ouço uma voz suave e uma criança surgir em minha frente.
— Quelzinha! — a menina vestida com um pijama de urso e limpando os olhos, ao focar em mim, diz. — Moço bonito? — faz uma pausa limpando os olhos novamente com as pequenas mãos. Poucas coisas me deixam sem reação e essa é uma delas, estou paralisado, olhando para aquele ser com voz de anjo. — Você veio conhecer a Mel?
Quando ela retirou as pequenas mãos do rosto, me dando a visão perfeita dos olhos num tom azul que nunca tinha visto antes e que pareciam duas safiras gigantes, todo o meu corpo se retesou. Eu tentei me mexer, mas era como se os meus membros inferiores tivessem grudados ao chão abaixo deles, a menina embora tão pequena, emana uma luz que faz com que algo grite dentro mim. O brilho dos seus olhos graúdos é intenso e toda aquela luz estava causando um desconforto que sentia como se uma lâmina afiada tivesse rasgando-me por dentro.
Meu corpo estremeceu, suspirei pesadamente e assumi o controle dele quando o impacto contra a minha pele fez meus demônios se descontrolarem ainda mais. A criança começou a gritar ao ver o sangue escorrendo da minha barriga e uma fúria incontrolável pairou sobre mim, enquanto a miserável mantinha um sorriso de satisfação, segurando uma pistola que tinha um silenciador. A maldita havia acabado de acordar não só os monstros que habitam no meu interior, mas também havia despertado algo tenebroso, de natureza sangrenta que clama por sangue e antes que ela puxasse novamente o gatilho, um próximo disparo é feito, mas desta vez por mim, acertando sua mão. E, feito um tigre faminto, avanço de encontro ao seu corpo, jogando-a de encontro ao piso novamente.
— Eu posso tornar isso menos doloroso.
— Você acha que sou idiota? — ela retruca de imediato. — Desde que entrou aqui, eu soube que se não conseguisse escapar, o meu destino seria a morte, não importa se eu entregue ou não o que você está procurando, eu não sairei viva. Então vai para inferno, seu maldito — grita aos berros, assustando a menina, que estava em choque, porém, começa a chorar.
— Garotinha! — digo, por entre o choro, ela mantém sua atenção em mim. — Vá até o corredor, fique olhando para a parede e conte vários carneirinhos ou o lobo mau vai te pegar.
— Você vai depois salvar a Mel? — para minha total surpresa, ela pergunta limpando os olhos.
Fiz um gesto com a cabeça e a menina de imediato me obedeceu e saiu correndo. Novamente meu olhar buscou o rosto da fujona.
— Você é um desgraçado — murmura em meio à dor.
— Você se acha muito esperta, assim com o maldito traidor que tinha por pai. Se ainda estava nesse lugar, é porque não conseguiu seu verdadeiro propósito ou caso contrário você já havia dado um jeito de desaparecer. Agora, maldita, você já não me é mais útil, pois sei exatamente como conseguir o que me pertence.
— Ah, é... — sua voz falha. — E como vai fazer isso?
— Isso você nunca vai saber — minha voz sai gélida, como navalhas afiadas.
Puxo a adaga e levanto mão.
— Te encontro nas profundezas do inferno, sua infeliz.
— Nãooooooooo...
O aroma ferroso preencheu o ar, invadindo minhas narinas e um calor alucinante me satisfazia por dentro.
De uma forma ou de outra, eu sempre cobro minhas dívidas.